Prólogo

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Ano 2000.

Luísa

Primeiro dia de férias e eu nem acredito que finalmente poderei descansar daquela rotina puxada da faculdade. Nunca pensei que cursar medicina exigisse tanto, mas não posso reclamar. Estou em busca do que realmente quero para mim: ser médica assim como meu pai e a Helô. Queria que a mamãe estivesse aqui para ver isso acontecer. Ela ficaria orgulhosa vendo sua filhinha caçula exercer a profissão, vestida num jaleco branco. A lembrança do seu rosto fica cada dia mais distante. Sete anos sem minha mãe, mas ainda sinto uma angústia massacrante quando me dou conta de que nunca mais a verei. Todos os dias, alimento-me um pouco da saudade que sinto dela, tentando me tornar uma mulher admirável assim como ela foi.

Ainda sonolenta, levanto da cama e abro as cortinas, permitindo a entrada dos raios solares. Está uma linda manhã lá fora. Admiro pela janela um pouco do nosso magnífico jardim, que é impecavelmente cuidado pelo Seu Chico, nosso jardineiro. Após cumprimentar a natureza, sigo para o banheiro. Preciso de um banho frio para despertar de vez. Papai não gosta que eu me atrase para o café. Depois que mamãe morreu, ele se apegou ainda mais a mim.

Doutor Otávio é um homem muito rígido, mas também sabe ser um pai carinhoso. Quando não está na rotina turbulenta do seu hospital, prefere ficar em casa me fazendo companhia. Juntos fazemos coisas simples, como jogar xadrez, assistir a filmes ou simplesmente ficar tardes e mais tardes à beira da piscina lendo e jogando conversa fora. Formamos uma dupla e tanto.

Às vezes, percebo um ciúme bobo em Heloísa, mas logo o vejo desaparecer. Minha irmã sabe o quão é importante para nós dois. Helô é uma excelente neurocirurgiã, e é diretora do hospital da nossa família. Papai e eu temos muito orgulho da mulher em que ela se transformou. É uma ótima profissional, mãe e esposa dedicada.

Helô só não consegue ser muito boa dona de casa. Ela se embanana toda quando o assunto é a rotina doméstica. Adriano, meu cunhado, se diverte bastante com isso. Mas quando algo envolve Letícia, minha sobrinha de oito anos, a história é outra. Nunca vi uma mãe tão responsável e amorosa. Heloísa é uma mulher muito feliz. Aliás, todos nós formamos uma base sólida em nossa família.

Depois de feita a minha higiene, desço para o café. Visto um vestidinho básico, pois não penso em sair de casa hoje pela manhã.

– Bom dia, papai!

– Bom dia, filhota! – Sorri ao me cumprimentar. – O que minha ruivinha linda pretende fazer no seu primeiro dia de férias?

– Ficar de bobeira. Estou tão cansada da minha rotina que vou aproveitar para dormir muito. – Sorrio preguiçosa.

– Não vá perder seus dias livres presa nesta casa, Luísa. – Arqueia a sobrancelha, desconfiado que seja isso mesmo que eu vá fazer.

– Claro que não. Pretendo fazer isso por dois ou três dias no máximo. – Pisco divertida, disfarçando minha vontade de me enfiar na cama e ler livros e mais livros durantes semanas a fio. – E, além disso, tenho que ir à academia mais tarde. Então, não tem nem como eu conseguir me enfurnar em casa.

– Assim espero. – Fita-me de soslaio. – Que tal um cineminha hoje à noite?

– Já sei. Na última sessão! – Provoco me referindo ao horário que ele sai do hospital na maioria das vezes. Meu pai trabalha demais e está cada dia mais ausente.

– Oh, não reclame! Graças ao compulsivo aqui que você leva uma vida de princesa.

– Não estou reclamando, papai, mas confesso que Luísa. – Arqueia a sobrancelha, desconfiado que seja isso mesmo que eu vá fazer.

– Claro que não. Pretendo fazer isso por dois ou três dias no máximo. – Pisco divertida, disfarçando minha vontade de me enfiar na cama e ler livros e mais livros durantes semanas a fio. – E, além disso, tenho que ir à academia mais tarde. Então, não tem nem como eu conseguir me enfurnar em casa.

– Assim espero. – Fita-me de soslaio. – Que tal um cineminha hoje à noite?

– Já sei. Na última sessão! – Provoco me referindo ao horário que ele sai do hospital na maioria das vezes. Meu pai trabalha demais e está cada dia mais ausente.

– Oh, não reclame! Graças ao compulsivo aqui que você leva uma vida de princesa.

– Não estou reclamando, papai, mas confesso que sinto sua falta – digo ao fitá-lo com carinho.

Depois que doutor Otávio sai para o trabalho, volto para o meu quarto, fecho as cortinas e caio num sono calmo e profundo. Quando acordo, já passa do meio dia e meu estômago ronca. Vou até a cozinha a fim de saber o que temos para o almoço. Hoje somos somente eu e os empregados. Na verdade, na maioria das vezes eles almoçam sozinhos, já que meu pai está sempre no hospital e eu na faculdade.

– Jane? – Procuro a cozinheira ao adentrar na cozinha.

– Sim? – Sai de dentro da dispensa. – Ah! É você, Lu! – Sorri carinhosamente. Jane trabalha para a minha família há séculos e tenho um carinho enorme por ela.

– Estou morrendo de fome! – digo fazendo careta e apontando para a minha barriga.

– Eu sei. Você come demais, menina! Não sei como consegue se manter magra.

– Eu sempre compenso na esteira.

– Fiz salmão grelhado coberto por molho de alcaparras, acompanhado por um delicioso arroz de brócolis. O que acha? – pergunta, esboçando um sorriso torto, já sabendo minha resposta.

– Perfeito!

– Vou pôr a mesa para você.

– Não, não precisa. Eu como aqui na cozinha mesmo.

– Tem certeza?

– Sim, claro. Você sabe que não tenho essas frescuras. – Dou de ombros.

Enquanto almoço, Jane limpa a cozinha. De vez em quando, chega algum empregado para fazer ou pegar algo. Até que, de repente, entra aquele rapaz esquisito; o limpador de piscinas.

Não gosto do jeito como ele me olha. Até que o coitado tenta disfarçar, mas sei que presta mais atenção em mim do que deveria.

– Boa tarde! – nos cumprimenta, encarando algum ponto invisível entre mim e Jane.

– Boa! – Só Jane responde; eu até que queria, mas estou com um pedaço enorme de peixe na boca.

– Onde está Dona Clarissa? – pergunta pela governanta, desviando seu olhar do meu. Aproveito e faço o mesmo.

– Está no andar de cima – Jane responde delicadamente.

– Bom, é que hoje é o dia do pagamento.

– Ah, sim! Vou chamá-la. Só um segundo. – Sai apressada, enxugando as mãos em seu avental.

Sei que é bobagem, mas não gosto de ficar a sós com esse homem. Sinto até um arrepio na espinha, por isso baixo a cabeça quase enfiando meu rosto dentro do prato. Ainda bem que Clarissa logo aparece e o paga.

- Obrigado e com licença! – agradece antes de desaparecer.

Paixão em CativeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora