Capítulo 2

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Luísa

Passo a tarde de bobeira e confesso que estou adorando esse tédio. Nunca pensei que ficar sem fazer nada me causasse tanto prazer. Pelo celular, vejo alguns filmes que estão em cartaz para já ir pensando qual escolher. Sou cinéfila e fico  pensando qual escolher. Sou cinéfila e fico totalme nte indecisa no balcão do cinema, por isso sempre dou uma olhadinha antes.

Depois de decidir, ligo para o doutor Otávio confirmando o horário, e combinamos de nos encontrar no shopping. Arrumo minha mochila para levar à academia, e nela ponho meus sapatos de dança e a roupa que irei usar à noite, pois, pelo visto, não terei tempo de voltar para casa antes do filme.

Tomo uma ducha quente e visto uma roupa de ginástica. Top pink, calça legging preta e tênis também pink. Amarro meu enorme cabelo cor de fogo num rabo de cavalo e desço as escadas.

A hora da malhação para mim é sagrada. Não perco por nada minha aula de dança. Aquele professor é muito gato e me olha de um jeito... Torço todos os dias para que tente uma aproximação maior, mas parece que ele é tão tímido quanto eu.

Chego ao jardim e vejo Geraldo, o motorista, já à minha espera. Como vou encontrar meu pai no shopping, aproveito e pego uma carona com ele de volta para casa. Assim, não preciso dirigir nesse trânsito caótico de São Paulo.

– Boa tarde, Srta. Luísa – me cumprimenta ao abrir a porta do carro para eu entrar. Uma Mercedes-Benz prata, novinha em folha.

– Boa tarde, Sr. Geraldo – brinco, procurando meu celular dentro da bolsa. Quero ouvir umas músicas novas que salvei no aparelho.

Até que o trajeto para a academia foi rápido. Por isso, aproveitarei o tempo extra para correr na esteira.

– Por favor, Geraldo, esteja aqui daqui a duas horas, sim? Não quero me atrasar para o encontro com meu pai – peço gentilmente.

– Claro, Srta. Luísa. Estarei aqui na hora marcada.

Viro as costas e sigo rumo à minha terapia diária. Adoro praticar exercícios, principalmente dançar. Fiz balé até três anos atrás, depois decidi praticar dança de salão, por isso duas vezes por semana fico na academia até um pouco mais tarde. Sinto um prazer academia até um pouco mais tarde. Sinto um prazer incrível quando vejo meu corpo deslizar pelo tablado.

Retiro os fones de ouvido, guardo todos os meus pertences no armário e sigo para o alongamento. 

Erick

– Tá, tá, tá... Já sei, caralho! Não precisa me explicar outra vez. Vou ficar entocado no mato até vocês chegarem – falo com Thiago pelo telefone já no local combinado. Um pequeno sítio localizado a trezentos quilômetros da capital. O lugar estava abandonado e é raro alguém passar por aqui. O local é perfeito!

Entro no casebre no meio do nada e constato que está tudo ok. O cativeiro da patricinha está pronto. Uma casa com dois cômodos, além de um banheiro, é mais do que o suficiente para hospedar essa tal Luísa. Moro com mais três pessoas num lugar um pouco maior que esse e agradeço todos os dias por ter um lar.

Minha função será vigiá-la durante a maior parte do tempo. Duas vezes por semana, um dos caras vem me substituir para que eu possa descansar. Para a minha tia e Yuri, disse que arrumei um emprego de vigia em uma pequena fábrica e, por isso, não voltarei para casa todos os dias. Thiago vai continuar trabalhando na empresa de limpeza de piscinas para não levantar suspeitas, e, além disso, facilita saber o que acontece na casa do ricaço.

O dono dessa empresa também está envolvido no esquema; já "contratou" o meu irmão para isso. É ele quem está dando todo o suporte financeiro para a nossa operação. De outra forma, não teríamos como manter essa garota presa por tempo indeterminado.

É tudo bem precário por aqui. No casebre sequer tem energia elétrica. Tudo o que vamos ter é um colchão velho encostado na parede, onde Luísa permanecerá por todo tempo; e perto dele adaptamos uma espécie de poste onde a amarraremos. No outro cômodo colocamos um fogão velho e alguns utensílios domésticos para que eu possa cozinhar para a madame. Somente o básico. Os pratos e canecos são de alumínio, e os talheres são de plástico. Tudo para essa moça não criar as próprias armas.

Para mim, trouxe uma rede. Espero que essas paredes velhas aguentem.

No banheiro tem apenas um balde grande cheio com água, que vai servir para banhos e descargas, já que também não teremos água encanada. Estou começando a achar que mesmo morando num bairro muito simples, vivo num paraíso.

Trouxe também um radinho a pilhas, afinal não tem quem aguente ficar o tempo inteiro isolado da civilização. Tudo isso foi meticulosamente pensado para mexer com o psicológico da moça. Quanto mais frágil ela ficar, mais fácil obteremos sucesso em nosso plano. Essa garota sempre foi criada no mais absoluto luxo, e sobreviver com essa precariedade toda pode levá-la à loucura.

Conheço-a por foto. É uma ruiva natural, com belos olhos azuis. E parece ser tão frágil, tipo aquelas bonequinhas de porcelana. A ordem é para não machucá-la. Que meus parceiros não saibam, mas não tinha como ser diferente. Eu jamais bateria numa mulher. Bom, acho que pelo menos Thiago já deve suspeitar disso.

Claro que serei firme o suficiente para que ela saiba quem está mandando na situação. No cativeiro apenas o nome Luísa poderá ser dito. Nenhum dos sequestradores deverá chamar o outro pelo nome verdadeiro e nem mostrar o rosto. No meu caso também terei que esconder algumas tatuagens que tenho pelo corpo, portanto nada de blusas de manga curta. Thiago não virá em momento algum, já que ela o conhece. Seria arriscar demais.

Tomara que tudo dê certo e isso acabe logo. Só pratiquei pequenos furtos até hoje, nada comparado ao que estamos fazendo agora. Se formos pegos estamos fodidos, mas eu prefiro não pensar nisso. Quero mais é imaginar que daqui a alguns meses estarei em uma nova vida e esquecerei para sempre o que acontecerá aqui.

Assim como o combinado, me entoco no mato. Estou mais parecendo um morcego com essa roupa preta. Retiro do bolso uma meia, também de cor negra, que usarei para cobrir o rosto. Somente meus olhos ficarão de fora. Confiro se a pistola que me entregaram está carregada e espero a hora de entrar em ação.

Paixão em CativeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora