Lago, Floresta e Culpa: Combinação Perfeita - Parte Dois

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Ele era humano.

Namoramos por um ano antes que ele me pedisse em casamento. Foi um alvoroço em casa, porque minha mãe queria que eu tivesse uma família. Depois de Laura, tudo o que ela queria era que eu fosse mãe outra vez e ela sabia que eu não seria se não me casasse com alguém. Por pressão e por realmente gostar da companhia dele, acabei aceitando. Eu estava noiva.

— Bom dia. — recebi um beijo no pescoço quando terminei de me espreguiçar na cama. Ele tinha uma voz grave, mas doce. Combinada com o fato de ter acabado de acordar, me fez arrepiar.

— Bom dia. — respondi virando para ele e recebendo um beijo demorado. Eu gostava de estar com o Chris, ele foi meu suporte quando a doença da minha mãe veio à tona. Era um grande amigo e acabou tornando-se algo mais.

— Feliz aniversário — falou enquanto trilhava um caminho de beijos pelo meu pescoço. — Onde vamos comemorar?

— Eu estou ficando velha, não há nada o que se comemorar — respondi fechando os olhos, apreciando o carinho e entrelaçando os meus dedos nos cabelos dele.

— É a idosa mais linda que eu conheço — ele parou de me beijar e me encarou, com os olhos incrivelmente azuis. Fiz uma cara de indignação que pareceu diverti-lo porque ele começou a rir. O empurrei para o lado e subi em cima dele. Estávamos os dois completamente nus.

— Me chama de idosa outra vez — segurei os braços de Chris, para que não se movesse, mas ela era mais forte e conseguiu me jogar na cama outra vez.

— Idosa — ele respondeu bem perto de meu rosto. Adorava me provocar.

— Sabe uma coisa que uma idosa não faz? — sussurrei em seu ouvido e ele sorriu.

— O que? — me desafiou a concluir. Abri a boca para falar, mas antes que alguma palavra fosse pronunciada, o bip dele tocou.

— Tem horas que eu odeio esse trabalho — reclamou saindo de cima de mim e sentando na beirada da cama, pegando o telefone celular e discando o número do hospital. Depois de uma conversa rápida, ele desligou. — Houve um acidente na marginal e eles querem que eu vá. Tem uma cirurgia para fazer.

— E Kevin? — me sentei na cama, me enrolando com o cobertor.

— Está de férias. — Christopher olhou para mim e fez uma cara triste. — Sou o único neurocirurgião disponível num raio de quinhentos quilômetros.

— Então vai salvar essa vida — sorri e ele me deu um beijo.

— O que eu vou fazer com a minha idosa?

— Mais tarde a gente sai para jantar. — Assim que eu me calei, o meu celular avisou que tinha uma nova mensagem. Olhei para Chris que ergueu uma sobrancelha. Peguei o aparelho. — Pontos para mim. Uma ponte de safena para fazer. Parece que vamos juntos para o hospital.

— No seu carro ou no meu? — perguntou.

— Cada um no seu. Pode ser que eu demore na minha cirurgia, ou você demore na sua. É melhor cada um ter um modo de voltar para casa — respondi ficando em pé na cama. Christopher assentiu e me deu um beijo. Nos arrumamos rapidamente e corremos para lá. Comemos alguma coisa no caminho e cada um foi para as suas obrigações. A cirurgia de ponte de safena durou doze horas e eu tive êxito nela. Havia me tornado uma médica conceituada no hospital e mesmo que tivessem vários cirurgiões cardíacos, eu era a primeira opção. Passei na ala neurológica e Chris ainda estava no centro cirúrgico. Eu poderia entrar na sala, mas não entrei. Ao invés disso, mandei uma mensagem para ele dizendo que eu iria para casa e que o esperava, se desse tempo, para que a gente fosse jantar. Era pouco mais das seis da noite quando eu deixei o hospital.

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