|Capítulo 6|

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30 de Abril de 1945

Uma enfermeira vem ao meu encontro após as crises insanas de gritos aterrorizantes, que saiam rasgando a minha garganta com fúria pelo o que me aconteceu, durante a noite. Ela gentilmente me trás uma bebida forte, que foi queimando a minha garganta depois de engolir, meu corpo repulsa a bebida, mas eu levo a mão na boca para segurar. Não faço ideia do que era aquilo, mas era horrível. Tudo isso pela insistência do homem ao meu lado, que fez a enfermeira ir pegar para mim. 

-O que é isso? -faço uma careta esquisita pelo gosto e vejo-o achar graça, contudo não emite nenhum som ou um meio sorriso no rosto, mas pelos seus olhos eu via a diversão por me dar sabe-se lá o que.

-Vodka, -arregalo os olhos e continuo as caretas pelo gosto horrível em minha boca. Uma certa quentura sobe em meu corpo esquentando-me e sinto o álcool subir, me deixando meio tonta; eu nunca fui de beber, logo fico mais rapidamente afetada pela bebida. Ele vendo o meu estado acrescenta quase falando com diversão: -Isso ajudará nas dores causadas pelos seus surtos durante a noite toda... Imagino que esteja com dor.

-Isso é horrível, -arrumo o meu corpo para sentar-me e ficar frente a frente com ele, como fazia comigo -como tomam isso?

Sua expressão séria se transforma em uma de incredulidade, olhando-me vendo que eu realmente falava sério aquilo.

-O que? Você não gostou? -solta uma extensa gargalhada chacoalhando o corpo e levando os ombros, antes tensos, a se soltarem. -Vocês, alemães, são muito fracos. Essa é uma das melhores vodkas e achei até fraca.

Não consigo segurar o riso e gargalho junto com ele, preenchendo o lugar, antes fúnebre com gemidos constantes de dor, para alegria, e as pessoas a nossa volta que escutam aquilo também riem junto, achando graça. 

Não vejo como uma ofensa nem coisa do gênero, sendo que a bebida era demasiadamente forte, comparado as nossas cervejas. Controlo a risada pondo a mão em meu abdômen e sorrindo, fazia tempo que eu não ria daquela maneira, tão leve, feliz... Livre. Sem preocupações. A última vez foi com a minha família toda reunida antes da guerra começar.

Aqueles olhos azuis me observavam cheios de graça e diversão, não faço ideia do que possa estar passando por sua cabeça, mas não era nada do que eu imaginava ser. Ele não era como eu supunha ser... Eu nunca estive tão errada a respeito de alguém. 

-Não está querendo me embebedar, não é? -provoco-o fazendo abre um ligeiro sorriso em minha direção. 

-Não deixa escapar nada -ele ri descontraidamente assim como eu, e eu não deixo de reparar que nosso encontro inesperado em meio essa guerra causou um efeito colateral irreparável: estávamos aos poucos voltando a ser como éramos. Pelo meu ver, eu estou diferente, graças a ele, e não duvido de o oposto não seja verídico, uma vez que Rustan nem chegava a sorrir no dia que eu o conheci. 

-Estou ainda me decidindo se devo confiar em você -fico mais séria, mesmo sendo uma brincadeira, apenas para criar o clima certeiro entre nós. 

-Ótimo, porque também estou me decidindo se confio em um alemão -ele lança um olhar diferenciado para mim e me faz erguer uma sobrancelha analisando-o, igualmente como ele fazia comigo.

Levo a mão pela tontura em minha cabeça e volto a fazer caretas por nunca me imaginar em uma situação como essa, já Rustan segura o sorriso em seu rosto por me ver tão fora de sua normalidade. 

-Vocês sempre tomam isso? 

-Sempre, chá e vodka não faltam para um verdadeiro russo -responde todo orgulhoso.

-Vocês, russos, são loucos. Como podem beber algo tão forte?

-Minha querida, a natureza russa é forte! -responde Rustan quase em um tom arrogante, mas eu sabia que era brincadeira, porque eu não deixava de notar o pequeno sorriso brando que ele tentava esconder em seu rosto, enquanto falava comigo.

Amor a Toda ProvaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt