|Capítulo 39|

36 6 0
                                    

Rustan Abromowitz

Bato novamente com formalidade na porta, esperando pelo homem que estava dentro me atender, porém, ele não parecia ter pressa alguma de fazê-lo e me fazia aguardar odiosamente. Se eu pudesse ir embora, eu o faria, mas os homens dele ainda estava atrás de mim, como se soubesse dos meus planos, caso demorasse para ser atendido. Suspiro pesadamente e me apoio na parede, no entanto, logo volto a minha postura, pois era justamente isso que ele desejava arrancar de mim: minha virtude e paciência e eu não daria essa satisfação a ele, o gosto de sua vitória.

Mais uma longa hora se passa e aquele paciência de antes se esvai de uma só vez, porém, eu não tomo nenhuma atitude imprudente — como derrubar a porta com um chute —, eu só me viro e me retiro do local. Contudo, em minha direção caminhava a passos lentos e cheios de poder o Coronel Pyotr Pushkin. Ele fica surpreso ao me eu, e eu, ainda mais.

Por um instante, nós nos entreolhamos pasmos e franzimos o cenho com a estranheza do momento, eu coço o pescoço e subo para a orelha, passando a mão pela cabeça, sem graça por ele estar ali. O coronel sabia das desentendidas que eu tenha com o comissário político e era vergonhoso ele me flagrar naquela cena, na qual eu estava retornando da sala, por não ser atendido - ou simplesmente ignorado. 

Ele, por sua vez, fica a poucos passos de mim em sua postura excepcional me impulsionando a arrumar a minha aparência também. Eu o saúdo e ele me libera da posição, vindo para mais perto, até conseguir, de um modo paterno, colocar a mão em meu ombro em uma forma de inspeção, para saber se eu estava bem, pois faziam alguns dias que eu não conversava com ele, ainda mais depois do episódio da ordem nas entrelinhas para terminar o meu envolvimento com a alemã antes que fosse tarde demais e se tornasse uma punição mais severa.

- Rustan, o que faz aqui? - ele me questiona retirando a mão de meu ombro e voltando a postura séria de um coronel. Eu ainda falava com ele, naquele momento, como um pai, mas eu compreendia que nem tudo eu deveria lhe contar, pois poderia se voltar contra mim as minhas palavras, muito embora, grande parte dos meus feitos, os males do passado, ele desconsiderou e alegou de cansaço mental e falta de lucidez no espírito. Ou seja, eu nunca fui severamente punido como os outros soldados por causa do laço afetivo que eu tinha para com ele, porém, eu não poderia também abusar de nossa amizade sólida, porque eu conhecia os limites e, esse caso com Leah, havia ultrapassado todos os que ele abriu para mim.

- Eu lhe pergunto o mesmo - respondo apontando a cabeça em direção a porta -, já que o senhor também não é fã desses homens, que se dizem políticos, mas só servem para, de fato, encher a pança e as paciências.

O coronel ri de minha audácia e balança a cabeça em concordância silenciosa, porém, eu sabia que ele não iria afirmar aquilo, pois não era da índole dele causar conflitos desnecessários e sem algum interesse por trás. Ou seja, ter uma disputa contra Borodin era uma perda de tempo em certo ponto, porque os dois atuavam em partes diferentes no exército, um dentro e outro fora; Pyotr é esperto demais para se deixar levar por provocações frívolas e que não o levariam a lugar algum.

- Ele me chamou para conversar em particular, eu certamente estranhei esse pedido, pois não temos nenhum assunto em comum - e então ele passa a mão pelo queixo e me olha duramente com aquele ar de "Você fez besteira, não é?" -, a não ser você. Não me diga que eu estou aqui por causa daquela alemã, Rustan...

- Pois então eu não digo, porque eu também não sei o porquê fui chamado - falo voltando a andar com ele para perto da porta, porque a qualquer momento ela iria se abrir, uma vez que o coronel estava aqui e eles conheciam a fama da paciência dele. - Se, hipoteticamente, fosse esse assunto, o senhor ficaria ao meu lado?

Amor a Toda ProvaWhere stories live. Discover now