|Capítulo 11|

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Rustan Abromowitz

03 de maio 1945

Assim que eu recebo alta e sou liberado do hospital militar, eu me vejo em uma bifurcação, o qual meu coração se dividia entre o serviço e a minha paixão. Eu sabia que este dia chegaria, mas não esperava que fosse tão depressa; não queria ter de me separar de Leah, porém era inevitável, o dever me chamava.

Junto de meu amigo, Alexander, que veio até o hospital com o propósito de me levar de volta a unidade, onde estávamos acampados, nós -com muito esforço de minha parte- saímos da fábrica velha, deixando Leah para trás e vendo-a pela última vez. Sinto meu coração doer ao encontrar aqueles olhos brilhantes em minha direção, revelando as lágrias que estavam prestas a cair; minha vontade era de sair correndo e a abraçar, repousando-a em meus braços de modo protetor, beijá-la de forma zelosa e mostrar que aquele não seria o nosso fim, entretanto não havia nada que eu poderia fazer aquele instate para confortá-la.

Pela primeira vez, eu me vejo disposto a abrir mão de minha vida para ficar com uma "estranha", disposto a deixar tudo para trás e criar um novo futuro com ela. Por Leah, eu faço tudo. Saindo com alguns outros soldados já liberados, nós seguimos em frente, saindo do hospital e entramos em um comboio (jeeps, caminhões, tanques) até um pequeno vilarejo a 25 km de Berlim.

As ruas apertadas do pequeno vilarejo estavam agora abarrotadas de caminhões e blindados, além de centenas de soldados do seu regimento. Meus olhos se perdem no mar de pessoas a minha volta, lembrando-me de todo inferno que tive de enfrentar para chegar até aqui, lugar e posição que estou hoje. Não deixo de notar, ao passar com o jeep que me transporta na frente de alguns homens, as reações quase de incredulidade ao verem o veículo, retornando antes do fim da guerra e me verem ali, entre eles novamente.

Não era a tona as expressões em seus rostos, pois deram-me títulos invejáveis sobre o olhar de todos, tornando-me uma figura bastante popular entre eles, fazendo-me ser conhecido e admirado pelos meus feitos, graças ao mito de combatente corajoso e "imortal" criado a minha volta, espalhado a todos os cantos por todas as bocas dos homens. Porém, isso meramente tem sequer um significado, antes tinha minimamente, todavia hoje... Ao meu ver, são apenas posições de destaques para aqueles que almejam por mais poder; eu não sou um desses, nunca, de fato, cheguei sequer a ser um desses.

O leve sacolejar do jeep parando me faz olhar onde estamos, a poucos metros do prédio utilizado como QG. Suspiro profundamente retirando todos os pensamentos contrários, que me fazem querer ir embora daqui de uma vez -apenas um pensamento era necessário para eu cometer tal loucura. Uma pessoa.

Eu desembarco do veículo seriamente, retirando os meus pertences pessoais e minha arma, que sempre ficava aposta comigo para o que eu precisar, a submetralhadora PPSH-41 apelidada de "Nervnyy". Começo a caminhar em direção do quartel genera, colocando a bandoleira da arma envolvida em meus ombros, sentindo novamente o peso da morte sobre minhas mãos.

Era a primeira vez que eu me sentia tão deslocado em um lugar do qual eu era acostumado a estar após anos. Os simples dias que eu fiquei com Leah, afetaram-me bem mais do que eu supunha, enraizando em mim uma nova esperança para a vida, cuja vontade era de me jogar de cabeça nela e esquecer todo o resto.

Começo a andar e passar pelos meus companheiros de companhia, vindo cumprimentando-me e perguntando sobre minha recuperação ou simplesmente prestavam continência em respeito a mim. Respondia a todos com uma expressão neutra, querendo não revelar a minha tristeza e angustia -o olhar fúnebre de quem fora separado da amada sem nem poder contrariar.

Quando eu entro no QG, o Coronel Pyotr Pushkin me recebe com um sembante pacífico, deixando-me confortável enquanto me guiava para a sua sala. Não deixo de manifestar a minha surpresa, deixando-me com uma expressão de impressionado com o tremendo luxo que a sala fora decorada -não apenas pelo vislumbre de tamanha beleza, mas por saber que existia ainda um lugar belo como este intacto em meio a guerra. 

Amor a Toda ProvaWhere stories live. Discover now