Prólogo

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O relógio beirava uma da manhã, a Floresta Nacional de Los Angeles parecia mais assustadora do que nunca, e Marion Sparza não sabia o que fazia o ambiente ficar mais sinistro; se era o fato da sua única fonte de luz ser uma fogueira, ou se era o fato daquela floresta ser conhecida como Floresta das crianças desaparecidas¹.

O local, para realização do acampamento, havia sido escolhido por seu irmão, Marcus Sparza, com o objetivo de explorar as profundezas de suas numerosas árvores, e reunir um grupo de amigos. Marion havia sido praticamente forçada a ir naquela aventura, e também, levar consigo suas amigas; Roberta Sheppard e Inez Hull.

No fim, ela sabia que o único motivo daquilo tudo estar acontecendo era porque Marcus estava afim de Roberta, e foi por isso que ele insistiu tanto para sua irmã mais nova ir, e inclusive, arrastar suas amigas para a confusão. O resultado da insistência era triste, porém,  previsível; Marion estava sem sono, com frio, e sozinha em sua barraca, pois Roberta dormiu com Marcus, e Inez estava nos braços de seu namorado, Cameron, um amigo de Marcus que também estava no acampamento. Seu irmão até tentou fazer com que Marion ficasse com Alex, um outro amigo seu, o mais bonito por sinal, mas a garota havia recusado todas as suas ardilosas investidas, pois sempre achou o rapaz muito intrépido para o seu gosto.

— Hey!  — Pronunciou uma voz masculina ao lado de fora da barraca, Marion logo percebeu que era Alex.

— Já disse que não…

— Não é isso! — Alex protestou. —  Cameron disse que a Inez foi fazer xixi, já faz meia hora, ela ainda não voltou.

— Ela deve ter se perdido. — Marion bocejou, abrindo o zíper de sua barraca, e em seguida, encarou o jovem garoto com cabelos escuros arrepiados e uma postura imponente.

— Você fica linda com sono. — Alex sorriu em sua direção, fazendo com que Marion ficasse vermelha. — Enfim, vamos procurar ela na floresta, você vem?

— Não. Eu vou ficar! — Marion suspirou, ainda com medo de sair de sua barraca.

— Tudo bem. Já voltamos. — Alex afirmou, e prosseguiu em direção a floresta.

Marion não se sentiu bem em deixar a amiga sozinha, mas desde criança sempre teve muito medo de escuro, e sabia que se fosse, iria mais atrapalhar do que ajudar. A fogueira, pelo menos, dava à ela uma sensação de segurança, mesmo que fictícia, pois dentro de seu coração sempre soube que quando um mal lhe persegue, dificilmente algo como uma simples fogueira conseguirá deter esse mal. No fundo, a pobre garota compreendia que seu pai tinha a total razão em dizer, a todo momento, que ela era apenas uma covarde com medo de encarar seus tormentos. Robert Sparza sempre desprezou os esforços de Marion, por mais consideráveis que fossem. Marcus sempre havia sido o filho mais querido, e desde que sua mãe faleceu, há seis anos atrás, quando a garota havia apenas treze anos, tudo regrediu ainda mais.

Algum tempo depois que seus amigos saíram para procurar Inez, a fogueira apagou com o vento forte que circulava ao redor do acampamento. Toda segurança que ela sentia, se fora. Agora sim, Marion sentia-se totalmente sozinha. Desesperada, em meio à aquela situação, decidiu finalmente ir procurar a amiga desaparecida, ou qualquer um de seus cinco amigos para que pudesse se sentir mais acolhida. Pegou a lanterna que havia deixado embaixo do seu travesseiro, e ao ver que não havia ninguém em suas respectivas barracas, decidiu adentrar na temida floresta.

A mata era densa, o chão estreito e cheio de barro. Ela tomava cuidado para não pisar em buracos ou galhos. Mantinha todos seus sentidos atentos para qualquer coisa ao redor, e após longos passos dados, conseguiu ouvir alguém correndo em sua direção, o que fez suas pernas ficarem paralisadas no local, e seu corpo entrar em estado de choque.

A lanterna que estava em suas mãos iluminava tudo à sua frente, e logo Marion viu os cabelos negros de Inez em movimento, com seus cachos bem feitos e volumosos balançando sem parar. Ela estava correndo frenéticamente, com suor escorrendo pela testa e o rosto carregado por uma expressão de pânico. Houve um desequilíbrio de seus pés por um momento, e seu corpo caiu no chão. Marion, com a respiração descompasada, iluminou o rosto da amiga, que estava com um ferimento na bochecha e olhos cheios de lágrimas.

— Marion, me ajuda… Ele está atrás de mim! — Inez gritou, esticando a mão para a amiga.

Marion iluminou a região por onde Inez havia percorrido e pode observar uma pessoa parada, analisando  toda aquela situação, pronta para atacar. Era impossível identificar quem era, pois além de estar com um capuz preto e uma máscara no rosto, suas mãos estavam cobertas por luvas, e rigidamente, seguravam uma faca enorme.

Com as pernas bambas, Marion deparou-se com duas opções naquele momento; ajudar ou fugir. Dentre às duas, optou por fugir. Mal sabia ela as dores que aquela decisão traria ao seu coração mais tarde. E como sua mente iria ficar perturbada, para sempre, com a imagem de sua amiga esticando os braços, buscando por sua salvação.

《•••》

Floresta das crianças desaparecidas¹: A Floresta Nacional de Los Angeles é conhecida como Floresta das crianças desaparecidas após os desaparecimentos misteriosos, e nunca solucionados, de algumas crianças no local.

Em 1954, Brenda Howell, de 11 anos, e Donald Lee Baker, de 13 anos, saíram para um passeio de bicicleta por essa mesma floresta, nunca mais voltaram, e depois de muita procura por eles, encontraram apenas a bicicleta de Brenda e o casaco de Donald.

Em 1957, Tommy Bauman, de oito anos, fazendo uma trilha com familiares, se distanciou do grupo, e nunca mais foi visto.

Em 1960, Bruce Howard Kremen, de seis anos, acampava nessa floresta, e ao fazer uma trilha com outros membros do acampamento, demonstrou indisposição e resolveu voltar para o local aonde estavam as barracas, e também, nunca mais foi encontrado.

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