2 - Garotas Prodígios

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Para algumas pessoas, é o único momento do dia em que não estamos calçados em havaianas coloridas.

Eu gosto da explicação de Jacques para os uniformes. Eles não ligam para o que você está vestindo, se é uma saia ou uma bermuda portanto que esteja vestindo algo. É óbvio que não tem nenhum garoto que usou a saia por um único dia, mas não é muito incomum garotas caminhando de bermudas um pouco acima do joelho. Eu prefiro a saia, de qualquer forma. Azul marinho. É óbvio que seria algo marinho. Tudo aqui é mar, mar e mar.

Rebecca continua com seu pé dando leves batidas no piso enquanto continuo mordendo o sanduíche, sem ter uma justificativa plausível

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Rebecca continua com seu pé dando leves batidas no piso enquanto continuo mordendo o sanduíche, sem ter uma justificativa plausível. A aula nem começou ainda, na verdade. Eu não tive um café da manhã decente então estou faminta. Eu não sei como Rebecca consegue estar bem disposta se ela provavelmente deve ter chegado em Nova Atlântida às seis da manhã. Mas bem, Rebecca é aquele tipo de garota que é gentil e amiga de todo mundo. Ela conversa, se preocupa e dá importância para qualquer coisa que a gente fale. Mas quando a gente sabe que é seu modus operandi, não tem como se sentir muito especial ou próximo dela.

— Eu pensei que um corte de cabelo seria legal — digo limpando a maionese que ficou nos meus lábios com o polegar.

— Você gostou? — pergunta, colocando uma mecha do seu cabelo vermelho para trás.

Seu próximo ato será baseado na minha resposta.

Quando Rebecca decidiu pintar o cabelo de vermelho, acho que isso foi uma resposta ao seu ex-namorado que diria que seu tom de pele, mais escuro que o de Pandora (se posso fazer um comparativo), nunca combinaria com essa cor. Refutou. Mas eu com certeza teria refutado com um chute no nariz dele.

— Mais ou menos.

Ela suspira, se sentando ao meu lado enquanto ajeita a armação redonda no rosto.

— É melhor que não, certo? — Becca diz, dando uma cotovelada fraca no meu braço.

— É. Além do mais, o propósito tá feito.

— Sua mãe sabe? — Becca indaga, curiosa.

Eu nego com a cabeça. Mas meu corte de cabelo não é uma preocupação grave para minha mãe. Ela só vai reclamar que eu deveria ter esperado um pouco e ido em alguém que saiba o que está fazendo — claro que estou relativizando um sermão demorado. E com certeza Dona Helena não está errada.

— Eu acho até bom você ter saído da equipe. Quer dizer, não é o que você quer. — Ela continua e só então eu percebo que não é sobre o cabelo.

Diferente de mim, Becca ainda é uma furiosa. Ela pode usar uniformes legais (mesmo que não use) ou participar dos treinos. E acho que se ela não estivesse em Natal, provavelmente teria participado da foto de piquenique. Nem sei porque ela está me fazendo companhia. Talvez seja porque ela ainda é um anjo sob a terra e a pessoa mais gentil que conheço. E não quero conversar sobre "o que eu quero".

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