40 - Gênesis

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Eu comecei a trabalhar como ajudante na cozinha há menos de dez dias e hoje já é minha primeira folga especial

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Eu comecei a trabalhar como ajudante na cozinha há menos de dez dias e hoje já é minha primeira folga especial. Tão especial que só existe para a ocasião que eu tento me preparar há uns dias enquanto Pandora morre de ansiedade.

O último dia dela em Nova Atlântida.

Ela está finalmente indo embora.

Finalmente é uma palavra demais. Só sei que eu não precisei de nenhum discurso muito grande para pedir que Anastácia me liberasse porque ela sabe muito bem qual era meu sentimento e que eu poderia muito bem se esvair se não conseguisse passar os últimos minutos com Pam antes dela ir. É óbvio que, soando um pouco egoísta, tinha me esquecido de Jacques. E de qualquer outra pessoa que gostava o suficiente de Pandora para tirar um tempinho.

Então meio que passar o tempo inteiro abraçada na Pandora para seu cheiro nunca mais sair de perto de mim não era uma opção. Droga, eu odiava o cheiro dela, mas ia sentir falta. Se as coisas pareciam realmente ir bem, alguma coisa tinha que dificultar para não ser tão fácil. A dificuldade é que Pandora passaria o natal com os pais e não voltaria.

Uma parte muito grande de mim está lidando bem. Ela está sendo compreensível e sabe que estarmos afastadas, sem uma briga envolvida, vai fazer bom para nós duas. Que a distância dessa vez não é tão grande quanto foi no ensino médio quase inteiro. E que o objetivo é seguir sonhos. Mas uma parte minúscula está cogitando que Pandora vá embora e o laço acabe. Que, sei lá. É um sentimento pequeno e não está dominando nada no momento, mas ainda dá um friozinho na barriga.

A gente está indo devagar. Não fazemos menção de nada muito extremo. Nem tivemos outra vez. A gente se beija, um pouco. Nenhuma menção sobre como isso vai funcionar agora, principalmente da sua parte — a minha é óbvia demais.

— Não acredito que estou precisando ir embora para ter uma interação entre nós três pela primeira vez — Pandora diz, sentando ao meu lado na toalha de praia.

Jacques está do outro lado. Com óculos de sol. São dez da manhã. Pandora vai embora às duas. Quatro horas de tempo restante e Pam decidiu passar na praia. Eu retruquei que Recife era um lugar litorâneo, mas ela nem quis saber. Praia e pronto. Sei que ela dormiu os últimos dias na casa de papai e que ela almoça sempre no restaurante — o que me faz perder muito tempo conversando com ela. O trabalho de salva-vidas ela largou há alguns dias.

— Você tem que se comportar, viu? Nenhuma cidade é como Nova Atlântida. Nada de ficar perambulando ou andando por aí com esse violino nas costas. Eu vou tatuar meu número no seu braço pra lembrar que em qualquer emergência é pra ligar o mais rápido possível.

Poderia ser algo que eu digo, mas é Jacques que reclama. Ela fica em silêncio, depois dá uma lição de moral e assim segue a manhã. Eu não consegui dormir. Eu me deitei, senti Pandora abraçar meu corpo na cama de solteiro e fiquei pensando em muita coisa. Fui a primeira a acordar, comecei a escrever um pouco da carta para o meu eu do passado, só pra passar tempo e estou até o momento sem nem um pouco de sono.

A Origem de GênesisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora