Two control rooms

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– Jimin! – O menino ouviu ao longe. Mas não desviou o olhar do animatrônico que estava em cima de si.
O contrário aconteceu, o animatrônico olhou para trás e tirou seu gancho do braço de Jimin, causando mais dor ao garoto. 
Já em pé, Foxy lançou um último olhar a Jimin e saiu andando, apressado, deixando o garotinho sozinho com sua própria dor e medo. 
– Jimin-ssi! – O pequeno Jeon atravessou o corredor contrário ao que o animatrônico foi, correndo em direção a Jimin. – O que aconteceu?!
Jimin não sabia como responder, apenas começou a chorar, o braço estava latejando. 
– Jimin-ssi…? – Jungkook afagou os cabelos do menininho à sua frente, com intenção de acalmá-lo. 
Jimin, como um impulso, se jogou para a frente e o abraçou, soluçando em seu ombro. Jungkook, sem saber mais o que fazer para acalmar o menino, o abraçou de volta.
– Jimin-ah! – Ouviu uma outra voz de repente e abriu os olhos, assustado.
No começo não entendeu o que estava acontecendo e teve de recapitular tudo o que havia ocorrido mentalmente. Ah… O memorial, estou em Paradise, certo? Fomos à Freddy’s? Espere, isso realmente aconteceu? Uh, essa não é minha cama. Oh, é a cama de Taehyung, esta é casa dele.
Olhou para o lugar de onde viera a voz, seu amigo estava parado próximo à porta, com o rosto amassado por ter dormido em uma posição desfavorável e os cabelos bagunçados. Encarava Jimin com sono, esperando que o mesmo se levantasse.
– Nós vamos nos atrasar para a cerimônia, levante-se logo!
Com tanta coisa passando na sua cabeça, parecia irreal que ainda tivesse de se levantar e se arrumar para encarar os pais do seu falecido amigo. 
Assentiu com a cabeça e Taehyung saiu do quarto, dizendo:
– Vou usar o banheiro do corredor, pode tomar banho no banheiro do quarto. 
Jimin olhou para a porta próxima à cama dele e assentiu, mais para si mesmo, se forçando a se levantar e fazer o que tinha que ser feito.
•°•°•°
– Como você acha que vai ser hoje? – Taehyung perguntou repentinamente, quebrando o silêncio que estava dentro do carro. 
Estavam rumando para uma lanchonete próxima à escola onde seria o memorial, era onde iriam encontrar com o resto do grupo, incluindo Mina e Jungkook. E Jimin estava ansioso demais, nem sabia que ficaria tão nervoso para ver Jungkook até o momento em que aquilo se tornou uma possibilidade.
 – Eu realmente não sei – Respondeu com sinceridade, sem tirar os olhos da pista enquanto dirigia. – Mas vai ser como um funeral, não é? Com a diferença de que não vai ter tanto luto quanto teve no enterro… Vai ser mais… Um momento para recordarmos da vida de Hoseok.
Taehyung assentiu, mesmo que já soubesse daquilo, também estava ansioso.
– Eles vão nos chamar, não vão? 
– Provavelmente – Jimin comprimiu os lábios. – E o mais preparado de nós vai falar alguma coisa. Quem você acha que vai ser? Eu odeio falar na frente do público, então voto na Tzuyu. 
– Nah – Taehyung fez um gesto exagerado com a mão. –, a Tzuyu é tímida demais naquela escola, ela não tem muitos amigos lá. 
Jimin olhou de relance para Taehyung, se perguntando se ele não teria tentado uma aproximação com ela ao perceber que a garota não tinha conseguido socializar muito bem com a nova escola. 
– Talvez a Dahyun então. 
– É, talvez… E se eu falar? 
Jimin soltou uma risada que mais se assemelhava a um engasgo.
– Puts, você? E vai dizer o que? “Uh, dur, sim, obrigado”?
– Ei, eu tenho mais de um neurônio funcionando, okay?
– Okay, Taehyung, eu acredito em você – Jimin respondeu, tentando esconder o sarcasmo. 
– Ah, cala a boca – Tae respondeu. 
– Por que você está se ofendendo pelo o que um gnomo de jardim diz?
– Você vai me irritar pelo resto do dia, não é?
– Sim.
Os dois riram, enfim confortáveis com a companhia um do outro. 
Ao chegarem, Jimin não teve trabalho em encontrar uma vaga no estacionamento, já que os únicos carros ali eram o de Dahyun, que Jimin se lembrava bem, e um outro, que devia pertencer a Mina ou Jungkook. 
Os dois entraram na lanchonete e logo foram recebidos por um grande sorriso e um abraço apertado. 
Quando Mina se separou dos garotos, sorriu largo para eles, os chamando para sentar com o resto do pessoal. Mina, quando mais nova sempre foi a mais introvertida do grupo, vê-la tão animada ao recebê-los, e ainda os abraçando foi estranho para os garotos, mas já era de se esperar. Sendo introvertida ou não, ela era sempre a que dava mais afeto ao grupo, como uma grande irmã mais velha, mesmo que fosse uma das mais novas. 
Ao se sentarem, perceberam que Mina não havia ido à Paradise sozinha, seu irmão estava com ela também. 
Jimin arqueou as sobrancelhas ao vê-lo já crescido, tinha uma vaga lembrança de ver o bebê quando ele ainda tinha alguns poucos meses, naquele momento devia ter uns treze ou doze anos. Tinha a pele negra e cabelos encaracolados, e olhava a todos de forma tímida, já que não conhecia ninguém, ou pelo menos não se lembrava. Lukas na verdade era meio irmão da Mina, mas ela não dizia isso, por esse motivo, as pessoas costumavam não acreditar no parentesco deles, já que ambos eram bem diferentes aos olhos de desconhecidos. Mas os amigos logo viram as semelhanças, primeiro que tinham o mesmo formato de nariz, e os olhos do menino eram um pouco puxados, por sua mãe, que também era a mãe de Mina, ser japonesa. 
Ele cochichou algo no ouvido da irmã e ela revirou os olhos.
– Você poderia ter me deixado em casa então – Disse o garoto, com desdém na voz. 
– É claro que eu não te deixaria lá sozinho.
– Então agora me ature – O menino afundou no banco a sua irmã suspirou.
Tirou se sua bolsa uma PSP e entregou ao garoto, que se levantou da mesa e foi para uma outra desocupada atrás do grupo, para que pudesse jogar sem ser incluído na conversa. 
– Por que você trouxe ele? – Taehyung perguntou, sem disfarçar seu desapontamento. 
– Problemas em casa – Murmurou e logo ficou claro a todos que a mãe e o padrasto de Mina não deveriam estar nos seus melhores dias. 
– Vão querer pedir algo? – Uma garçonete apareceu para atendê-los e cada um fez seu pedido.
– E onde está o Jungkook? –Mina perguntou animadamente, depois de a garçonete se distanciar.
– O pirralho deve ter trancado a chave dentro do carro – Taehyung disse, já irritado por aquele assunto. Era para Jungkook tê-los ido ver no dia anterior, mas não foi o que fez.
– Ou resolveu voltar para casa – Tzuyu deu de ombros.
– A cidade em que ele mora não é próxima daqui – Dahyun falou. – Ele não regressaria tudo aquilo depois de já estar aqui, não é? 
– Quem sabe? – Jimin suspirou. – Jungkook não é conhecido por fazer boas escolhas.
– Mas seria muita babaca da parte dele fazer isso – Mina disse, parecendo um pouco chateada. –, afinal, é um dia dedicado para o Hoseok, não é para ficarmos relembrando momentos ruins do passado, mas aqueles felizes em que estivemos todos juntos.
A mesa ficou em silêncio por um instante, todos pensando na mesma coisa. 
Na cabeça de Jimin, várias memórias entravam em conflito e ele não conseguia mais saber qual era a que estava procurando, lembrou-se apenas da sensação que sentiu quando descobriu que Jungkook era o culpado, não só por seu trauma, mas também pelo desaparecimento de Hoseok. 
Sentiu raiva do garoto e quis socá-lo, mesmo que ele não estivesse ali. Mas então tentou se acalmar, no fundo ele sabia que a culpa não era de Jungkook, foi apenas uma brincadeira que saiu do seu controle, nenhum deles sabia de tudo o que estava acontecendo, e em parte era porque os adultos continuavam insistindo em achar que eram jovens demais para entender os problemas pelos quais a cidade passava. Mas mesmo assim sua raiva em relação a Jungkook não acabou, apenas diminuiu um pouco ao perceber que estava sendo irriacional.
– Morre! – A voz de Lukas, atrás da cadeira de Jimin o tirou daquele devaneio, e quando olhou para os outros jovens, percebeu que não tinha sido só ele. 
– Lukas! – Mina o repreendeu. – Se não aprender a jogar em silêncio, vou tirar o jogo da sua mão.
Lukas imitou o que a irmã havia dito afinando a voz, para irritá-la. A garota fechou os olhos e respirou fundo, soltando um “haja paciência”.
A comida chegou e todos comeram em silêncio, ansiosos para o que viria a seguir. Não sabiam como exatamente seria o memorial, já que nunca tinham ido a um.
Ouviram a porta da lanchonete se abrir, mas não se importaram, afinal, clientes entravam e saiam por ali em diversos momentos. 
– Oi pessoal. 
Todos os presentes na mesa olharam para Jungkook como se ele fosse um fantasma que pudesse desaparecer a qualquer momento se não continuassem olhando. 
– Jungoo – Mina disse, sorrindo de leve para o garoto. 
Jungkook sorriu de volta, parecendo genuinamente feliz por ela se lembrar do seu apelido, ou talvez apenas por alguém ter respondido ao garoto. 
– Posso me sentar? 
– Claro – Taehyung respondeu, dando espaço para Jungkook sentar.
Jimin, ficou entre a parede e Taehyung, sem ao menos olhar para Jungkook, terminando de comer seu café da manhã. 
– Vai comer algo? – Dahyun perguntou. – Eu posso ir chamar a garçonete.
– Oh, não, obrigado – O garoto respondeu. – Eu estava nervoso, então comi antes de vir para cá. Na verdade eu pretendia ir direto para a escola, mas preferi vir ver como vocês estavam – Jimin notou um pouco de timidez em sua voz, então se virou um pouco para ver  garoto, e se surpreendeu com a aparência dele.
Além de estar bem diferente do que Jimin se lembrava, passava um ar de alguém maduro, suas feições eram bem detalhadas e ele parecia alegre. Seu cabelo tinha a mesma coloração de antes: um castanho bem escuro, mas dessa vez tinha a diferença de que algumas pontas estavam tingidas de um castanho mais claro, quase loiro. Assim como todos reunidos ali, ele estava bem arrumado para a cerimônia, usando um suéter cinza “coelho branco” e um sobretudo marrom, com aparência cara. Estava um pouco semelhante a Jimin, a diferença era que seu suéter era preto, e seu sobretudo em um tom claro de bege. 
De repente Jungkook, sentindo os olhos de Jimin sobre si, se virou para Jimin e seus olhos se encontraram. Jimin se virou rápido, piscando repetidas vezes. Jungkook sustentou o olhar por mais um instante então se virou novamente para a frente. 
– Que bom que resolveu vir, Jungkook – Taehyung falou de repente, como forma de amenizar um pouco o momento estranho que acabara de presenciar. – Pensei que tivesse batido o carro, ou caído no rio. – Jungkook riu nasal. – Onde dormiu?
– Ah, eu aluguei um quarto de hotel. 
– Por que não foi até minha casa? Poderia ter poupado dinheiro.
– Estava tarde quando eu resolvi parar de rodar a cidade – Respondeu, dessa vez em um tom mais cauteloso. – Não quis incomodar.
– Andou por onde? – Tzuyu perguntou, mesmo que todos já soubessem a resposta.
– Fui até minha antiga casa e… – Viram o garoto engolir em seco. – Fui até a Freddy’s. Queria ver como estava e quando cheguei lá… Bem, pensei que tivesse me confundido, e vaguei um pouco pela cidade até me dar por vencido.
– Como assim? Aconteceu algo com a Freddy's? – Mina indagou.
– Bem, a Freddy's não existe mais.
Jimin, Taehyung, Tzuyu e Dahyun trocaram olhares de cumplicidade e depois abaixaram a cabeça, voltando a comer, fingindo não saber do que Jungkook estava falando. Ainda não está na hora de eles saberem, Jimin pensou. Vai deixá-los muito ansiosos, e já estamos uma pilha de nervos. 
– O que é “A Freddy's”? – Lukas perguntou, ficando de joelhos no banco estufado para olhar por cima das cabeças de Jimin Taehyung e Jungkook.
Mina riu de forma doce e revirou os olhos. 
– Foi o melhor restaurante da cidade – Jungkook se virou para ele com animação. – Dezenas de pessoas iam lá todos os dias e deixavam seus filhos livres nas diversas zona de divertimento enquanto comiam boas pizzas e conversavam. – Ele contava aquela história maravilhado, mesmo que estivesse dando ênfase em algumas coisas que não eram tão divertidas assim, e Jimin acabou tendo que disfarçar um sorriso. – E o melhor, tinham robôs lá que faziam shows para todos, cantando e tocando seus enormes instrumentos de metal. Mesmo que Lukas não fosse de se impressionar, ouvia tudo atentamente, tentando se imaginar em ambiente tão legal como era o que Jungkook narrava. 
– Okay, crianças – Mina se levantou, checando o relógio de pulso. – É melhor irmos logo, ou vamos nos atrasar.
– Já vou – Lukas respondeu, de má vontade e então se virou novamente para Jungkook. – E por que demoliram a pizzaria? 
– Para construir um shopping no lugar. 
– E qual a graça disso? Um lugar cheio de lojas de roupas – Lukas pareceu realmente revoltado com aquilo. – Era bem melhor terem deixado a pizzaria.
Jungkook sorriu largo para ele, concordando com a cabeça. 
– Sim, era melhor.  
•°•°•° 
Ao saírem da lanchonete, descobriram que o carro estacionamento lá fora não era de Mina, já que ela e o irmão haviam voltado à Paradise de avião, pela distância que havia entre as cidades ir de carro demoraria dias. Então Mina e Lukas optaram por ir no carro de Jimin, junto a ele e Taehyung. 
Enquanto os três carros rumavam para a antiga escola dos adolescentes, Taehyung se inclinou para o lado, para poder falar com Jimin sem que Lukas e Mina ouvissem. 
– Depois da cerimônia, vamos em apenas dois carros – Disse ao Park e Jimin assentiu. 
Ir com três carros para a Freddy's atrairia muita atenção, além do mais, não tinha espaço o suficiente lá para três carros. 
Ao chegarem no colégio, tiveram dificuldade em encontrar vagas e não puderam estacionar pertos uns dos outros porque o vasto estacionamento estava praticamente lotado.
Se encontraram na entrada do prédio e olharam bem à volta. Mina sentiu uma felicidade inexplicável por estar de volta, por estar com os amigos de quem tanto sentia falta.
Lukas observou a arquitetura da escola e percebeu que não era nada demais, começou a se perguntar o porquê dos adolescentes à sua volta estarem tão emocionados, com exceção de Taehyung e Tzuyu, que já estavam acostumados à rotina daquele colégio 
– Vamos? 
Taehyung os guiou até o enorme ginásio, onde aconteceria a cerimônia. 
Ao passarem pela porta, foram barrados por uma mulher alta e com uma expressão autoritária. Usava uma roupa formal, como todos presentes, mas era diferente das outras pessoas, a roupa caia tão bem nela que parecia não ser para uso único daquela situação.
– Quem são esses? – Perguntou à Tzuyu e Taehyung.
– São amigos do Hoseok, vieram de outra cidade só para assistir à cerimônia – Tzuyu respondeu rápido, ansiosa para entrar logo. – Os pais que convidaram eles.
A mulher olhou para os jovens de cima abaixo e então assentiu, permitindo a passagem deles.
– Essa diretora é louca – Taehyung reclamou. – Esses dias ela me acusou de quebrar as regras de vestimenta da escola por estar com uma calça rasgada.
– É claro que ela iria brigar, Taehyung! – Tzuyu revirou os olhos.
– Mas qual é o problema de calças rasgadas? – Lukas perguntou, sem entender. Na verdade ninguém estava entendendo.
Taehyung se virou para o grupo, com um sorriso um pouco mesquinho e um tanto provocativo.
– O rasgo não era nas pernas ou nos joelhos. – Se virou para a frente novamente, deixando o grupo tirar suas próprias conclusões sobre.
– Você é nojento – Tzuyu disse a ele.
– Para, você adorou.
Os outros presentes se entreolharam, tentando ao máximo não imaginarem em onde exatamente estava aquele rasgo.
Jimin se sentiu exposto ao entrarem no ginásio. O lugar estava lotado de alunos e não alunos do colégio, as arquibancadas todas ocupadas. No centro da quadra tinha um palco de de madeira, com algumas cadeiras na lateral e um microfone no centro.
– É ali que vamos nos sentar – Tzuyu indicou, apontando os primeiros bancos da arquibancada, que pareciam estar reservados à alguém. 
Chegando nos assentos, leram seus nomes em cada um dos papeizinhos.
– Os pais do Hoseok ainda se lembram de como se escrevem nossos nomes? – Mina comentou, realmente surpresa, pois os nomes deviam ser estranhos para eles, levando em conta que eram de origem asiática. Talvez essa estranheza que os tenha feito lembrar com tanta clareza, Mina pensou, dando de ombros. 
– Não tem uma cadeira para mim – Lukas anunciou, olhando para todos os papéis, procurando por seu nome.
– É claro, ninguém sabia que você viria – Taehyung retrucou. 
Jimin se sentou ao seu lado, rindo nasal e viu Jungkook sentar ao outro lado de Taehyung. 
– Você pode se sentar no meu colo, Lukas – Dahyun disse, sorrindo para ele de forma doce. 
– Não precisa – Mina falou pelo garoto, que parecia estar prestes a aceitar a oferta. – Ele pode aguentar uns minutinhos em pé. 
– Você é muito irritante – Lukas se virou para a irmã mais velha. 
– Em algum momento você vai me agradecer por não deixar você virar um sedentário.
Mas o menino apenas cruzou os braços e ficou em pé ao lado da cadeira de Jungkook, que chegou para o lado, dando um espaço pequeno para o menino sentar. Lukas se sentou ali sem dizer nada, continuava irritado.
Passou-se alguns minutos até que alguém subiu ao palco. Como estavam próximos, o grupo logo reconheceu a mulher, era a mesma que os havia abordado antes de entrarem no ginásio.
– Por favor, prestem atenção aqui – A voz de diretora ecoou pelo lugar inteiro, calando os murmúrios constantes. 
A mulher sorriu de forma mesquinha ao perceber que tinha calado o ginásio inteiro apenas com uma frase.
Mais pessoas subiram ao palco, um casal que aparentavam estar na casa dos quarenta, com eles estava uma outra mulher, um pouco mais baixa mas com características semelhantes à mulher que estava próxima ao homem, provavelmente sua irmã. No colo dela havia uma garotinha que não parecia ter mais de quatro anos, e olhava para tudo e todos com os olhos arregalados, parecia não ter tido experiência com tantas pessoas antes. Jimin os reconheceu depois de um tempo os observando: eram a família de Hoseok. 
A mãe e o pai, e ao lado estava sua tia, junto com a prima. Ela parece um pouco com ele… Jimin observou, se dando conta que tinham o mesmo formato de boca, que vieram de sua mãe. Ele provavelmente seria o primo mais carinhoso… Se tivesse tido ao menos a chance de conhecê-la. Novamente sentiu um misto de tristeza e raiva. Tristeza por a vida de alguém tão jovem ter sido arrancada dele de repente, e raiva por o culpado disso estar sentado à uma cadeira de distância dele. Mas ele não gostava de pensar sobre aquilo, e muito menos gostava de culpar Jungkook, mesmo que fosse algo inevitável. Lembrou a si mesmo que quem o matou não foi nenhum dos adolescentes, e sim um maníaco que, além de ter sequestrado várias crianças da região, ainda as proporcionou um fim tão horrível que ninguém nunca encontrou os corpos. 
Primeiro o pai de Hoseok começou a dizer coisas da vida do menino, mencionando o quanto ele era carismático, sensível e doce, como sempre ficava deprimido ao ouvir pessoas brigarem à sua volta e a como ele sempre tentava fazer a “coisa” certa, independente das consequências que ele mesmo teria. O grupo de amigos escutava tudo atentamente, e a cada palavra do pai, era como se baús com diferentes lembranças se abrissem, e os fizessem recordar do qual bom era quando Hoseok estava por perto. Tzuyu sentiu os olhos marejados e se apressou em secá-los, não queria que os outros a vissem fragilizada.
O pai do garoto terminou o discussão com a voz embargada por segurar as lágrimas e se afastou o microfone, deixando sua esposa falar. 
– Esse ano Hoseok completaria dezoito anos – Ela disse, sendo direta. – E já tinha posse de uma ótima bolsa de estudos, mas como… – Ela não soube quais palavras usar para amenizar o peso que aquilo tinha. – Mas infelizmente ele não poderá cumprir seus estudos, então vamos doar essa bolsa para um aluno dessa escola que sempre teve um bom empenho e que também já foi uma grande amiga do meu filho – Ela sorriu para a plateia, mas o que Jimin registrou não foi um sorriso feliz. 
Era um sorriso cansado, um sorriso desprovido de real felicidade, era como se ela não soubesse mais sorrir. Mas o que ele poderia saber sobre o que ela sentia? Por isso tirou aquilo da mente, ele não a conhecia. A memória única que tinha dela era de uma mulher atarefada, que não tinha muito tempo para papo furado, e que deve ter ficado totalmente abalada por ter sido a última a saber do desaparecimentos do filho. Jimin se sentiu mal por nem ao menos se lembrar do nome dela, mas para ele o casal sempre foi conhecido como “os pais do Hoseok".
A mulher chamou alguém da plateia e uma garota próxima ao grupo se levantou, ela foi até o palco com um sorriso de canto, tendo em mente que, mesmo que estivesse feliz, não era uma cerimônia exatamente comemorativa. 
Ela subiu ao palco e abraçou a mãe de Hoseok, depois se virou e agradeceu aos outros presentes. Ela não disse muita coisa quando alcançou o microfone, apenas agradeceu à família por ter decidido a escolher e falou algumas coisas sobre o dia em que conheceu Hoseok, o que fez Jimin estranhar, por não lembrava do amigo ter lhe dito sobre esse momento de sua vida, mas não contestaria. 
E então chegou o momento do qual os seis amigos estavam ansiando mais.
– Os amigos mais íntimos de Hoseok vieram de outras cidades exclusivamente para esse momento, e agradeço muito por isso – A mulher olhou diretamente para os jovens e acenou com a cabeça, sorrindo. – E, caso não seja muito incômodo, gostaria de convidá-los ao palco.
– Vamos dar a eles um show – Taehyung se inclinou para cochichar a Jimin. 
Todos eles se levantaram, incluindo Lukas que nem sabia o que estava fazendo ali, mas foi andando junto aos adolescentes como se sempre tivesse feito parte do grupo. 
Quando chegaram ao palco, Jimin olhou de rosto em rosto para ver se alguém iria até o microfone dizer algo, mas todos pareciam extremamente nervosos, até ele mesmo estava. Sempre odiava ser o centro das atenções, e agradeceu por estar em um grupo grande. Ouviu alguma cochichos no ginásio silencioso, e os procurou em meio a multidão, vendo rostos familiares, alguns ex-colegas de turma.
Alguém deu um passo à frente e Jimin arregalou os olhos ao perceber que era Taehyung.
O garoto suspirou, antes de enfim estar totalmente à frente do microfone. 
– Por mais que possa parecer, hoje não é um dia festivo, mas muito menos é motivo de nos sentimos tristes. Como o próprio nome diz, hoje é dia para lembrarmos, apenas lembrarmos. Lembrarmos da pessoa incrível que Hoseok foi, do quão companheiro ele era e do carinho que sempre tinha com todos – Taehyung olhou para trás, procurando apoio dos amigos que olharam para ele com sorrisos e murmuraram coisas como “isso aí”, “você está indo bem”, “continue”. Ele sorriu e olhou novamente para a frente, encarando a massa de alunos que o observavam. – Embora fosse bem chato esse papo de “não pode fazer isso, Teteco” – O grupo riu. –, ele foi uma das pessoas mais incríveis que eu tive a honra de conhecer, e apenas gostaria de que se lembrassem disso de uma forma boa, lembrem-se dele sorrindo e das coisas maravilhosas que ele dizia apenas para que nós pudéssemos nos sentir melhor. Obrigado. 
•°•°•°
– Pessoal, esperem um instante – Uma voz chamou o grupo quando eles estavam prestes a sair do prédio da escola. Se viraram para poder encarar os pais de Hoseok. – Só queria agradecer por terem comparecido ao memorial – Ela sorriu, parecendo honesta no que falava. – É realmente importante que estejam aqui, vocês… São parte do que Hoseok foi. E Taehyung, obrigada, foram lindas palavras. 
Os jovens sorriram e para ela, um pouco constrangidos. 
– Puxa, vocês cresceram demais – O pai do ex-amigo disse a eles. – Viraram jovens tão bonitos e bem nutridos – Sorriu para eles, sem saber bem o que dizer.
Os adolescentes apenas riram.
– Obrigado – Disseram quase todos, em uníssono. 
– Se quiserem ficar, vão distribuir lanches…
– Oh, obrigado, mas não – Jimin rapidamente respondeu. – Temos de ir à um lugar nesse instante. 
– Temos? – Jungkook murmurou a ele.
– Temos – O Park respondeu, sem olhar para Jeon.
– Bem, obrigado por virem mesmo assim – O senhor Jung falou, fazendo acenando com a cabeça.  
O grupo esperou chegarem no estacionamento, onde não havia mais ninguém por perto para se intrometer no assunto.
– Para onde vamos? – Mina indagou.
– Vamos à Freddy’s – Dahyun anunciou, animada. 
– Ahn? – Jungkook ergueu a cabeça, confuso. – Mas a Freddy’s foi demolida…
– Na verdade não.
Dahyun, Jimin, Taehyung e Tzuyu contaram aos dois a história de como tinham encontrado o Freddy’s, cada um adicionando detalhes esquecidos uns dos outros. 
Ao terminarem, um silêncio um tanto constrangedor se apoderou do grupo.
– Quando vamos lá?! – Lukas perguntou, animado para ver o tal lugar do qual os amigos de sua irmã tanto falavam. 
– Isso é incrível – Mina disse ao grupo, sem saber quais palavras escolher. – Aquele lugar… Nossa infância inteira está lá, é tão bom saber que não demoliram. – Ela sorriu para o vazio, as lembranças aflorando em sua mente. 
– Então, depois de anos… Justo vocês foram os primeiros a pisar lá? – Todos se viraram para Jungkook ao ouvi-lo falar sobre isso. – Isso é tão injusto.
– Injusto? – Taehyung indagou e riu nasal. – Nós nem pretendíamos entrar lá, só encontramos por acaso.
– M-mas por que não me chamaram então? 
– Não teríamos precisando se você tivesse ido à lanchonete, como garantiu que faria – Jimin respondeu com rispidez. 
Jungkook olhou para ele com as sobrancelhas arqueadas, e pela primeira vez Jimin também sustentou o olhar. Jeon abriu a boca para dizer algo, mas acabou desistindo. Balançou a cabeça em negação e deu as costas para o grupo, saindo dali apressadamente. 
– Meu Deus, que babaca – Jimin comentou. – Como ele pode ter pensamentos tão egoístas na nossa atual situação? 
– Pega leve com ele, Jimin – Dahyun disse, dando de ombros quando ele a olhou com as sobrancelhas cerradas de irrigação. – Não deve ser fácil para ele, Hoseok também era um dos melhores amigos dele, ele deve se culpar até hoje pelo o que aconteceu, sem contar o que aconteceu com o pai dele…
Jimin franziu o cenho.
– Como assim? Que aconteceu com o pai dele? – Ao ver os amigos abaixando o olhar, percebeu que provavelmente era o único que não sabia. 
– Você não soube? – Foi Mina quem respondeu, e então se aproximou do garoto e disse num tom mais baixo: – O pai dele se suicidou, nesse dia os tios dele o tiraram da cidade, ele não pôde ao menos presenciar o funeral. 
Jimin ficou boquiaberto, não fazia ideia daquilo, e nem podia culpar os amigos por não terem contado, era culpa dele tê-los afastado.
Virou a cabeça e olhou para o lugar que Jungkook havia ido.

One hour at Freddy's • JIKOOKWhere stories live. Discover now