Capítulo 20 | Pain

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"Somos livres , e este é o inferno"
– Clarice Lispector.

Depois que Black havia ido embora, eu pude respirar profundamente e analisar o que havia acontecido. E o porquê a chave de Victoria estava disposta na fechadura. Digo, para qualquer um pega-lá. Era até mesmo perturbador pensar que havia sido algo proposital.

E se ela não houvesse esquecido as chaves daquela maneira? E se fosse algo realmente premeditado?

Agora que me via novamente sozinha naquele apartamento silencioso, pensei melhor sobre o que havia acontecido a minutos atrás. Logo uma corrente gelada adentrou no ambiente fazendo meu corpo tremer.

Deus, eu tinha dado o meu primeiro beijo.

E meu corpo parecia agitado demais para acreditar naquilo.

Estremeci por causa do frio que adentrava na pequena sala. O ar gélido piorava a cada instante.

Antes eu estava protegida pelo calor dos braços de Black. E naquele momento sozinha com frio, e com aquele silêncio um tanto fúnebre, já não me pareciam mais tão atraente.

Caminhei em direção a janela para fechá-la. Logo em seguida voltei ao sofá e sentei no mesmo lugar em que ele estava a alguns minutos atrás.

Seu cheiro ainda estava no local, fazendo meu coração dar um pulo em meu peito.

Então a consciência veio como uma onda forte batendo contra a razão.

O que eu havia feito?

Coloquei as mãos em meu rosto para cobri-lo pela vergonha que me corroía.

Eu estava sorrindo. Estava feliz.

Não me arrependia do que havia feito a alguns instante atrás. Não.

Como poderia me arrepender do que meu coração pedia?

Do que parecia certo?

Coloquei os joelhos entre os braços e inspirei profundamente. O cheiro de tabaco e menta estavam presos no ambiente. Aquela mistura, era algo extremamente atraente. E pertencia a ele.

E então eu me via de olhos fechados revivendo os últimos acontecimentos.

Minha mão subiu em direção ao meu pescoço, e assim que segurei em meu colar, meu sorriso cresceu ainda mais em meu rosto.

Ele o trouxe de volta para mim.

Ainda tentava entender ou até mesmo buscar em minha mente qualquer coisa que me levasse a descobrir como Black acabará daquele jeito.

Como mesmo tão machucado por fora, ele ainda parecia carregar uma dor maior em seu interior.

Algo que o perturbava. O que parecia incendiar em suas veias.

E tudo o que eu queria, era saber o que havia levado-o aquela condição naquela noite.

Ele não parecia com dor, de certo estava machucado em vários lugares em que não havia conseguido olhar. Mas ainda assim, ele transparecia certa vulnerabilidade. Como se de certo modo, quisesse apenas descansar por um momento do que quer que fosse.

Respirei profundamente.

Então virei-me um pouco apenas para olhar o relógio de parede atrás de mim, o qual ficava ao lado da porta de entrada. Eram agora meia noite e por um segundo eu me perguntei onde Victoria poderia estar e se ela ainda voltaria para casa.

Decidi deixar a chave debaixo do tapete ao lado de fora. E então trancaria por dentro. Eu realmente ainda não me sentia segura, estava apreensiva por causa dos últimos acontecimentos.

Heaven (em pausa)Where stories live. Discover now