"E talvez só o pensamento me salvasse, tenho medo da paixão!"
–Clarice LispectorEu sabia que poderia estar me iludindo e isso pareceu cair como um balde de água fria quando ele parou próximo ao meu rosto.
Sentia sua respiração quente batendo contra minha bochecha, e aquilo pareceu perdurar por horas quando não havia sido mais do que segundos.
Sua testa estava encostada na minha e seus olhos estavam fechados como se o simples ato de olhar para mim agora fosse algo difícil.
Naquele momento ele pareceu travar uma batalha consigo mesmo. Mas eu sentia que a única que sairia perdendo seria apenas eu. Meu corpo ainda quente arrepiou-se ao encarar sua expressão.
Black apertou seus olhos e suspirou para em seguida murmurar algo inaudível.
Que dor era aquela em minha garganta? Sentia como se estivesse enrolada por arames farpados e eu estivesse a um passo de cair em lágrimas.
Nos fomos retirados da atmosfera que estávamos quando escutamos a buzina do carro atrás de nós. O sinal verde evidenciava o tempo que passamos, parecíamos perdidos demais um no outro.
Eu voltei a encarar a paisagem ao meu lado ao passo em que ele rapidamente saia dali. Meu coração batia fortemente e minha face permanecia assustadoramente quente.
Abracei meu corpo e me encorajei a olhar para ele pelo canto do olho. Ele dirigia apenas com uma mão, enquanto a outra, apoiada no encosto do carro cobria sua boca. Ele estava perdido em pensamentos, assim como eu.
Rapidamente fui retirada dos mesmos quando o vejo estacionar habilmente em um restaurante sofisticado demais para que eu pudesse pagar.
Era confortável e parecia com aqueles restaurantes ao ar livre de Toscana.
Nos tínhamos aquela atmosfera em torno de nós e por mais que o meu desejo fosse permanecer em silêncio absoluto, eu precisava dizer algo.
— E-eu não acho que tenho como pagar alguma refeição aqui! — eu disse com sinceridade e ele apenas me lançou um olhar suave.
— Não disse que iria! — ele deu um pequeno sorriso e logo em seguida desceu do carro para abrir minha porta.
Eu desci, e ele fechou a porta do passageiro atrás de mim colocando sua mão no final da minha coluna.
Meu corpo pareceu aquiescer com seu toque.
Nem mesmo a roupa que separava nossas peles foi capaz de deter o choque elétrico que parecia nascer ali.
Ele me acompanhou até uma das mesas de dentro do restaurante e então sentamos em uma com uma vista linda. Ele parecia conhecer bem o lugar visto que o homem que falava agora conosco o recebeu de maneira extremamente extasiada.
Black detinha uma postura elegante, fazendo com que aquele ambiente extremamente sofisticado de algum jeito combinasse com ele
O menu foi entregue e então meus olhos vaguearam por todos aqueles nomes desconhecidos. Eu o olhei discretamente e ele apenas pareceu extremamente mais bonito naquele momento.
Não sei se pelo sol que batia suavemente pela grande janela de vidro ao nosso lado e resplandecia toda sua beleza, ou pelo fato de estar em plena confusão comigo mesma naquele momento.
O que eu deveria fazer tornou-se a tarefa mais difícil do que eu pensei que seria. Digo, eu não entendia o porquê dele parecer se importar comigo e o que eu havia feito para tal ato.
Eu apenas estava perdida em relação a ele. E isso não era só sobre o que quase havia acontecido no carro mas como tudo que ele trouxe a minha vida.
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Heaven (em pausa)
Ficção AdolescenteHeaven Crawford é doce, tímida e com certeza diferente da maioria das meninas da sua idade. Acostumada a viver escondida de tudo e todos, ela tinha apenas seus livros e suas pinturas como companhia. Não tinha muitos amigos e de longe era uma garota...