𝐇𝐄𝐑𝐎𝐄𝐒 𝐒𝐓𝐈𝐋𝐋 𝐂𝐑𝐘 • 𝐁𝐍𝐇𝐀

(Re)tome o Controle

LUNA TOGATA

Desvio de um ataque direto. O farfalhar das fitas de Aizawa me faz retomar o foco ao professor. Longe do tutor, ajeito a postura, assumindo a posição de combate ensinada por ele. Encaro o meu adversário por uma fração de segundo, antes de correr até ele. Uso os punhos, lançando um soco que era o alvo por pouco. O erro faz Aizawa ter a vantagem sobre mim, permitindo que seus ataques sejam mais perigosos e astustos. O professor investe os punhos para cima de mim, num ato consecutivo e frenético que quase me faz ser acertada. Me ponho numa posição de defesa, sempre esquivando dos ataques desferindos a mim, a espera de uma abertura.

Quando Aizawa parece diminuir a velocidade dos ataques, é a minha hora de agir. Quando o golpe vem, uso os braços para bloqueá-lo, pegando o tutor desprevenido. O ato faz o professor ficar atônito, sem saber o que o fez cometer tal erro. Agarro um dos braços de Aizawa e o jogo no chão com toda a força que possuo, incapacitando meu adversário e vencendo o treino. O professor geme quando as costas colidem contra o chão e me forço a segurar o risinho. Um sorriso orgulho brota entre a carranca de dor do tutor, quando ele se levanta e me encara.

-- Seu desempenho no combate está ficando cada vez melhor... Parabéns, Togata!- não consigo conter o sorriso, feliz com meu próprio avanço nesses últimos dias de treinamento. -- Por hoje,  está liberada.

-- Obrigada!- aceno com a cabeça para Aizawa em agradecimento e saio.

Deixo o tutor na área de treino, indo para meu alojamento - ou melhor, o dos professores -, ao encontro do meu irmão. Depois dos treinos, já de noite, Mirio e Naomi vem para me fazer uma visita e acompanhar o avanço do meu treinamento com Aizawa. Quando entro na acomodação, ouço risadas vinda da sala de convívio, que pertencem a Eri, Naomi e meu irmão. Chegando na sala, vejo Mirio fazendo caretas e outras bobeiras para as pequenas diante de si, que se divertem com o comportamento infantil do mais velho. Entro na sala e Eri aponta para mim, denunciando a minha chegada. A pequena pula do sofá, vindo até mim e me abraçando, sendo seguida por Naomi. Abraço as mais novas de volta e faço casquinhas nas duas. Eri e Naomi irrompem em riso, numa agitação infantil que me faz rir junto a elas e me une a atmosfera brincalhona do ambiente.

Libero as meninas, deixando-as  distraidas com seus brinquedos. Sento no sofá ao lado de Mirio, finalmente me permitindo um momento de descanso.

-- Como foi treino de hoje?- Mirio começa, a mesma pergunta que o mesmo me dirige todos os dias.

-- Progredindo! Eu nocauteei o Aizawa no treino de hoje.- meu irmão arregala os olhos, quase sem acreditar. Porém, logo em seguida, a reação muda para um sorriso orgulhoso ele e me dá um soquinho no meu braço.

-- Essa é a minha irmãzinha! Eu pagaria para ver Aizawa perder um combate corpo a corpo.

Estufo o peito, me vangloriando do feito. Mirio irrompe entre risos e me junto a ele. Nesses instante, me sinto num déjà-vu, como se eu já tivesse vivido um momento como esse antes, mas minha mente não me permite acessar a lembrança. Me sinto como se tivesse um cadeado ao redor da minha cabeça, trancafiando toda e qualquer lembrança da minha anterior. Alguns fragmentos de memória aparecem de vez em quando, seja enquanto durmo ou faço alguma atividade. Nesses momentos, quase não sei distinguir o que é memória ou realidade. As únicas coisas que me lembro de fato são os minutos antes de eu apagar. Eu estava em volta de fogo e meu poder estava fora de controle. Mesmo sem conseguir ouvir, eu sabia que estava gritando e sentia muita dor. Uma dor pungente e excruciante, que me sufocava. Me matava. Até que tudo parou. A dor, o fogo, os poderes... tudo parou e ficou preto. E então eu acordei no hospital.

Sem memória.
Sem passado.
Uma folha em branco.

-- Como vai os preparativos do casamento?- mudo de assunto, tentando esquecer os próprios pensamentos.