— Antes ou depois que a gente chegar na vila? — perguntou Enerius em sussurros.
— Antes, para a gente se livrar do corpo lá mesmo — respondeu Joron sem olhar em seu rosto.
Enerius adiantou-se em subir no trenó e sentou-se ao lado de Derion no banco de trás. O rapaz afastou-se levemente para o lado a fim de não precisar estar encostado a ele por todo o tempo.
— O que é que foi? — indagou Enerius rispidamente. — Estou fedendo por acaso?
Joron enfim entrou no trenó e sentou-se ao lado de Virmon fechando assim a pequena porta lateral.
— Me diga que você sabe conduzir o norsel também? — quis saber Derion inclinando-se para frente.
— Relaxa, sabichão. As coisas se aprendem fazendo.
Joron tentou puxar as rédeas levemente para que o animal se colocasse na posição correta de partida. Este obedeceu ao comando e se posicionou na frente do trenó. Em seguida, um silêncio pairou sobre os quatro.
— Vai! — O animal permaneceu imóvel após o grito do rapaz. — Corre! Voe! Ande! Ande!!!
Os repetidos movimentos agressivos que o andor aplicava com as rédeas se mostraram inúteis.
— Deve ter uma palavra especial que ele obedeça, sei lá — Virmon opinou.
— Que ótimo! Alguma sugestão?
— O Mestre Armoren, nosso professor de Criaturas — iniciou Derion. — , ensinou uma vez que a ordem que os norséis reconhecem como comando de partida é uma palavra do idioma antigo escrita em símbolos.
— E que palavra é essa?
— Enteor, se não me engano.
— Enteor — repetiu Joron para o animal, mas este permaneceu quieto. — Não funcionou.
— Tente falar com mais firmeza, e bata as rédeas.
— Enteor!!! — O andor gritou e bateu as rédeas violentamente.
E eis que o norsel reconheceu o comando. O animal soltou um berro e iniciou seus passos em um repentino solavanco. Joron, que estava de pé no trenó, foi jogado para trás e caiu sobre o banco ao lado de Virmon. A criatura estava a toda velocidade e corria em linha reta para o fim daquela área quadrangular. Os quatro jovens viram-se prestes a deixar o chão pois o animal já preparava a abertura de suas asas. Os quatro seguraram firmemente nas barras de aço e olhavam com apreensão o caminho a frente. Ou melhor, o fim do caminho.
O norsel finalmente abriu suas longas e belas asas brancas revelando uma envergadura muito maior do que quando estavam dobradas. Com um salto rumo ao abismo, o animal mergulhou levando consigo o trenó e fazendo os quatro jovens soltarem gritos de temor. Mas a queda não se prolongou por muito tempo pois com o bater de suas asas ele elevou o trenó aos ares e emergiu do vazio. Todos foram empurrados para trás e tiveram que manter as mãos firmes nas barras.
O norsel bateu suas asas repetidas vezes para tomar impulso fazendo com que o vento atingisse fortemente os quatro passageiros. Seus cabelos esvoaçavam e seus olhos se fechavam por si só. Joron ainda segurava as rédeas mas não sabia se teria que dar algum comando específico para conduzí-lo nos ares. Derion inclinou-se na portinha ao seu lado e olhou para baixo, pôde ver toda a imensidão do glorioso Templo de Nerendor visto de cima. Grandes salões com abóbadas esculpidas, pátios cuja extensão era impossível precisar e pequenas estátuas dos majestosos Ejions que deixaram de existir. Devido à altura e a direção que a carruagem tomava, não pôde vizualizar o local onde os guardas aliais estavam e torcia para que eles não os avistassem também.
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A Pretensão dos Cavaleiros
FantasyO humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene vê seus dias tornando-se mais atarefados com sua família. No entanto, tudo muda quando a expansão territorial do Reino de Vordia chega ao v...
- Um Norsel, Um Trenó e Um Punhal -
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