Capítulo 15 Tenebris

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Acordei com a sensação de que nada daquilo havia sido real, como se tivesse sido apenas um sonho. Me sentei na cama e passei as mãos no rosto, comecei a me lembrar da noite passada. Diferente das outras noites, que Rebecca me levou para viajar, aquela em questão, havia sido uma das mais calmas. Por outro lado, foi a mais maluca. Eu não podia acreditar que Rebecca era neta de uma criatura de outra dimensão. Essa história estava ficando cada vez mais insana, e eu teria que agir como se tudo fosse natural. O que seria bem complicado. Também  sentia que Rebecca estava passando pela mesma coisa, senão pior. Não deveria estar sendo fácil para ela descobrir tudo aquilo. Devia ter ficado muito confusa. Foi muita informação, sobre algo que definitivamente, nenhum de nós esperava.

Passei a manhã pensando em como ela estava se sentindo, mandei uma mensagem para ela, porém Rebecca não respondeu. Sendo assim, saberia como ela estava, apenas quando chegasse na escola.

O caminho para a escola já estava me deixando angustiado, o motorista parecia uma tartaruga e eu queria saber como Rebecca estava.

Quando cheguei na escola, todos já tinham entrando no pátio. E eu havia voltado a chegar atrasado, como sempre.

Entrei no saguão, subi a escada correndo, até que cheguei no corredor, onde empurrei muitas pessoas para chegar até a porta da minha sala.

Parei de correr ofegante, quando finalmente vi Rebecca. Ela estava com Cris e Tiago. Ambos sorriam e falavam sobre besteiras, Rebecca sorria e parecia estar bem. Eu esperava que estivesse.

Respirei fundo para voltar ao normal e andei tranquilamente até eles.

Todos me cumprimentaram e entramos na sala. Tiago e eu nos sentamos nos nossos lugares de sempre, e Cris se sentou na classe a frente de Tiago e Rebecca na minha frente. Ela sorriu discretamente, quando percebeu que eu a olhava curioso, enquanto ela organizava suas coisas em cima da mesa.

— Agora sim! — exclamou Tiago alegremente, olhando para todos nós. — O quarteto fantástico!

— Melhor grupinho da sala — disse Cris alegre, escorando suas costas na parede e dando um soquinho na mão de Tiago.

Os dois combinavam. Pensei. E olhando para o modo que Rebecca olhava para eles, deduzi que ela achava o mesmo.

No recreio nos sentamos no nosso lugar de sempre, de baixo da mesma árvore e na mesma grama.

Quando nos sentamos, Rebecca foi a única que permaneceu de pé, ela roía uma unha e andava de um lado para o outro.

— Por que não se senta? — sugeriu Cris ao lado de Tiago. — As suas voltas estão me deixando tonta, amiga.

Rebecca apenas olhou e tirou a mão da boca. Em seguida, sem responder, apenas se deitou na grama ao meu lado, e ficou me olhando para os galhos a cima.

— Olhem lá — disse Cris desdenhosa, olhando para frente, onde em alguns metros Alana estava com Luís. — Vocês não acham engraçado o fato que os  dois traíram vocês, e agora estarem juntos? — comentou ela para Rebecca e eu. — Deve ser estranho vocês dois estarem aqui vendo eles ali, se pegando para todos verem. Não é?

— Eu quero que eles se fodam — disse Rebecca com desdém, deitada na grama, colocando o braço por cima do rosto para o sol não chegar em seus olhos.

E eu sorri comigo mesmo enquanto olhava para os dois.

— São duas cobras se entrelaçando e compartilhando veneno — comentei.

Rebecca tirou o braço de cima do rosto, sorriu e se levantou, e em seguida aproximou sua cabeça na minha coxa e olhou para os dois a frente.

— Logo veremos quem é o mais peçonhento. Quando um ferir o outro — comentou Rebecca, debochada, olhando para eles e em seguida para mim.

— Provavelmente vai ser a Alana que vai se dar mal — comentou Cris.

— Certamente — concordou Rebecca. — O Luís vai fazer para ela o que ele fez para tantas outras e não conseguiu fazer comigo.

— E o que ele vai fazer? — perguntou Tiago.

— Vai usar até se cansar, e quando isso acontecer. Alana vai vir pedir perdão para todos vocês. Pois vai ver como foi otária daquele garoto fútil e ridículo — disse Rebecca olhando para Tiago e Cris. — Felizmente, eu sempre estive um passo a frente dele — disse ela fechando os olhos e acomodando sua cabeça na minha coxa. — De mim ele não conseguiu o que queria, não mesmo. Tudo que ele fez eu já esperava. Eu que fui boba por suportar um mês, mas agora estou livre.

— Você sempre foi muito foda para alguém como ele — afirmou Cris.

— Eu sei — respondeu Rebecca ainda de olhos fechados. — Mas tudo na vida a gente leva como aprendizado. Agora eu tenho certeza do tipo de garoto que eu nunca mais vou me relacionar.

— E o tipo de garoto que você deve se relacionar. Você sabe como ele vai ser? — perguntou Cris, divertida.

— Sei.

Rebecca abriu os olhos e me olhou fixamente, sorriu e voltou a fechar os olhos.

(...)

Durante a aula, Cris e Tiago desceram juntos para a biblioteca para imprimir um trabalho. E no nosso canto, ficaram apenas Rebecca e eu. Ela pegou o livro com o nome dela e ficou lendo tranquilamente. Eu sabia que assuntos relacionados as nossas viagens eram proibidos na escola. Mas eu já não estava mais suportando e aquele me parecia um bom momento.

— Rebecca — chamei murmurando.

Ela tirou os olhos do livro e me olhou com cara de "O que você quer?"

— Você está bem? — perguntei preocupado.

— Estou — respondeu rapidamente e voltou a olhar para o livro.

— Eu não dormi direito, pensando sobre ontem — reclamei. — Pensei que o mesmo havia acontecido com você — observei.

— Eu também não dormi, minha cabeça parecia que não iria parar de tentar entender tanta informação — disse ela com os olhos ainda no livro. — É melhor não falar mais disso, não aqui. — Me olhou. — Hoje nós vamos para aquele lugar, e tudo será resolvido.

— E você não tem medo? — murmurei.

Ela aproximou o rosto de mim.

— Tenho. Por isso não solte a minha mão.

Fiquei surpreso e sorri comigo mesmo.

— Pensei que você não tivesse medo do escuro — murmurei com a voz desafiadora.

Ela olhou para os lados e se aproximou do meu ouvido.

— Eu não tenho medo do escuro. Só não se esqueça que aquele lugar é estranho para mim, e não quero correr o risco de perder você. Pois em qualquer problema, eu saio daquele lugar em um piscar de olhos. Por isso não solte a minha mão. — E se afastou de mim, voltando a se sentar na cadeira e ler o livro.

— Ok — afirmei.

Mal sabia Rebecca, que para mim, segurar sua mão era a melhor coisa do mundo.

(...)

Assim que a noite chegou. Meus pais tiveram mais uma discussão e em seguida foram dormir, felizmente meu pai não saiu de casa, então não iria ter que sair preocupado.

Enquanto Rebecca não chegava, cumpri a mesma rotina de sempre. Jogar com meu amigo enquanto não sentisse o perfume de jasmim de Rebecca.

Fiquei tentando criar teorias de como deveria ser aquele mundo. Se era uma noite eterna, provavelmente era muito frio. Por isso eu teria que vestir roupas quentes. Oxigênio existia lá. Pois o pai de Rebecca não disse que teve problemas em respirar. Porém, ele era meio ser daquele mundo. Pensar nessas coisas me deixou um pouco receoso. Fiquei com medo de chegar lá e não conseguir respirar ou morrer de frio. Rebecca estava certa, era melhor eu não soltar sua mão.

Enquanto estava distraído, ela apareceu.

Rebecca havia pensado o mesmo que eu, e estava toda encasacada, de preto, óbvio.

Quando à vi sentada na minha poltrona. Apenas sorri para ela e fui para o meu roupeiro e vesti muitos casacos. Minha calça de moletom resolveria o problema.

— Inteligente — observou ela. — Em um lugar que reina uma noite eterna, o frio deve ser algo comum.

— É — respondi enquanto calçava os tênis.

— Já está pronto? — perguntou ela, sentada com um pé na minha poltrona e olhando para uma unha que estava roendo.

— Sim! — Me levantei e andei até ela. — Já podemos ir!

— Tem certeza que quer ir? — perguntou ela me olhando à cima. — Você sabe, que não sabemos os perigos e criaturas que existem lá.

— Eu imagino que deve ser um lugar bem sombrio. Mas não vou me intimidar por isso — respondi.

— Está bem! — Ela se levantou em um pulo e ficou de pé na minha frente. — Só pegue na minha mão e não solte mais, é uma ordem.

Fiz que sim.

Rebecca pegou nas minhas mãos e teletransportou.

Logo estávamos na Itália, na casa de Dimitri.

Ele estava sentado no sofá, acariciando sua enorme loba Nix.

— Finalmente vocês chegaram! — exclamou ele alegremente, assim que nos viu.

Dimitri se levantou e andou até nós.

— Como você está, minha filha? — perguntou ele.

— Estou ansiosa — respondeu rapidamente, um pouco tímida.

Ele olhou para as nossas mãos dadas e se dirigiu à mim.

— E você, garoto? Vai junto?

— Rebecca não quer ir sozinha. — Dei de ombros.

— Tudo bem — respondeu Dimitri, um pouco mais sério do que o normal. — Só cuide para não se perder em Tenebris — alertou ele.

— Isso pode deixar comigo — disse Rebecca erguendo nossas mãos dadas. — Não vamos nos desgrudar.

— Os dois não podem sair de perto de mim. Lá ninguém é violento. Mas as florestas são muito escuras e fáceis de se perder.

— A conversa está muito boa — disse Rebecca. — Mas quando vamos ir para Tenebris?

— Apressadinha! — comentou ele divertido. — Parece a sua mãe — gargalhou. —  Vamos logo, segurem em minhas mãos.

Formarmos uma roda, eu segurava uma mão de Rebecca e outra de Dimitri. Confesso que fiquei nervoso e minha respiração ficou pesada. Estávamos indo para outro mundo, e fiquei com medo de não me adaptar e morrer. Muitas coisas poderiam dar errado. Rebecca notou que eu soava frio, então apertou minha mão, olhei para ela que sorriu e assentiu.

Fechei os olhos, e senti muito frio. E a curiosidade me fez abri-los rapidamente. Era radiante. A escuridão era escassa, ao contrário do azul neon que eu costumava ver no teletransporte de Rebecca. Estávamos imersos por aquela luz intensa. Eu sentia que estava sendo puxado por Rebecca e Dimitri, estávamos flutuando, pois aquele teletransporte foi o mais longo até aquele momento. Era diferente do de Rebecca, que era tão rápido. Que eu nem tinha noção de espaço. Naquele momento, era como nadar naquela luz. E eles me puxavam para a superfície.

O que não demorou muito para acontecer. Logo estávamos perto do que do que parecia ser a superfície e uma força maior, praticamente nos arrancou do que é que seja aquele lugar, e nos arremessou para fora.

Caímos em algo que parecia ser a margem de um rio.

Rebecca e Dimitri estavam de pé, ao contrário de mim. Que cai de joelhos. Olhei para o chão e vi uma grama muito bonita, e sentia a umidade do chão nos meus joelhos. Olhei em volta, havia uma floresta sombria na nossa frente. Que era iluminada por uma luz azulada extremamente forte de uma lua cheia estonteante. Os raios lunares transpassavam os galhos das árvores, o que formava feches de luz entre a parcial escuridão daquela floresta. O que mais me chamou atenção, foram as roseiras que estavam na minha frente e chegavam até as primeiras árvores da floresta. Eram canteiros de rosas azuis, que brilhavam ao luar.

— Se levante, Arthur — mandou Rebecca, puxando minha mão para cima.

Olhei para ela, que parecia tão fascinada quando eu. Me levantei, virei de costas para ver de onde havíamos saído. E me deparei com um rio, azul néon. Que fluía lentamente.

— Vocês estão conseguindo respirar? — perguntou Dimitri.

— Eu estou — respondeu Rebecca. — E você está? — perguntou à mim.

Apenas assenti e continuei a olhar curioso para o rio. Me abaixei e passei a mão pelas águas. Foi quando descobri que não era água, e sim uma espécie de energia que passava por ali.

Rebecca ficou me observando curiosa.

— Isso explica porque não estamos molhados — observou ela, olhando para a energia que passava pela minha mão e que voltava para o curso.

— Esse rio é feito de energia — disse Dimitri, olhado satisfeito para nós dois. — Se chama Rio Azul, e é sagrado para esse povo. Pois essa energia é como se fosse a alma do planeta. E a magia e toda luz que eles conhecem.

— Também é um portal — comentei. — Isso explica as luzes estranhas no céu do Rancho.

— Está certo, menino — afirmou ele.

— Se não me engano — disse eu pensativo, ainda olhando para o rio. — Você disse que aqui reina uma noite eterna. Como isso pode acontecer. Pois percebi que aqui é muito frio, mas não é congelado como acontece com um planeta que não tem rotação ou não pega luz de algum sol.

— Nós temos uma lua — respondeu ele.

— Como assim? — perguntou Rebecca.

— Quando cheguei aqui tive as mesmas curiosidades que vocês. Então me tranquei na biblioteca do castelo e estudei. Descobri que Tenebris possuí uma lua de cristal na sua órbita. E ela reflete a luz do sol de um sistema solar muito, mais muito distante. Essa lua reflete um feixe de luz no planeta. E assim temos horas mais frias e de escuridão total. E a rotação do planeta, que leva em média vinte e oito horas para dar uma volta completa em si mesmo.

— Isso é muito interessante — comentei impressionado, e me sentindo muito nerd.

— E muito lindo — disse Rebecca, olhando para o céu estrelado e a grande lua brilhante.

Rebecca estava fascinada, eu pude ver como seus olhos brilharam quando ela andou até as roseiras e colheu uma rosa azul como os seus cabelos, e levou até o nariz.

— Existem muitas criaturas morando por aqui? — perguntou ela, virando-se para nós ainda segurado a rosa.

— Ah, sim! — respondeu ele. — E muitas.

— E como são? — perguntei. — São perigosos?

Dimitri me olhou e sorriu, em seguida olhou para a grande lua, como se estivesse se lembrando de algo.

— Pelo contrário — disse ele. — Aqui até a criatura mais horrenda tem um coração puro.

— Está dizendo que aqui são todos bonzinhos? — indagou Rebecca, se aproximando de nós, com uma rosa nas mãos.

— Sim — respondeu ele simplesmente.

— Sério mesmo? — indagou ela novamente. — Não vou ter que me preocupar que alguma criatura queria fazer filé de Arthur?

Olhei escandalizado para ela. Que deu de ombros.

— Não — ele respondeu sorrindo. — Aqui todos se alimentam de folhas e raízes.

— Que legal! — comentou Rebecca, colocado a rosa atrás da orelha. — Então vamos conhecer esse mundo. E o meu avô.

— Já falei sobre você para ele — comentou Dimitri. — Ele está no castelo, ansioso para te conhecer.

Rebecca deu dois pulinhos, animada.

— Ele é o rei daqui, não é? — perguntei.

— É — respondeu Dimitri.

— Aqui eu sou princesa. Chupa mundo! — disse Rebecca alegremente.

E do nada...

— Caralho! — exclamou ela.

— O quê? — perguntei assustado.

— Eu soltei sua mão — disse ela nervosa, pegando na minha mão rapidamente. — Me lembre de não soltar mais.

— Pode deixar — respondi.

— Então, vamos logo! Meu pai está esperando — chamou Dimitri, à alguns passos a frente, andando na direção da entrada da floresta.

Rebecca olhou para mim e assentiu. Em seguida fomos correndo para alcançar Dimitri.

Em meio as árvores, tudo era mais escuro. E sons estranhos saíam do meio da mata. Dimitri andava confiante na trilha da floresta, ao contrário de Rebecca e eu, que estávamos tão grudados que por pouco não nos abraçamos.

Os ruídos eram constantes. Até que vimos uma árvore se mexer como se estivesse viva.

— AAAAAAAAAAAA!!! — gritamos Rebecca e eu em uníssono.

— Acalme-se vocês dois — disse ele tranquilamente. — Isso é normal, algumas árvores se marchem.

— É o quê?! — exclamou Rebecca. — Elas andam?

— Algumas sim. Elas fazem isso pois estão em busca de alimentos e de uma terra mais rica em nutrientes.

— Isso também é legal. Um pouco assustador. Mas interessante. Imagina Rebecca. — Eu comecei. — Você está andando durante a noite e uma árvore corre atrás de você.

— Acho que eu morria! — ela gargalhou.

— Se vocês acham isso aterrorizante, é por que ainda não viram nada — disse Dimitri, andamento na nossa frente mais uma vez.

— Aí que medo! — disse Rebecca, debochada.

E Dimitri sorriu convencido.

Andamos lentamente pela floresta, e os sons estranhos não assustavam mais. Somente o número de corvos foi aumentado. Eles voavam entre as árvores e a cima de nós.

— Estão recebendo os visitantes — comentou Dimitri, olhando para os animais.

Era sombrio e encantador ao mesmo tempo.

Fora os corvos, tudo estava tranquilo na nossa caminhada pela trilha na floresta. Até que escutamos sons de passos, que pareciam vir de alguma criatura grande.

— Me diz que aquilo ali na frente é uma árvore que anda?! — disse Rebecca olhando para a frente.

Há alguns metros à nossa frente, havia uma sombra entranhada. Que se movimentava lentamente. E que parecia se aproximar. Era algo grande, de pelo menos quatro metros. Parecia uma árvore fina e com dois longos galhos. Porém, essa hipótese desapareceu assim que dois grandes olhos vermelhos nos fitaram, e aquela criatura correu na nossa direção.

— CORRE! — gritou Rebecca. E me puxou pela mão para de onde estávamos vindo. Estávamos voltando para o rio das luzes mágicas.

— CRIANÇAS! VOLTEM AQUI, ELA É BOAZINHA! — gritou Dimitri, correndo atrás de nós.

— Não parece! — disse Rebecca ainda correndo e eu atrás.

Então, Dimitri avançou e conseguiu nos parar. Ele estava ofegante e nós também. E a criatura também. Foi quando pudemos olhar melhor para aquele ser. Que em poucas palavras, era um esqueleto gigante com olhos vermelhos e ossos acinzentados. Pavoroso!

— Por que correram de mim? — perguntou a criatura com a voz fraca. Pela voz era fêmea.

— Não somos daqui — respondeu Rebecca. Eu sabia que ela estava tremendo.

— E vieram de onde? — continuou a criatura gigantesca e desengonçada.

— Da Terra. Sou filha de Dimitri, neta de Elec.

— Então você é a princesa. É um prazer conhece-la — disse a criatura cordialmente. — Me chamo Akai.

— E eu sou Rebecca e esse é Arthur, meu amigo. — Ela nos apresentou.

Rebecca estava mais confiante, mas eu não. Então apenas acenei para a Akai.

— Como ela fala a nossa língua? — perguntei de canto, aproveitado que Dimitri estava ao meu lado.

— Eu ainda não entendi. Cheguei falando inglês aqui e foi a mesma coisa. Eu acho que a língua deles se encaixa na nossa percepção. É como se fosse uma linguagem universal — respondeu ele.

— Isso é muito interessante — Rebecca me imitou.

— Estão indo ver o Rei Elec? — perguntou Akai.

— Sim — respondeu Dimitri. — Gostaria de nos acompanhar.

— Claro — respondeu ela. — Faz tempo que não vejo meu velho amigo. E preciso falar com ele sobre assuntos da aldeia.

E então a esqueleto gigante nos acompanhou. Embora fosse só ossos, sempre que eu a olhava, de alguma forma ela sorria docemente. Mas para mim aquilo era horripilante. Parecia um pesadelo de dia das Bruxas. Então mantive a postura educada, para que a criatura não se sentisse constrangida, pois mesmo sendo assustadora, estava agindo como uma criatura do bem agiria.

Falando em bruxas, em Tenebris elas existem. São mulheres muito bonitas, que voam em galhos a cima das árvores e eram acompanhadas pelos corvos. Mas isso não assustou Rebecca e eu. Já estávamos esperando de tudo um pouco.

Continuamos andado em silêncio ao lado de Dimitri e Akai.

Até que chegamos no que me pareceu uma aldeia. Com belas casinhas de pedra e ruas largas que por todas as partes era iluminada por lampiões onde a luz magica do rio, parecia ser ampliada e podia iluminar ainda mais. E no centro da rua havia um poço. Tudo era belo e medieval. Rebecca segurou fortemente minha mão enquanto olhávamos para as criaturas que habitavam aquele local. Haviam outros como Akai. Além de criaturas humanoides muito brancas e bonitas, pareciam vampiros, e eram como na descrição que Dimitri deu da aparência de seu pai. Algum deles pegavam galhos e saíam voando. Ou seja, eram o que eu chamei de bruxas. E alguns possuíam asas. Sim! Assas! Brancas ou douradas, como se fossem anjos. Porém todos pareciam ser da mesma espécie.

Além dessas criaturas, haviam também algumas pequenas, que eram gárgulas. Todas muito simpáticas. Eram gárgulas com o rosto meigo. Até que eram bonitinhas. Rebecca disse que queria levar uma para casa.

Todas aquelas criaturas estranhas pareciam ocupadas em seus afazeres até que chegamos. Pois assim que nos viram, foram extremamente cordiais conosco. Nos cumprimentavam e de alguma forma pareciam que já estavam esperando por Rebecca. Pois olhavam fascinados para ela.

Eles pareciam ser fãns de Rebecca, antes mesmo de conhece-la. Mesmo assim, não atrapalharam nossa caminhada.

Logo saímos do vilarejo, e chegamos mais uma vez em uma margem do que Dimitri chamou de Rio Azul. Que mais uma vez era coberta por rosas azuis. Rebecca ainda possuía uma rosa, mas isso não impediu que ela admirasse as outras.

Na nossa frente havia uma ponte de pedra, que levava para o outro lado do rio. Onde escorada em meio à muitas árvores, havia um castelo negro, de portas e janelas enormes e de vidraria coloridas e as pontas das torres eram pontiagudas. Era um belo castelo, e o Rio Azul e a lua cheia o davam ainda mas destaque, o que assustava um pouco eram os corvos voando em torno dele. Fiquei tentando me lembrar o que aquela construção me lembrava, até que Rebecca comentou.

— Parece uma catedral gótica.

— Digamos que foi inspirada — disse Dimitri, enquanto nos aproximávamos da entrada.

— Como assim? — indagou Rebecca.

Dimitri continuou caminhando, e quando iria responder, foi interrompido pela grande porta que se abriu.

Uma mulher nos recebeu. Ela era jovem, bonita, extremamente branca e com olhos verdes quase tão claros que pareciam ser brancos. Ela possui grandes asas douradas e usava um vestido vermelho escuro. E nos levou até o salão do castelo. Fiquei deslumbrado com a beleza sombria e elegante daquele lugar. Ao contrário do vilarejo, o castelo era iluminado por lustres magníficos por todas as partes, que possuíam luzes douradas. E haviam muitos arcos nas paredes e escadarias de mármore preto. Tudo muito gótico.

— Olá, Kitara — saldou Dimitri.

— Olá, meu querido — saldou a graciosa mulher. — Vejo que trouxe convidados. Olá Akai!

A criatura se curvou para a mulher.

— Kitara, gostaria de lhe apresentar minha filha Rebecca e o seu amigo Arthur — ele nos apresentou. — E crianças, essa é Kitara, minha avó.

— É um prazer conhece-la — disse Rebecca indo até a mulher e apertando sua mão.

Eu fiz o mesmo, e aquela mulher tinha a mão gelada como um picolé.

— O prazer é todo meu, princesa — respondeu ela.

Percebi que Rebecca ficou pasma quando aquela mulher tão jovem disse que era a sua bisavó.

— Mas a genética da nossa família é muito boa, não é Arthur?! — disse Rebecca admirada.

— É — respondi.

— Você também é muito bonita, minha menina — disse a mulher, e em seguida abraçou Rebecca. — Estou feliz em saber que tenho uma bisneta.

— E eu estou surpresa — disse Rebecca rapidamente. — Tudo isso é muito novo. E onde está o meu avô? Estou ansiosa para conhece-lo.

— Ele já vai descer — respondeu Kitara.

Em seguida, ouvimos passos vindos das escadas. E dentro de segundos, descia as um homem muito elegante com a pele muito branca como todos os habitantes daquela terra estranha. Estava vestido um sobre tudo preto, que com certeza que serviria em um cavaleiro do século XX, ele também usava uma cartola e tinha em uma das mãos uma bengala. E assim que nos viu no salão da entrada do seu castelo, o cavaleiro sorriu satisfeito e quando se aproximou; cumprimentou Dimitri e em seguida a Akai.

— Essa é Rebecca, minha filha — apresentou Dimitri.

Então, o homem olhou com seus belos olhos verdes claríssimos para Rebecca, e eu senti que ela ficou tensa.

Em seguida, tirou a cartola e seus cabelos longos e castanhos amarrados para trás foram expostos. Eu não podia negar, a família da Rebecca era muito bonita. Isso era.

— É um prazer conhece-la, minha neta — saldou o homem, formalmente, beijando o peito da mão de Rebecca enquanto ela ainda segurava a rosa azul.

— O prazer é todo meu — respondeu Rebecca. — Seu castelo é muito bonito — comentou ela.

— Obrigado — ele cumprimentou amavelmente. — Gostaria de conhecer o castelo e conversar com seu avô?

— Claro — ela respondeu.

— Então vamos deixa-los sozinhos — sugeriu a bela bisavó de Rebecca.

— Não, quero todos juntos nesse momento. Dimitri venha conosco, a filha é sua, você tem que ser um bom anfitrião — chamou o homem, olhando para que o seguíssemos. — E Akai, quando terminamos, irei à vilarejo falar com você sobre o problema da colheita das raízes.

A esqueleto gigante se curvou lentamente, agradeceu e em seguida saiu do castelo.

Subimos as escadas de mármore preto, e percebi que o rei Elec e a bisavó de Rebecca me olhavam estranho. Até que o rei não se conteve e perguntou:

— Esse menino nasceu colado nela, Dimitri?

— Não — disse ele sorrindo. — Eles são melhores amigos e Rebecca não quis vir sozinha.

— Entendo — disse ele olhando para os degraus à cima. — A primeira vez deve ser difícil. Mas você pode soltar a mão do seu amigo, minha querida. Veja, está começando a ficar roxa.

— Ela tem medo dele fugir, homens sempre fogem — comentou Kitara, olhando sarcástico para o filho.

Rebecca ficou vermelha e soltou a minha mão, mas pude ver em seu olhar que o trato continuava o mesmo. Eu não deveria sair do seu lado.

Chegamos em um corredor à cima, que tinha visão para o grande salão de piso escuro do castelo. Lá de cima as luzes douradas davam mais beleza e destaque.

— Por que a arquitetura desse castelo se parece tanto com a gótica da minha terra? — perguntou Rebecca, olhado admirada para baixo.

— Se parece, pois foi inspirada nela — respondeu Kitara.

— Como assim? — Rebecca indagou.

— Foi meu pai que construiu esse castelo — disse Elec se escorando no peitoril, ao lado de Rebecca. — Antes dele, nós da monarquia de Tenebris morávamos nas árvores junto à todos os outros habitantes, porém era muito difícil quando a estação fria chegava e tínhamos que nos mudar para outra parte da floresta.

Meu pai foi o primeiro a ir para a sua dimensão, minha neta. E lá ele viajou em segredo para muitos lugares, se encantou com as coisas que viu e trouxe inspiração para cá, o que o fez construir esse castelo e o vilarejo. Que foi uma ideia para que assim todos vivessem seguros. Ele também foi o primeiro a aprender a usar os portais, e por um descuido foi morto. Então, tive que assumir seu lugar. Desde então, vi muitas coisas, em seu mundo, principalmente onde o principal portal se abre, foi onde conheci sua avó Kate, ela era uma moça bonita assim como você — disse ele sonhador. — Mas se tratando de arquitetura, quis manter esse estilo, que meu avô trouxe para Tenebris.

— O gótico combina com esse lugar — disse eu.

E o homem sorriu satisfeito.

— Trás ainda mais beleza para a noite eterna — disse Rebecca, olhado para a rosa azul em suas mãos.

— Você é tão bonita — disse Kitara. — Seus cabelos azuis só mostram que é mesmo daqui. Mesmo que ninguém de Tenebris tenha cabelos azuis assim.

— Meus cabelos são loiros naturalmente — explicou Rebecca. — Eu os pintei de azul, por causa das luzes que eu via no teletransporte. Que agora eu sei de onde vem.

— Isso significa que herdou os dons de Dimitri — observou Elec, com uma mão no queixo. — Ou seja: ele deve ter lhe explicado o que acontece quando você usa esses dons.

— Sim — ela respondeu. — Ele me explicou que quando teletransporto passo pelo Rio Azul.

— Certamente — confirmou. — Você ensinou sua filha como fazer para chegar em Tenebris? Creio que a trouxe aqui você mesmo.

— Sim, meu pai — respondeu Dimitri. — Mas deixei para você ensinar a jovem Rebecca à como passar pelo portal.

— Será uma honra — afirmou ele. — Podem nos deixar sozinhos?

— Meu amigo pode ficar comigo? — perguntou Rebecca, nervosa. — Eu prometi que não o deixaria sozinho um minuto.

— Um herdeiro de Tenebris sempre cumpre sua palavra — comentou o rei Elec. — Então ele pode vir conosco.

Saímos andado pelos corredores e escadarias do castelo. Enquanto Dimitri desapareceu com sua avó.

Ficamos em silêncio por um bom tempo, eu já estava cansado de subir degraus. E nem percebi que estava novamente de mãos dadas com Rebecca.

Paramos de caminhar quando chegamos em um corredor parcialmente escuro e repleto de portas. Elec andava confiante, e nos levou até a grande porta no fim do corredor.

Assim que ela abriu. Nos deparamos com uma gigantesca biblioteca.

As prateleiras chegavam até o teto, que deveria ter uns oito metros. E eram de madeira. Se parecia muito com as grandes bibliotecas de castelo que víamos apenas nos filmes. E era mais iluminada do que restante do castelo.

— Meu deus! Isso é muito lindo! — exclamou Rebecca, soltando a minha mão e indo até os livros. — Veja Arthur! Tem livros da Terra aqui!

Corri até ela e fui olhar. Muitos eram em inglês.

— Você gosta das histórias do meu mundo? — perguntou Rebecca falhando um livro.

— Sua avó gostava, eu fiz essa biblioteca para ela. Antes meu avô possuía apenas uma sala para os arquivos de estudo de Tenebris. Kate amava livros, e teve a ideia da biblioteca — respondeu ele.

— Ela deve ter sido uma mulher incrível — comentou Rebecca.

— A mais especial e linda de todas — disse ele, como se se lembrasse com muito carinho.

— Meu pai não falou muito dela. Só que ela engravidou de um ser de outro mundo e 14 anos depois teve que ir embora.

— Kate sempre foi muito corajosa — disse ele. — Quando nos vimos pela primeira vez ela não ficou assustada. Pelo contrário, ficou curiosa para me conhecer. Todas as noites nós conversamos baixo, e logo ficamos amigos. Com o tempo ela ficou curiosa para conhecer Tenebris, e eu a trouxe para cá, ela ficou com os olhos brilhando assim como os seus agora. E com o tempo nos apaixonamos.

— E o que aconteceu quando meu pai nasceu? — perguntou Rebecca, colocando o livro no lugar.

— As coisas complicaram, mas embora tivéssemos que ser mais cuidadosos, Kate e eu continuamos a nos encontrar — ele respondeu. — Veja — tirou um livro da prateleira— , esse era o livro favorito dela "O Morro dos Ventos Uivantes. —  Ele sorriu quando olhou novamente para Rebecca.

Rebecca sorriu satisfeita e afastou os cabelos dos olhos.

— Eu também amo livros. E essa biblioteca é simplesmente, fantástica! — disse ela.

— Sua avó me ensinou a ler na sua língua. Já li este livro dezenas de vezes depois que ela partiu — disse ele olhando tristemente para o livro já surrado.

— Já faz muito tempo? — Rebecca perguntou preocupada.

— Faz alguns anos, Dimitri tinha 25 anos quando ela ficou doente e aceitou passar o resto da sua vida junto a mim. Ela foi muito feliz em Tenebris — murmurou tristemente.

— Posso imaginar quão feliz ela foi. Esse lugar é incrível — disse ela amavelmente.

— Sim, ela trazia ainda mais alegria para a vida de todos — ele afirmou.

— Eu posso imaginar — comentou ela.

Dimitri olhou para o livro por uns segundos e em seguida o colocou no lugar.

— Não vamos sair do foco — disse ele decidido. — Viemos até aqui para que eu lhe ensine a vir para Tenebris sozinha. Você quer?

— Sim, muito! — afirmou animada. — Quero conhecer todos os cantos desse mundo.

— Então venha comigo.

Elec nos conduziu até uma escada caracol que levava para o segundo andar da biblioteca. E lá se sentou atrás de uma mesa pequena, e pediu para que Rebecca e eu nos sentássemos na cadeiras a frente.

— Primeiramente me diga como você teletransporta? O que você sente e vê?

Rebecca ficou um pouco nervosa, e logo respondeu.

— Quando teletransporto, em primeiro lugar imagino para onde vou. Por isso, quando vou para um lugar pela primeira vez, procuro pesquisar para não ficar enrolada no teletransporte, como pensei que pudesse acontecer — respondeu ela. — E quando estou teletransportando. Vejo as luzes azuis e procuro ficar em paz.

— Igual ao que acontece com Dimitri — observou ele. — E agora você já sabe que quando isso acontece você passa pelo Rio Azul. Ou seja, passa por Tenebris.

— Sim.

— Então devo lhe contar sobre o Rio Azul — disse ele, se levantado e pegando um pergaminho na estante atrás de sí e o abrindo na nossa frente. Era um mapa, de um mundo com dois continentes. Um estava no norte e era branco, o que representava, que era congelado. O outro era Tenebris, que era cortado por um rio azul. Então, Elec começou a explicação. — Ao norte temos as terras sombrias e congeladas, lá moram criaturas que não temos contato, são selvagem e violentas. Porém, estamos seguros delas pois temos um oceano nos separando. E aqui temos Tenebris — disse ele com o dedo sobre o mapa. — É o nosso lar, uma terra mágica, de criaturas pacíficas, agraciada pela lua que ilumina nossas vidas e um céu azul e estrelado. Que torna nossa noite eterna encantadora.

— Sem dúvida — comentou Rebecca.

— E aqui temos o Rio Azul, fonte da nossa vida. Dependemos dele, ele é a nossa iluminação nos tempos de escuridão, ele é nossa cura e nossa maior riqueza. E meu avô descobriu que apesar de ser tudo isso. Ainda é um portal para outro mundo. Um mundo estranho, com criaturas amarguras e violentas. Mas que mesmo assim, existem exceções. Como Kate, que possuía o coração mais puro que já conheci.

Esse portal se tornou algo perigoso para o nosso mundo. E ninguém tem controle sobre ele. Depois que a família de Kate se mudou. Eu continuei a vê-la. O lugar onde o portal tem maior atividade é no Rancho Skinwalker, onde hoje existem pessoas curiosas. E isso ameaça nosso mundo.

— Você pensar em fechar a fenda dimensional? — perguntei.

— E romper o elo com meu filho? Jamais! Dimitri ama o seu mundo, e agora tenho uma neta. E mesmo que quisesse. Não tenho poder para fechar um portal.

— Você tem razão. Tenebris é um lugar maravilhoso. Mas amo minha vida na terra. Eu posso fazer visitas para o senhor, mas não deixaria minha família, nunca — disse ela.

— Eu sei, minha querida — disse ele fechando o pergaminho e o guardado. — Com tudo isso quero te dizer para ter cuidado quando vir para Tenebris. Para fazer isso você não precisa fazer algo muito diferente do que já faz. A diferença é que você pensará em vir para cá, e ao contrário do que acontece na terra. Você vai ficar presa no Rio Azul. Então terá que nadar para cima. E está aí o perigo — avisou ele. — Você terá que fazer isso muito rápido, ou então abrirá outra fenda dimensional alternativa. Ou estão morrerá sufocada.

— Isso já aconteceu alguma fez? — perguntei.

— Sim, menino — respondeu envergonhado. — E uma tragédia aconteceu. Meu pai faleceu preso no rio. Tudo por culpa dos terráqueos.

— Prometo que terei muito cuidado — disse Rebecca, se levantado e olhando no relógio.

Elec percebeu que ela ficou preocupada.

— Está na hora de voltar, não é mesmo? Sua avó fazia a mesma cara. Vocês são muito parecidas.

— Sim, tenho que voltar — disse ela indo até ele e pegando em suas mãos. — Mas prometo que vou vir aqui mais vezes, para você me mostrar e contar histórias sobre Tenebris.

Rebecca sorriu amavelmente e ele também.

— Vou chamar Dimitri para leva-la.

Em seguida, saímos da biblioteca. E descemos as longas escadas circulares. Até que chegamos no salão. De lá, o rei nos levou até uma sala elegante onde Dimitri e Kitara estavam na frente de uma lareira. E ambos ficaram felizes em nos ver.

— Como foi a conversa? — perguntou Kitara, andando até nós, enquanto suas asas douradas arrastavam no chão.

— Muito boa. Virei muitas e muitas vezes Tenebris — respondeu Rebecca feliz.

— Isso é ótimo, minha rosa — disse a mulher.

— Minha neta, sem dúvida é uma pessoa que merece todo o nosso amor e devoção. Mas infelizmente chegou a hora dela voltar para sua casa — disse Elec, elegante ao lado de Rebecca.

Dimitri olhou para o seu relógio de pulso e se levantou as pressas.

— E ela tem razão, já está quase na hora dela levantar da cama, e melhor irmos logo, antes que sua mãe sinta sua falta, minha filha — disse ele apressado. — Até mais ver, meu pai.

— Até mais ver, Dimitri.

— Tchau avô e bisavó — disse Rebecca, enquanto Dimitri saia as pressas para a porta do castelo.

E eu apenas acenei para as estranhas pessoas.

Saímos do castelo as pressas. Rebecca me puxava para que eu andasse mais rápido. Enquanto ela e o pai falavam sobre o horário e sobre passar pelo portal, pois o teletransporte não funciona de dimensão para dimensão em Tenebris. Enquanto isso aproveitei o máximo para observar aquele lugar. Atrás do castelo um céu azul repleto de estrelas fazia contorno para uma lua cheia enorme e muito clara que sua luz azul iluminava todo aquele mundo. E deixava o castelo ainda mais lindo. E o mesmo acontecia com o vilarejo, e com a floresta, onde entre as árvores, o azul dos raios lunares passava.

Quando chegamos até a margem do Rio Azul. Sem pensar duas vezes, Dimitri agarrou nossas mãos e pulou no rio.

Mas uma vez me senti sendo puxado. E quando me dei conta, estava na casa de Dimitri, e sua loba Nix apenas levantou a cabeça para nos encarar.

— Estou tão cansada — bocejou Rebecca.

— Vá para casa e durma bem, minha princesa.

Rebecca sorriu.

— Quem diria que sou uma princesa — disse ela admirada. — Muito obrigada por me mostrar a verdade. Eu gosto muito de você.

Rebecca soltou minha mão e correu para abraçar seu pai.

— Boa noite. Ou bom dia — disse ela se afastando de seu pai.

— Boa noite — disse ele emocionado.

Rebecca foi na minha direção e pegou nas minhas mãos, ainda segurado a rosa azul, um pouco amassada, mas ainda muito bonita.

— Vamos para casa — disse ela.

E teletransportou.

Chegamos no meu quarto e ela se atirou na minha poltrona. E eu na minha cama.

— Hoje foi muito legal — disse eu olhando para o teto e em seguida para Rebecca. — Quem diria!

— É... Quem diria — disse ela cansada.

— Final de semana você vai ir para Tenebris?

— Posso tentar — disse pensativa. — Mas o que eu quero mesmo é descansar minha mente depois de tanta loucura e novidade. Preciso colocar as ideais no lugar. Por isso acho que quando minha mãe não precisar de mim durante o final de semana, vou me mandar para o meu refúgio. E quando estiver pronta, tento seguir os conselhos do meu avô e ir para Tenebris. — Ela ficou pensativa por um segundo. — É estranho pensar que tenho avô e bisavó.

— Muito gelados, por sinal.

— Sim — ela gargalhou. — É muita loucura. EU SOU MAIS ESTRANHA DO QUE PENSAVA! — exclamou em voz baixa, porém muito divertida. — Eu preciso do meu refúgio!

— E quando vou conhecer seu refúgio? — perguntei me sentando na cama.

— Logo, logo, meu caro.

Mesmo com a pouca iluminação do meu quarto, pude ver seu sorriso sarcástico.

— Hum — respondi. — Quero ver em.

— Provavelmente eu te leve lá semana que vem — disse ela pensativa.

— E Tenebris?

— Vamos para lá também — afirmou ela.

— Então semana que vem vai ser legal — comentei me deitando novamente.

— Vamos viajar para menos lugares semana que vem — disse ela se acomodando melhor na poltrona. — Você vai gostar do meu refúgio, é bem tranquilo.

— Por mim tudo bem — respondi.

Ela jogou a cabeça para trás e suspirou.

— Essa semana foi uma loucura! Estou tão cansada. Preciso espairecer.

Minha resposta foi um bocejo involuntário.

— É melhor eu ir para a minha casa — disse ela se levantando. — Também estou com sono.

Enquanto ela bocejava, me sentei na ponta da cama para tirar os tênis e me despedir.

Ela veio até mim e bagunçou meus cabelos.

— Boa noite — disse ela, e desapareceu.

ETERNAUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum