ETERNA

Capítulo 6 Jogando os Problemas no Buraco

... Literalmente

Foram poucas horas de sono. Mas parece que quando você fica acordado até tarde estudando ou fazendo qualquer trabalho chato, você fica muito mais casando do que quando passa a noite se divertindo.

Posso dizer que em toda a minha vida, nunca tinha me divertido tanto. Embora estivesse apavorado com a notícia de saber que minha melhor amiga da infância tinha um super poder maluco, e de estar do outro lado do mundo. Fazia tempo que não me sentia "vivo". Quando éramos crianças, eu fugia com Rebecca pela rua, sem o mínimo de culpa, sem hora para voltar. Ela não se importava com a hora e com a sujeira que chegaria em casa. Apenas aproveitava o máximo possível para se divertir. E parece que ela continuava a mesma. Eu havia mudado, a vida me tornou um cara sério e receoso. Já não era mais aquela pessoa que fazia o que era divertido sem pensar nas próximas horas. Não podia julgar Rebecca por ser a pessoa que eu queria ser. Mas sentia que ela queria a companhia do velho Arthur, e para falar a verdade, eu também sentia falta dele.

A cada segundo que olhava para o teto e afundava minha cabeça no travesseiro. Aquela história parecia cada vez mais maluca. Como assim? Uma pessoa pode se teletransportar de uma hora para outra? Sem dúvida a noite anterior havia mudado alguns dos meus conceitos de realidade. Que sim, pode ser bem insana. Mais do que imaginamos.

Eu tinha uma mania de contar tudo para a minha mãe. O que as vezes me ferrava, porque no final tudo se voltava contra mim. Eu sabia que a partir daquela manhã, teria que tomar cuidado com as palavras, não só com a minha mãe, mas sim com todo mundo. Eu não queira decepcionar Rebecca, não depois dela me revelar seu maior segredo, e de ter depositado tanta confiança em mim. E também, se eu rompesse nosso acordo "eu sumiria misteriosamente" ela prometeu, e me pareceu muito séria. E eu não gostaria de vê-la cumprir essa promessa.

Levantei da cama, não poderia ficar pensando na minha noite mágica em Tóquio o dia todo. Tinha que continuar minha vida normalmente. Mesmo sabendo que Rebecca voltaria a ser minha amiga - eu acho - eu teria que esconder isso de todos. Era o nosso acordo... O que acontece de noite, fica na noite. Isso era quase o lema dela. O que devia ser difícil, viver uma vida dupla assim. Rebecca sempre me pareceu tão desapegada. Por que ainda continuava nessa vida quando poderia ter o mundo? Nunca entendi a mente de Rebecca, e nunca vou entender.

Levantei da cama, e notei que ainda usava a mesma roupa que fui para Tóquio com Rebecca. Quando tirei a camisa, senti o perfume de jasmim dela. Talvez tivesse ficado lá quando ela me abraçou. Era uma prova que a noite passada havia sido real. Sorri sozinho como um bobo. Sim, aquela loucura era real.

(...)

Cheguei na escola e o sinal havia acabado de tocar. Corri para a porta da sala, pois se me atrasasse o professor entraria na sala antes de mim, e teria que me explicar.

Consegui chegar a tempo, e logo encontrei Tiago e Alana conversado próximo à porta da sala.

Passei pelo grupinho de Rebecca, e senti o forte perfume dela. Não a olhei, queria cumprir nosso acordo da melhor maneira possível. Estava feliz por ela ter me escolhido como seu companheiro de viagem. E não o merda do Luís. Não sei porque ela perdia tempo com um cara tão tosco.

Assim que cheguei até meus amigos, não me contive e olhei para Rebecca. Ela me olhou no mesmo momento. Mas logo disfarçou. Ela também estava seguindo o plano. O que aconteceu na noite, fica na noite.

Alana me recebeu com um abraço e Tiago com um comprimento de mãos. Um soquinho básico.

Perguntei da Cris. E Alana disse que a amiga estava doente.

Fiquei triste pela garota. Mas feliz, pois isso significava que Alana passaria mais tempo comigo. E não foi diferente.

Na sala de aula, Alana sentou-se ao meu lado, Tiago não se importou e se sentou na clase a frente, escorou as costas na parede e ficou me lançando olhares significativos. Ele conseguia ficar mais animado do que eu. Isso era engraçado.