Capítulo 5 Companheiro de Café

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O despertador tocou, mais eu não quis levantar da cama. Por isso, fiquei por algum tempo sentado, olhando para o nada, tentando assimilar a noite anterior. Rebecca parecia tão real, tinha que ser real. Mas por quê? Não conseguia compreender, não fazia sentido algum. Eu não poderia conviver com aquela dúvida. Por isso naquela mesma noite, tentaria fazer ela falar, ou tocar nela. Aquela era a noite da verdade. Não deixaria aquela garota me enlouquecer. Sendo real ou não.

Na escola tudo foi normal. Alana e sua amiga vieram cumprimentar Tiago e eu. Ela conversou comigo durante alguns minutos na aula e no recreio, e em seguida desapareceu com sua Cris.

Tiago continuava a tentar a aproximação com a Cris, mas a garota começou a ignora-lo. Ao contrário de Alana, que permanecia e falar e sorrir para mim, do mesmo jeito.

Na aula não pude prestar atenção. Meu olhar estava fixo em Rebecca, ela agia normalmente. Permanecia no fundão, sorrindo e falando alto como sempre. E como de costume, nem olhando na minha direção. Eu sentia que Tiago e Alana notaram minha estranheza. Mas não ousaram me perguntar o motivo.

No recreio, ao lado de Tiago, fiquei dando voltas infinitas em volta da escola. E naquele dia, Rebecca e seus amigos decidiram fazer o mesmo. Só que vindos do lado oposto. Por isso, dei de cara com ela umas seis vezes, e em cinco delas, Rebecca passou e nem me olhou. Como eu já esperava, pois não éramos amigos. Não esperava que ela viesse me cumprimentar, nem nada. Na verdade, esperava apenas algum ato que confirmasse as minhas suspeitas. A dúvida da noite anterior estava me matando. Eu olhava para Rebecca fixamente, estava obcecado em perceber alguma pista. Ela estava tão perto e mesmo assim tão distante, ela sorria e chamava a atenção te todos seus amigos para sí, nem se importava com a minha existência. Em nenhum momento durante as cinco voltas ela me olhou. Eu não conseguia pensar os motivos que levaram aquela garota a invadir o meu quarto. Quer dizer... se ela realmente tivesse feito aquilo, talvez não, e tudo fosse apenas uma loucura da minha cabeça. Mas aquela noite em questão, eu iria tomar a iniciativa.

Na sexta vez que nos cruzamos, quando faltavam poucos minutos para terminar o recreio. Me surpreendi com o modo que Rebecca finalmente me olhou, repentinamente como nunca tinha me olhado na escola. Seu olhar era o mesmo da garota misteriosa, que se sentava na minha poltrona e sorria travessa. Por alguns segundos ela era a Rebecca Luz que eu via todas as noites. Quando nos distanciamos por alguns passos, olhei para trás, e ela continuava a me olhar, enquanto seus amigos tagarelavam. A medida que que nossos amigos avançaram e a distância entre nós aumentou, ela voltou a conversar com seus eles e não voltou a me olhar.

— O que você tem? — perguntou Tiago,  quando percebeu que eu não me mexia.

— Nada. — Olhei para ele e o sinal tocou.

Voltamos para a sala e não comentamos mais sobre o assunto.

O restante da aula foi consideravelmente normal. Pensar em Rebecca ainda me transtornava e eu fazia mil planos para conseguir me livrar daquela dúvida.

(...)

Chegando em casa, minha mãe estava um pouco melhor, até conversava com meu pai. Pelo que entendi, haviam feito as pazes. Minha mãe tinha uma paciência de monge com ele.

Assim que terminei de jantar, fui direto para o meu quarto. Nem retirei o uniforme e me joguei na frente do computador. Convidei Tiago e mais uns amigos de outros estados para o meu "squad". E começamos a jogar. Se eu agisse normalmente. Ela iria aparecer. Isso eu tinha certeza.

E não foi diferente. Após trinta minutos de jogo na escuridão do meu quarto. Ouvi um ruído vindo da direção da minha poltrona. Me virei lentamente, e Rebecca estava lá. Sorrindo travessa.

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