d e z o i t o

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lorenzo

Enquanto eu limpava o balcão da adega, ouvia Jimmy cantando trechos de Matilda do Alt J enquanto colocava as novas garrafas de Bourbon nas repartições decorativas... O cara canta muito, mas não tem coragem de cantar pra mais de duas pessoas. Tem vergonha.

— O porque de tanta animação? —  Perguntei em uma curiosidade sutil.

— Nada — Balançou a cabeça em negação, fazendo aquela franja cair em sua cara. Mas então se virou para mim. — Bem...

— Bem...?

— Summer aceitou ir ao cinema comigo hoje a noite. Vamos assistir Maligno. — Contou, se referindo a um desses filmes de terror macabro que ele gosta.

Fiz uma careta imaginando a Summer assistindo isso, eu a conhecia muito pouco, mas não parecia ser algo que a agradaria.

— Tem certeza que essa é uma boa escolha?

— Ela disse pra eu escolher um filme que eu quisesse ver. — Disse o Jimmy.

Pois bem, olhando por esse lado... Ainda era ruim.

— Só tenta ser legal. Ela é amiga da Malvie e...

Parei, vendo a expressão dele, este então começou a rir.

— O que foi? — Questionei entre-dentes, não entendendo qual era a graça.

— Você tá caido por essa mulher, né? Tá muito na cara. Você está estirado. É um tapete pra ela pisar. Não há nada mais no chão do amor do que você. — Disse. Pareceu ofensivo?

Eu não estava assim...No chão, não como um tapete.

— Chão do amor? — Perguntei. Nunca tinha ouvido essa expressão. Achei uma merda.

Antes que ele pudesse me dizer de onde tirou essa expressão porcaria, avistei, Malvie Wright, linda, simplesmente, linda, dentro de sua farda entrando na adega. Okay, talvez eu estivesse em queda nesse momento.

Mas em seu encalço estavam mais dois policiais que costumam andar com ela, e um homem que eu nunca vi na vida.

— Bom dia, Coban. — Disse ela, parecia sem graça por estar aqui. — Jimmy. — Cumprimentou o outro em uma aceno de cabeça.

Troquei um olhar com ela que me lançou um repuxar no canto dos lábios, a prévia de um sorriso tranquilizador. Como se dissesse "está tudo bem".

— O que os trazem aqui? — Perguntei,  tentando entender, notando o homem desconhecido atrás de Malvie, tocar o ombro desta e se por a frente. — O que querem? — Enfatizei.

— Bom dia. Primeiramente, eu sou o novo delegado, Ulisses Libermann. — Disse o homem me estendendo a mão, tentando soar educado. O olhar dele era como de uma águia, parecia ler a mente, deduzir coisas. E eu apertei de volta, murmurando um "Lorenzo Coban" em apresentação.

Na verdade, eu não fazia questão nenhuma.

— Ainda não me responderam. — Falei, afinal eu preferia que as coisas fossem direto ao ponto.

— Lorenzo... — Malvie chamou a atenção pra si, sendo cautelosa. — Não sei se sabe, na verdade, mas ontem, o juiz Whittaker, foi assassinado de madrugada, em casa. — Contou.

Isso não era comum... Não em Harrow. Eu tinha visto o juiz uma ou outra vez na vida, de longe, então não me abalei com sua morte, além da surpresa.

— Ainda não entendi o que fazem aqui. — Disse Jimmy, do pé da escada.

— Ontem pela tarde, testemunhas viram o juiz entrar na adega. — Disse o novo delegado me surpreendendo. — Não estamos colocando sobre vocês as suspeitas, mas precisamos apurar os fatos. — Completou calmo. Mas eu via a desconfiança singular em sua feição.

ResoluçãoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora