d o i s

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malvie

— Pai, trouxe o vinho, espero que seja bom. — Falei colocando a sacola da adega em cima da bancada. Hoje era aniversário de casamento dos meus pais, e ele estava preparando uma surpresa especial para minha mãe, com minha ajuda. "São 30 anos muito bem vividos" ele dizia, sobre a vida deles juntos. E claro, dessa bela história de amor nasceu meu irmão mais velho, Caius, e eu, claro. Caius, com seus vinte e nove anos era o delegado mais jovem de Harrow. Um orgulho para o meu pai, um ex sargento das forças armadas americanas que largou tudo para viver um amor com minha mãe, uma inglesa, já eu, aos vinte e três, tendo apenas um ano na polícia local, me iludia com um futuro em Londres, onde poderia deixar a ação, sonhando sempre com a área investigativa da Scotland Yard.

— Deixe-me ver querida. — O mesmo disse se aproximando e abrindo a sacola da adega.

— Malvie, esse vinho é péssimo. — Disse torcendo os lábios, olhando a garrafa. Como assim?

— Que? Mas foi o que o rapaz da adega que me recomend....— Caralho! Como eu não pensei? Era óbvio que ele estava de vingancinha porque o levei preso. Mas se ele estava em uma festa com drogas e menores, a errada sou eu? Ridículo.

— Ah, pai, essa garrafa está errada, ele deve ter a trocado. Vou buscar a certa. — Falei pegando a garrafa com ele e colocando de volta na sacola.

— Quer que eu vá? — Perguntou enquanto eu pegava a mesma.

— Essa luta é minha. — Proferi, o quão infantil e imaturo um cara tão bonito, digo, como ele, pode ser?

Peguei meu capacete sobre a bancada, sai de casa, prendendo meu vestido entre as pernas, usando minhas botas de cowboy que tia Veronica trouxe direto do Texas, e costurei a cidade com minha moto até chegar na adega onde trabalhava o... rapaz.

Estacionei minha preciosidade ao lado de uma outra Harley em uma vaga apertada, e sai dela com certa dificuldade por isso, e fui a passos firmes para dentro da adega, assim que cheguei notei que não havia ninguém no balcão. Olhei em volta, não tinha ninguém ali, mas eu ouvia em alto e bom som “Smell like teen spirit" do Nirvana no andar de cima. Boa música.

Harrow era uma cidade muito pacífica e deixar o atendimento sozinho não era problema, digo, por experiência, como policial, que as coisas aqui são demasiada calmas, até demais.

Meus colegas e eu raramente andávamos armados a paisana, por exemplo. Nunca houve real necessidade.

— Ei? — Chamei alto e não obtive resposta, possivelmente por conta da música. Bufei impaciente e me encostei contra o balcão. E nada.

Respirei fundo e tomei uma decisão encarando as escadas.

Vamos Malvie! Seus pais merecem ter um jantar incrível hoje.

Subi as escadas decidida, mas quando cheguei no último degrau a coragem se esvaiu. Era tão feio entrar sem ser convidado, mas também era feio indicar vinhos ruins e aquele cara fez.

A passos vacilantes passei para a parte de cima, tendo uma porta lateral, e pela fresta notei, ser um banheiro e passei por ali, segui pelo corredor estreito, feito por uma repartição grande de madeira, repleta de bebidas, não me deixando ver do outro lado.

Ainda retesante, dei a volta, ouvindo Nirvana ser substituído por Bon Jovi, e automaticamente minha gartanta e meus lábios secaram.

Merda, Malvie!

E ali estava ele, o infrator, sobre uma escada ajeitando garrafas de vodka, de costas pra mim, sem camisa, usando apenas uma calça jeans. Infelizmente não pude deixar de reparar as costas largas levemente bronzeadas de seu corpo esguio, tentei de todas as formas desvendar a tatuagem que não reconheci o desenho, em seu ombro. Eu tinha pego real aversão a ele, mas nem toda aversão me fez ficar imune aos atributos físicos.

ResoluçãoWhere stories live. Discover now