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lorenzo

Eu estava sozinho, depois de tomar banho no banheiro da adega e me trocar ali mesmo, escovei os dentes, dei um jeito no cabelo, e passei desodorante e perfume, eu definitivamente gostava de perfumes, tinha vários, ser um cara cheiroso não era em nada ruim. E se eu não fosse, minha mãe me colocaria pra fora de casa. "Homem fedido na casa dela não" era o que ela dizia.

Assim que terminei peguei minha mochila e a escondi no armário abaixo da cuba, sem esquecer de colocar preservativo na carteira. Estava anoitecendo, Jimmy havia saído mais cedo por algum motivo que ele não quis me explicar. Verdade seja dita, ele andava estranho há tempos, me evitando. Temos a mesma idade, o conheço há alguns anos, antes mesmo de meu pai o contratar, ele mora com a mãe, uma professora aposentada, na rua de trás, era alguém que poderia considerar um amigo, e eu via o cara cada vez mais perdido, ele parecia viver com medo. Não de nós, mas de algo além. E claro que eu, um curioso dos infernos, iria descobrir o que era.

Assim que tranquei a adega, peguei minha moto, e segui pela rua no caminho até a taberna que tinha acima de si um hospedaria, eu passaria para ver Octavia, era uma jovem descendente de ciganos, estava de passagem, corria mundo sozinha, uma garota muito bonita, da qual eu estou conversando há uns dias por mensagem depois que ela foi comprar rum na adega, mas não passaria de algo de momento, de uma noite, sem nenhum compromisso, claro.

Enquanto eu me guiava pelas ruas quase sem nenhum trânsito, avistei uma outra Harley cortando um carro atrás de mim. Uma mulher sobre ela, e eu reconheci mesmo com o capacete de lentes escuras.

Sargenta Wright.

Ou apenas, Malvie.

A vi acelerar, obviamente notando que era eu a sua frente, e eu reduzi para andarmos lado a lado. Sorri dentro do capacete, nos vendo em uma competição idiota sobre qual roda estava mais a frente.

Subi a lente do capacete com uma das mãos.

— Não sabia que a policia podia fazer esse tipo de corrida. Racha é proibido! — Tive que gritar para que ela escutasse minha brincadeira.

A vi também subir a lente de seu capacete.

— Ninguém aqui está fazendo racha ou infringindo leis de trânsito, Coban. — Gritou de volta, a voz entrecortada pelo vento, e talvez a forma impetuosa em que ela proferiu meu sobrenome tenha me feito sorrir.

— Se você diz. — Soltei, a vendo me ultrapassar e virar a rua, em um desafio implícito, sem nunca passar do limite de velocidade. Haviam algumas coisas presas em sua garupa o que podia ser indício que ela também tinha um compromisso. E a notando assim, me fez pensar que possivelmente o delegado estava bem.

Meu caminho para a taberna era outro, mas eu me vi a seguindo, tentando ultrapassa-la já que o bairro residencial que passávamos estava sem movimento, não havia nada além dos postes que iluminavam as ruas, enquanto eu a seguia sem saber o destino, com apenas com os sons dos motores e de nossas rodas contra o asfalto.

Acelerei conseguindo ultrapassa-la, notando um sorriso em seu rosto, enquanto ela tentava me acompanhar, ambos sem poder sair do limite de velocidade, e assim cruzamos varias ruas, eu já não conseguia não rir como um besta, do quão infantil aquilo era, e... Pensar que eu estava me divertindo com isso.

Entramos ambos em uma estrada de terra, sem sinalização ou radares. E então ela acelerou causando uma cortina de poeira, e eu segui seu encalço.

— Quem chegar na árvore grande, sem passar de oitenta, vence. — A ouvi dizer, e isso me fez rir, afinal ainda estamos cumprindo leis?

Então eu olhei para a grande árvore de enormes raízes, no horizonte. A estrada era larga, o que nos dava certa segurança.

ResoluçãoWhere stories live. Discover now