q u a t r o

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lorenzo

Meu pai me olhava de esguelha a cada vez que passava por mim na adega. Seu olhar dizia "não acredito que você amassou meu carro".

Porque ele não sabia da minha mentira. Preferi dizer que eu mesmo deixei a moto cair e amassei o carro, do que mencionar a sargenta Malvie.
Por algum motivo que nem eu mesmo entendia, preferi não expor a verdade pra ele. Mas agora, ela tinha que lidar com o concerto, que eu já tinha mandado fazer pela manhã, em uma oficina de um conhecido a algumas quadras da adega. Contando com que ela me encontrasse lá na hora do almoço.

Por volta das dez horas da manhã, meu pai resolveu ir em casa, enquanto eu estava ali, olhando para o tempo, pois para o movimento estar mais parado, só se estivéssemos fechados.

Bufei impaciente, girando uma caneta entre os dedos, e arregalei os olhos surpreso ao ver Malvie e um homem adentrarem a adega.

Ela estava dentro da farda. E merda,  ela ficava um pecado dentro dela. Eu não sou um homem de fetiches, mas essa farda...

Fui flagrado, pelo homem de terno e óculos escuros ao seu lado. Ele pigarreou alto, para chamar minha atenção. Quem ele era?

— Oi. — Ela disse, e parecia constrangida por algum motivo.

— Oi. — Respondi, dando a volta no balcão. — Marcamos mais tarde. Algum problema? — Fui direto, chegando perto deles.

— Na verdade, é uma resolução... — Começou, mas foi cortada pelo homem ao seu lado.

— Viemos trazer o dinheiro para pagar o concerto da sua moto e do carro. E claro, para que Malvie se desculpe com seu pai. — Disse ele, com ar de superioridade, coisa que me deixava irritado.

— E você quem é? — Perguntei, cruzando os braços na frente do corpo.

— Delegado Wright. É um prazer conhece-lo Lorenzo Coban. Tudo o que sei sobre você, está na sua ficha policial. — Ele disse me estendendo a mão, me deixando um pouco surpreso, mas tentei não deixar transparecer.

— Eu não sabia sequer da sua existência, delegado. — Rebati, e apertei sua mão, firme. O encarando.

— Com mais alguma passagem pela delegacia, você logo iria descobrir. — Disse ele.

— Caius! — Malvie protestou, o repreendendo. — Infrat... Digo, Lorenzo, ele é meu irmão, e está em um mal dia, releve. — Completou, sorrindo amarelo. Tentando contornar o que o irmão disse e a tensão que se instalou.

Acho que agora eu concordo com meu pai. Seria mais seguro pra mim, manter distância dela. Um irmão delegado?

E porque eu iria querer proximidade? Ela é só mais uma garota bonita, que fica bem dentro de fardas, existem muitas assim. Que gostam de motos então? Várias. Que tem esse olhar, essa boca e esse corpo? Inúmeras.

Se bem que em Harrow, a situação quando o assunto é mulher, era definitivamente uma tragédia. Lugar pequeno demais, com inúmeras famílias tradicionais.

Dessas garotas com quem já sai, depois de passarem a noite comigo, sofreram da síndrome de Santo Antônio. Na verdade, esse é o nome que o meu pai dá as moças que estão em uma severa busca por marido.

Eu não era do tipo que iludia ninguém. As garotas com quem saio bem sabem. Te amo a noite inteira, mas esqueço tudo pela manhã. 

Não queria ser um cretino, mas também não namoraria sentado em um sofá sob o olhar do meu sogro. Eu não podia chamar atenção para mim, mas os pais de família me castrariam com um machado se pudessem.

ResoluçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora