Capítulo 22

4 0 0
                                    

A única informação que Custódio possuía era um nome. Nada de foto, tão pouco endereço. Francine não se lembrava do nome da rua onde viveu até os dezesseis anos, antes de ter sido metida para fora de casa pelo pai. Dentro da delegacia, o policial Custódio começou a investigar, o nome, José, era muito comum; quantos 'Josés' existiriam no Brasil, inúmeros, mas um José da Silva, nem se fala, eram muitos.

Vestido a paisana pegou o carro, um emprestado de um amigo da polícia. Contou toda a história ao colega de farda e esse se dispôs a ajudar, a ajuda veio através do empréstimo do veículo.

De sinto de segurança colocado ligou o carro, pisou no acelerador e sentiu o ronco forte do motor novo em folha. O veículo era simples, mas seria o ideal para tão nobre missão. Saiu da delegacia em direção à terra natal de Francine, lá procuraria por José da Silva, o pai da moça.

Chegando a cidade estranhou a calmaria. Na rua poucas pessoas, carros também, só alguns, a maioria bem velhos. A calçada era habitada por cadeiras de vime onde senhoras sentavam em rodas, fofocando e fazendo tricô. A cidade tinha uma praça onde homens de cabelos de cor de algodão jogavam dominó e cartas. Quando Custódio surgiu na cidade com o carro, de óculos escuros e observando tudo, todos voltaram suas atenções ao forasteiro.

As crianças pararam de jogar bola, as bonecas das meninas foram deixadas de lado e até as senhoras jogaram suas linhas e agulhas no chão para ver quem era o intruso.

- Esse povo é muito esquisito. Parece até que ninguém entra nessa cidade, parecem isolados do mundo. –Pensou ele.

Foi devagar com o carro, olhando para os lados, prestando atenção em tudo. Não notou nada de diferente, nenhum rosto ali se parecia com o de Francine, claro, a moça não falou com quem se parecia, por isso a tarefa parecia ser mais complicada ainda.

Parou o carro na frente de uma casa de portão de madeira, o portão não tinha pintura. Desceu do carro. Dentro da casa havia uma senhora, aparentava ter mais de oitenta anos de idade, estava sentada numa cadeira de balanço. Quando Custódio caminhou na direção do portão de pronto a mulher se levantou. Era uma senhora de estatura baixa, magricela, e com poucos fios de cabelo em sua cabeça. Seus olhos eram de um azul forte, escuro, impactantes. Apoiada em uma bengala desceu os três degraus de escada que tinha na frente da casa, encostou-se ao portão, deu uma ultima olhada em Custódio e disse:

- E você meu rapaz. Quem é você? – Questionou ela, de olhar desconfiado.

Encabulado Custódio sorriu antes de dar sua resposta.

- Oi, meu nome é Ezequias Custódio, pode me chamar de Custódio, se quiser. Eu estou aqui à procura de uma pessoa, José da Silva, a senhora o conhece?

Por milésimos de segundos o ar faltou, o mundo girou, e senhorinha não foi ao chão graças às mãos espertas de Custódio que a seguraram.

- A senhora o conhece? – Ele quis saber.

Com bastante dificuldade e as mãos trêmulas a mulher abriu o portão. Com o auxílio de Custódio subiu as escadas. Já dentro da casa Custódio sentou em um sofá de dois lugares, enquanto a mulher se acomodou em uma cadeira. A casa simples tinha cortinas nas janelas, vasos de plantas espalhados por todos os cantos, um tapete amarelado no chão e as paredes tinham a pintura descascada, mas dava para se notar um resquício de tinta verde claro.

- A senhora conhece José da Silva? – Perguntou Custódio. Ele não queria demonstrar empolgação, mas seu coração pulava no peito.

A mulher ficou em silêncio por um bom tempo. Ela não ia falar, era perda de tempo. Custódio já se preparava para ir embora quando finalmente a velha abriu o bico.

Em nome do paiWhere stories live. Discover now