Capítulo 6

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Mais um dia e lá está Francine, de cigarro enfiado entre os dedos e o pensamento há 300 km de distância. Pobre dela. Foi expulsa de casa pelo pai, logo após a morte da mãe. A coitada morreu de desgosto depois de ver a filha menor de idade deitada com um homem mais velho. E não era qualquer pessoa, se tratava do prefeito da cidade onde viviam. Para abafar a situação, e ao mesmo tempo não ficar mal falado, o pai resolveu botar a filha para fora de casa, só com a roupa do corpo, sem dinheiro e sem sorte.

E Francine pousou em terras paulistanas; magra de doer os ossos e com o rosto maltratado, nem parecia ser a menina cheia de sonhos, de 16 anos, que havia feito a maior besteira de sua vida, deitar-se com um homem mais velho. Mas ela não teve culpa, e quem iria acreditar nela? Para todos, ela não passava de uma vagabunda mentirosa. Apesar de tudo, Francine alimentava dentro de si um sonho, o de reencontrar o pai e ter o perdão dele, mas ela achava isso impossível.

Terminou o cigarro, e acendeu mais um logo em seguida. A noite anterior tinha sido excelente, oito homens haviam ido se deitar com ela, um recorde para uma menina tão tímida igual ela. Era grata a Quitéria por tudo. Numa noite qualquer, um frio danado e uma garoa fina; deitada na entrada de uma loja de roupas dormia profundamente; não percebeu os passos que se aproximavam dela, e acordou assustada quando sentiu a mão de alguém tocando em seu ombro, era Quitéria. De cabelo loiro e sobrancelha fina, calça jeans colado no corpo e a boca se movimentando num ritmo frenético, ela mascava chiclete.

Francine não entendeu nada. Principalmente quando a mulher sentou-se ao seu lado e lhe ofertou um cigarro, ela que nunca tinha botado nada ilícito nos lábios teve sua primeira vez e depois daquela noite nunca mais largou.

Foi convidada a morar no bordel. Teria cama limpa, roupas cheirosas, comida e banho e uns trocados, mas em troca teria de se deitar com os homens que frequentavam o lugar. De pronto recusou e saiu andando, arrastando um cobertor velho. Quitéria sabia no fundo do coração que aquela menina de cabelos loiros e lisos e rosto angelical não resistiria a maldade das ruas por muito tempo e mais cedo ou mais tarde procuraria por ela.

E não deu outra. Quase um mês depois, magra e com os olhos afundados num principio de caveira, Francine apareceu; batendo em sua porta e pedindo por comida. Dentro do bordel, Francine comeu euforicamente o arroz com feijão que estavam em seu prato; depois lambeu o prato passando a língua pelas beiradas. Ao ver isso uma das meninas comentou:

- Se faz isso com um prato, imagina com uma... – E não completou, pois foi interrompida por outra.

- Deixa a menina em paz.

Com 16 de idade ela não poderia se prostituir. Claro que isso sempre acontecia. Meninas menores de idade, tantas mais novas que Francine, que povoavam as ruas do centro da cidade em troca de dinheiro por minutos contados de sexo sem proteção. A solução encontrada por Quitéria foi colocar a menina em outros afazeres. Era obrigação de Francine, lavar, passar e servir as moças; comia o que sobrava e quando não restava nada, vivia com água e um pedaço de pão duro, mas não ligava, apesar da humilhação.

Quando alcançou a maioridade se deitou com o primeiro cliente. Depois de terminar e ver o homem fechar a porta, sentou na cama e cobrindo o corpo com o lençol sujo, chorou feito uma criança

Em nome do paiWhere stories live. Discover now