Capítulo 11

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Custódio saiu da igreja tarde da noite, o paletó aberto e a gravata afrouxada, aparentava cansaço. Ficou na igreja ajudando Cláudio e outros homens na manutenção do salão. A pintura descascada, a iluminação precária e um vazamento incomodava a todos os frequentadores. Dona Matilde era a que mais se queixava. Reclamava da cor desbotada das paredes, das goteiras que caiam sobre os fiéis e da incapacidade dos homens em buscar melhorias para a igreja.

Cláudio estava sem paciência com ela. A mulher que em nada ajudava e só criticava, atrapalhava os planos de expansão da igreja. O grande sonho do pastor era prosperar. Fazer a sua humilde comunidade crescer e render frutos, mas para isso precisaria do apoio de todos. Matilde surgiu pela primeira vez na igreja numa tarde ensolarada de domingo. Vestia saias até os joelhos e uma camisa de botão fechada até o pescoço, uma sombrinha de estampa vermelha, a mesma cor das paredes do bordel, protegia aquela mulher, de cabelos desbotados, do sol.

Nessa tarde a igreja estava tomada de gente, a grande maioria de pé. Matilde entrou fazendo pose, de peito estufado, um ar de arrogância, uma petulância assustadora. Todos se voltaram para ela, nem as palavras acalentadoras do pastor Cláudio eram suficientes. Matilde fechou a sombrinha, guardou-a em uma bolsa e pediu para que uma moça sentada em uma cadeira se retirasse, pois uma dama igual a ela não poderia ficar ali em pé, seus calcanhares doeriam, e a moça de cara fechada obedeceu àquela ordem um tanto contrariada.

E lá ficou Matilde, em silêncio e sentada, assistindo ao culto; vendo com seus olhos acusadores o vai e vem histérico do pastor. Quando o culto chegou ao fim, Matilde encaminhou-se em direção ao pastor.

- Posso te dar um abraço? - Ela pediu.

De sorriso nos lábios, Cláudio respondeu:

- Mas é claro, mas qual é seu nome?

- Meu nome é Matilde. – Ela respondeu enquanto abraçava Cláudio.

O perfume forte deixou Cláudio zonzo.

- É um enorme prazer receber a senhora na nossa humilde igreja. – Disse ele.

Matilde olhou tudo com cara de nojo, mas ficou quieta. Não queria parecer antipática no meio daquela gente. O tempo foi passando e ela acabou tornando-se uma pessoa influente dentro da igreja. Era a responsável pela organização de campanhas, festas para arrecadação de fundos, dentre demais atividades. . Quando ela se botava a frente de algo, nem mesmo o pastor Cláudio poderia intervir.

A vida de dona Matilde era um verdadeiro mistério. Alguns diziam se tratar de uma mulher rica, outros diziam que a mulher era uma maluca que aterrissou por aquelas bandas para nunca mais sair. Na verdade nem uma coisa nem outra. Matilde, por muitos anos trabalhou no bordel vizinho da igreja fazendo programa, mas quem poderia suspeitar? 

Em nome do paiWhere stories live. Discover now