Capítulo 8

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Custódio e Francine eram tão parecidos, porém, tão diferentes um do outro, isso em diversos aspectos. Ela, uma garota de programa, expulsa de casa pelo pai; ele, policial militar e viúvo. A igreja que ele frequentava é vizinha do bordel onde Francine, em seu quarto, atendia aos homens da cidade. Deus traz paz para Custódio, enquanto o bordel parece ser a porta de entrada do inferno para Francine.

Cruzaram-se uma única vez, após ela ter o celular roubado. Ele, como policial, ofereceu ajuda, ela negou. Dias e noites se passaram e eles não se viram mais, no entanto isso estava muito próximo de acabar.

À tarde caia para a entrada da noite. Francine emburrada andava pela praça de cigarro entre os dedos, enquanto Custódio andava por ali também, mas com a bíblia na mão, dois mundos opostos. Um minuto de distração de ambos, um esbarrão. Os dois ajoelhados no chão de folhas da praça, olhares trocados, de repente uma surpresa.

- Eu te conheço? – Perguntou Custódio, pegando a bíblia e sacudindo-a para limpar a poeira.

Francine se lembrou dele na hora, mas segurou a resposta.

- Acho que sim, só não sei da onde?!

Custódio abriu um sorriso amarelo.

- Você é a moça que teve o celular roubado no ponto de ônibus na semana passada.

- Há é mesmo.

- Tá fazendo o que por essas bandas? – Perguntou Custódio.

Ela ia dizer que trabalhava no bordel, mas quando viu o livro sagrado nas mãos dele, pensou e ao olhar para a farmácia logo ao fundo respondeu.

- Eu trabalho naquela farmácia ali. – Disse ela apontando para frente da loja.

Ele olhou de relance. Mas seus olhos estavam fixos em Francine.

- Quer tomar alguma coisa?

Ela pensou por um momento, mas recusou.

- Hoje eu não posso, marquei com uma amiga e estou esperando por ela. – Mentiu. O cara simpático iria odiar se ela dissesse a verdade.

Ele sorriu, sem graça.

- Tudo bem, não tem importância. Eu vou indo, tenho culto hoje, lá naquela igreja ali. – Disse Custódio mostrando a igreja.

Francine olhou para a fachada da igreja quase as gargalhadas. A fachada era feia e sem graça, um letreiro velho e torto, com luzes que mal ficavam acesas. Já a entrada do bordel era um convite ao pecado; luzes coloridas e um vermelho gritante, além das moças que ficavam do lado de fora chamando os homens que por ali passavam. Francine saia raras vezes para a rua durante o serviço. Na maioria do tempo ficava dentro do salão, e também no quarto de paredes de pelúcia. Era ali o seu refúgio, um quarto simples e aconchegante, onde os homens a possuíam e na maioria das vezes ela possuía aqueles homens.

Em nome do paiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora