Prólogo

90.1K 3.2K 431
                                    

Um carro do ano, na cor vinho, cruzou a rua principal em direção a um conjunto de casas populares, que ficava cerca de meia hora de distância do centro de Baltimore.

Quem guiava aquele veículo era um homem, que não aparentava ter mais do que quarenta anos. Os cabelos brancos já tomavam toda a extensão da cabeça, mesclando-se às mechas castanho-escuros que ainda mostravam que aquele sujeito não era tão velho assim. Os olhos eram azuis-claros e estreitos, talvez porque tentava enxergar a estrada durante aquela escura noite. Os lábios permaneciam em uma linha reta e ele transpirava bastante, como se fugisse de alguém. O que era verdade.

Na saída do escritório, onde trabalhava, ele foi seguido por um homem alto, de capa preta e que era extremamente rápido. Não soube como conseguiu chegar ao carro, mas agradeceu profundamente por ter colocado um vidro à prova de balas. Aquilo o salvou quando o homem deu um forte soco contra a sua janela.

Virou rapidamente na North Avenue e perdeu o controle do carro. A pista estava escorregadia aquela noite e por causa disso, ele capotou três vezes antes de parar no muro de uma loja de doces. Soltou o cinto de segurança e caiu de encontro ao teto do veículo. Mesmo atordoado devido ao acidente, forçou a porta com um chute e saiu de forma apressada, pois o cheiro de gasolina era muito forte. Afastou-se com uma das mãos na cabeça, justamente porque havia um talho grande que sangrava.

Olhou de um lado a outro e não havia ninguém ali para socorrê-lo, nem mesmo um morador de rua. Procurou o seu celular no bolso e discou um número.

— Lana, aqui é o Gabriel — sentou-se na calçada, em frente ao carro.

— O que houve? Estamos esperando por você — respondeu a mulher do outro lado da linha.

— Sofri um acidente! Mas, não se preocupe, estou bem.

— Sofreu um acidente? Gabriel, você está muito ferido? Precisa de ajuda? Onde você está?

— Eu disse que estou bem, Lana! Não se preocupe. Apenas mande alguém me apanhar aqui na North Avenue. — Ele olhou para frente. — Na altura da doceria, próximo da... merda.

— Próximo do quê? O que está havendo, Gabriel? — gritou a mulher do outro lado.

— Lana, chame a polícia e mande-os vir para cá, agora! — respondeu enquanto olhava o mesmo homem encapuzado, no final da rua. — Isso é questão de vida ou morte!

Desligou o celular e levantou-se. Encarou o homem por alguns segundos e por fim, começou a correr. No mesmo instante, o sujeito também movimentou-se muito rápido, algo fora do normal para um humano. E ele o fez de tal modo que, mesmo Gabriel colocando toda a força e agilidade em suas pernas, foi alcançado e derrubado em questão de segundos.

— O que você quer? Tem dinheiro no carro.

— Eu não quero o seu dinheiro — responde com uma voz extremamente horripilante e grossa.

— O que quer?

— Todo o sangue que você tem.

O homem segurou a cabeça de Gabriel e mordeu o seu pescoço com força. Ele ainda tentou reagir e atacar aquele sujeito, mas era muito mais forte. Seu coração acelerou quando o seu sangue começou a ser sugado e Gabriel imaginou que, realmente, morreria. Então, o agressor parou de beber e o encarou. — Adoro quando vocês ficam com medo, dá para sentir o gosto da adrenalina.

— Me deixa, por favor. Eu tenho mulher e filhos, não me mate.

— Eu sinto muito, não é pessoal. Eu sou o predador mais perigoso da cadeia alimentar e você é a minha presa. Não se sinta mal por isso.

— Você é...

— Um vampiro? É, eu sei.

— Então, não me mate. Me transforme. Não posso abandonar minha família.

— Eu não daria o presente da imortalidade a alguém como você. Te observo há muito tempo, Gabriel. Você vive para os negócios, nunca tem tempo para estar com a sua família e na hora da morte clama pedindo misericórdia em nome deles? Se eu transformasse você, meu amigo, eles seriam os primeiros a serem mortos para saciar a sua sede. Sendo assim, contente-se em saber que morrendo hoje, os livra de um destino muito pior — disse o vampiro. Logo depois, voltou a morder o pescoço do homem que gritou de dor.

— Parado aí — um policial aproximou-se dos dois homens. Segundo depois, mais três viaturas chegaram. — Saia de cima.

— Ele está bebendo o sangue dele? — falou outro policial pasmo com a cena.

— Que espécie de doente é esse?

O vampiro reergueu-se, deixando Gabriel ao chão, e encarou todos os policias. Ele poderia lutar com todos eles e os matar com muita facilidade, mas não queria chamar mais atenção para si. Sabia que sairia nas páginas do jornal do dia seguinte, mas não gostaria que fosse por ter matado oito policiais. Aquilo não ajudaria em nada em seu novo plano, principalmente quando ele se revelasse para ela. Não poderia correr o risco de Alice o rejeitar.

— Não se mexa! — ordenou outro policial ao aproximar-se. Outros quatro homens armados apontavam para ele e os outros quatro aguardavam mais atrás, caso houvesse alguma reação.

Um deles puxou uma lanterna e mirou para a cara do sujeito encapuzado e os belos olhos verdes brilharam. A parte da boca se apresentava totalmente suja de sangue quando ele sorriu e deixou os caninos à mostra. Olhou para cima e, então, saltou. Parou em um terraço que estava a mais de doze metros de distância. Os policiais ficaram completamente estupefatos com aquilo. Era impossível para um humano, mas eles sabiam que aquele homem não era um.

Esse pensamento fez com que os policiais sentissem um arrepio que se projetou por toda a extensão de suas costas e parou na nuca, eriçando todos os pelos. Olharam para Gabriel desmaiado no chão. Imóvel e pálido, porém ainda vivo.

— Aqui é o policial Clarkson, precisamos de uma ambulância urgente na North Avenue. Venham o mais depressa que conseguir! Acho que o paciente não vai resistir muito tempo — disse pelo rádio.

ImortalTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang