Capítulo 11

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— Bom dia, alunos.

Todos eles me respondem um bom dia educado, enquanto eu coloco minhas coisas sobre a mesa.

— Como foram as férias de verão?

— Professor, foram ótimas! — Harry me respondeu.

— Sério? — encarei a porta da sala, esperando por alguém. — Por quê?

— Eu viajei para Paris! — todos começaram a rir e inclusive eu. Harry é um aluno conhecido por ser um bom mentiroso, então não se pode acreditar em tudo que ele diz. — Calem a boca seus idiotas! Eu viajei para Paris sim!

— Enfia Paris no seu cu, mentiroso!

— Pessoal, sem palavrões! — exclamei.

— Escutem seu professor de história, nada de palavrões!

Você já se sentiu como um adolescente depois de já ser um adulto? E, o seu coração, já bateu tão rápido como os corações batem em um show de rock and roll? Mas o problema é que você não está em um show de rock and roll. Seu coração está batendo por uma pessoa, e a sensação de ser um adolescente apaixonado outra vez também é por conta de uma pessoa. As pernas tremendo, mãos suando, a sensação de que talvez você tenha um ataque cardíaco. É tudo por conta de uma pessoa. Isso é um saco, não é?
Essas são as coisas que senti ao virar a cabeça e ver Jaime, com seu sorriso de sempre.
Eu deveria esperar por ele, e na verdade, eu esperei sim. Afinal, é a segunda reunião da feira cultural, justo no primeiro dia de aula.

— Bom dia, galera — Jaime disse, entrando na sala e deixando suas coisas na mesa, do lado das minhas. — Como foram as férias?

— Eu viajei para Paris! Paris! — Harry tentou de novo e todos riram, de novo.

— Sei. — Jaime respondeu, dando uma leve risada também.
Enquanto os alunos riam sem parar das mentiras bobas de Harry, Jaime olhou para mim. Eu tentei sorri para ele e ele retribui, como se nada daquilo no parque aquático tivesse acontecido.
Desvio o olhar e encaro o chão.
Será que se esqueceu de mim? E pior, será que já arranjou um outro alguém? Um outro alguém que não seja eu?
Me sinto um idiota.

— Então pessoal, essa é a segunda reunião que nós temos — Jaime começou a falar e eu levantei minha cabeça. — Precisamos de ideias! Vocês tem ideias?

Vários alunos levantam a mão e eu aponto para um deles.

— Diga a sua ideia.

— Nos vemos na próxima reunião — eu disse. — Ainda vamos ver o dia.

Todos se levantaram e saíram, deixando apenas eu e Jaime na sala de aula.
A reunião tinha durado duas aulas, agora eu só preciso pegar minhas coisas e dar aula para o 3º ano do ensino médio, mas não consigo fazer isso.

— Jaime.

Ele desviou o olhar da lista de presenças e me encarou.

— Sim?

— Você realmente vai fingir que nada aconteceu?

Jaime fechou os olhos e respirou fundo.

— E o que você quer que eu faça? — ele perguntou. — Você é hétero e eu simplesmente não posso te obrigar a ser gay, da mesma forma que ninguém pode me obrigar a ser hétero.

— E se eu fosse gay?

— Por que estamos falando sobre isso, afinal?

Coloco minhas mãos que estão tremendo dentro da calça jeans, com medo de que ele veja meu nervosismos.

— E se eu fosse gay? — tentei outra vez.

— Eu acho que não posso te obrigar a gostar de mim.

— E se eu gostasse de você?

— Olha, Adam, eu preciso dar minha aula no 9º ano — ele se levanta da mesa aonde estava sentando. — A gente se vê por aí.

Fiquei em silêncio por um tempo, mas quando ele passou do meu lado, automaticamente minhas mãos o puxaram para perto.
Jaime se virou para mim, com uma expressão que demonstrava impaciência.

— Fale logo.

— Eu... — engoli em seco. — Posso beijar você?

— Você está zombando de mim? — ele cerrou os dentes. — Eu ainda gosto de você, sabe? É difícil esquecer alguém.

— Então você não...

— Não, eu não te esqueci ainda! — interrompeu. — E vai ficar mais difícil ainda se você ficar brincando comigo.

— Jaime, eu não...

— Eu te odeio, tá legal? Vai se foder!

— E-eu não estou brincando! — caminhei até ele que estava tentando ir embora. — Jaime! Por favor! Me escute uma vez na vida! Quando eu tentei dizer no parque que eu não tinha certeza sobre minha sexualidade você me interrompeu e interrompeu até eu ir embora!

— O que? — ele finalmente se virou de novo.

— É, isso mesmo, eu não sei nada sobre minha sexualidade! Eu só sei que eu... eu... eu quero te beijar agora.

Fechei meus olhos, esperando realmente que Jaime me beijasse, mas para minha surpresa, eu senti algo contra meus lábios.
Abro meus olhos e vejo Jaime, muito perto.
Fecho meus olhos de novo e passo minhas mãos em suas bochechas, enquanto ele aperta minha cintura.
Foi um beijo rápido, leve e, principalmente, o meu primeiro beijo com um outro homem.

— O 9º ano com certeza deve estar me esperando — ele disse, sorrindo, assim que o beijo chegou ao fim. — Até logo, professor Adam.

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