Capítulo 10

1K 106 3
                                    

— Como você é exagerado, professor Adam.

— Eu sou exagerado?

— É — respondeu, dando de ombros, como se fosse óbvio. — Você tem que admitir que foi divertido.

— Divertido? Eu quase morri!

— Viu?

— Viu o que?

— Você está exagerando.

— Não estou! — me enrolei mais na toalha e comecei a andar para dentro do elevador quando as portas se abriram. Jaime foi vindo logo atrás de mim.

— Está sim.

— Você também é um exagerado!

— Eu? Por quê?

— Não tinha necessidade nenhuma de chamar aquele ruivo!

— Ainda com ciúmes?

Tentei esconder meu rosto, que eu sei que deve estar vermelho agora.

— Ciúmes? Eu não sou gay!

Ele encolheu os ombros, de repente.

— Você não é?

As portas do elevador se abriram e ele saiu, com passos fundos.
Caminhei depressa atrás dele, sentindo que disse algo de errado.

— Jaime, tudo bem? — ele não me respondeu, apenas retirou as chaves do bolso e abriu a porta. — Jaime?

— Desculpa, é os alunos.

— Os alunos? — ergui uma sobrancelha, confuso. — Como assim?

— Eles disseram que não sabia se você era gay, mas que tinha jeito, então provavelmente era sim gay.

Dei um sorriso amarelo.

— Ah, essas crianças...

— Eu criei esperanças.

— Esperanças?

— Você sabe o que isso significa, Adam — ele desviou o olhar, mas isso não impediu que eu o visse com as bochechas coradas. — Eu estou bem afim de você, mas parece que eu e você é algo impossível.

— Por quê?

— Você é hétero.

— É... eu sou? — aquilo soou mais como uma pergunta, porque talvez realmente seja uma.

— Eu vou tomar um banho, tudo bem?

Balancei a cabeça e ele saiu para o banheiro. Eu, por minha vez, me sentei na cadeira da cozinha, ainda sentindo meu corpo um pouco molhado pela água da piscina.
Meu coração nunca bateu rápido como agora e as minhas mãos estão suando, porém eu sei que não é por causa do calor do verão.

Jaime terminou de colocar nossas coisas dentro do porta malas e se sentou no banco do motorista, ao meu lado, sem dizer nada.
Estamos sem nos falar desde que ele se "declarou" para mim, digamos assim.
É óbvio que ele está triste e eu também estou. Triste por sustentar uma mentira dessas. Eu quero dizer a verdade, mas como eu devo fazer isso? Como, afinal?

— Jaime — ele apenas olhou para mim, esperando que eu falasse. — Eu sinto muito.

— Você não tem que sentir muito.

— Mas eu...

— Não dá pra fazer milagre se você não é gay. — ele me interrompeu.

— Jaime, me deixe...

— A culpa não é sua, apenas relaxe — me interrompeu outra vez. — Agora podemos ir para casa?

Encolhi meus ombros.

— Podemos.

Saímos do estacionamento no parque aquático e caímos na estrada.
O parque não é muito longe, então chegaremos lá dentro de mais ou menos meia hora ou menos.

— Jaime.

Ele respirou fundo. Provavelmente quer que eu apenas cale a boca.

— O que foi?

— Afinal, e a flor?

— A rosa? — ele soltou um sorriso amarelo. — Sim, fui eu.

De repente, Jaime ligou o rádio e a música Dumb do Nirvana começou a tocar, me fazendo encostar a cabeça e fechar os olhos e relembrar dos anos 90 e a minha adolescência.
Eu lembro muito bem quando eu tinha 16 anos e comecei a sentir atração por um garoto da minha sala, não me lembro do nome dele, não me lembro nada sobre ele, além do seu rosto. Seu cabelo era loiro e seus olhos eram castanhos claro, mas eu lembro que eu senti sim uma atração, mas ignorei por tanto tempo. E eu estou fazendo isso de novo.

— Adam?

Abri meus olhos, dando de cara com Jaime.

— Jaime?

— Você acabou pegando no sono, mas nós chegamos na sua casa.

— Ah, sim! — me sentei direito e cocei meus olhos. — Pode me ajudar com as minhas malas?

— Claro.

Eu tirei meu cinto e sai do carro, fechando a porta atrás de mim.
Jaime retirou minhas malas do carro e eu as peguei.

— Obrigado — ele não respondeu um educado "de nada", apenas entrou de volta no carro e foi embora, sem se despedir, é claro.
Retirei a chave do meu bolso e abri os portões de casa.
Coloquei minhas malas no centro da sala e me sentei no sofá, cansado, sem vontade de esvaziar minha mala.
Meus olhos se viraram para a rosa, que Jaime me deu secretamente e eu me espanto ao ver que ela está morta.

— O que? — me levantei do sofá, caminhando até a flor. — Mas eu só passei dois dias fora, eu só...

Desesperado, eu corri até a cozinha. Enchi um pouco de água em um copo para colocar na flor. Mas, quando o fiz, duas pétalas caíram da rosa, em vez de fazer algum efeito.

— Vamos lá, isso não pode estar acontecendo — coloco mais água, porém, é claro que não adianta de nada. — Por favor, Jaime deu você para mim... ele deu...

Sinto tudo paralisar ao meu redor e acabo deixando o copo com água cair no chão. Como ele é de vidro, ele se quebra, derramando água para todos os lados.
Cambaleio para trás e acabo caindo de joelhos no chão.

— Meu Deus — sinto uma lágrima descer pela minha bochecha. — O que foi que eu fiz?

Teachers Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt