Capítulo 4

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— Charlie! — chamei sua atenção e ele parou de conversar. — É melhor você prestar atenção pois esse conteúdo vai cair na prova.

— Prova? Mas já? — se indignou. — O ano praticamente não acabou de começar?

— É, as coisas acontecem rápido, em um piscar de olhos você vai estar repetindo esse ano.

Todos começaram a rir e ele fechou a cara.

— Não vou repetir de ano!

— Então preste atenção se não quiser ficar de recuperação em história.

— Tá.

Todos continuavam a rir de Charlie.

— Parem de rir pois isso vale para todos vocês.

Charlie sorriu, se sentindo vitorioso por eu ter o defendido de alguma forma.
Escutei uma batida na porta.

— Licença?

Olhei de canto e vi o professor Jaime, parado na porta da minha sala, segurando a maçaneta.

— O namorado do professor Adam chegou! — escutei alguém dizer e o resto da sala rir.

— Correção: futuro namorado. — Jaime disse, fazendo a sala rir mais.
Me sinto envergonhado, mas eu sei que tudo não passa de uma brincadeira, ele apenas está entrando na onda dos alunos.

— O que deseja, Jaime?

— Falar com você.

Larguei o giz branco da minha mão.

— Já volto, alunos.

Sai da sala com ele.

— Então, o que foi? — perguntei, fechando a porta atrás de mim.

— Você ficou sabendo que todos os professores combinaram de jantar juntos hoje, certo?

— Certo.

— Você vai?

— Claro, vou sim.

— Então, eu queria saber se eu podia te buscar para irmos juntos, sabe?

Meu rosto começou a coçar.

— Você realmente interrompeu minha aula para isso?

— Desculpe-me, eu não pensei nisso — ele corou. — Acho que foi a ansiedade.

— Ansiedade?

— É, estou temendo a sua resposta.

— Sério? — mordi o lábio inferior. — Quer dizer... pode me buscar, por que não?

— Jura?

— Juro.

— Puta merda! — ele parece feliz. — Eita, me desculpa pelo palavrão.

— Tudo bem.

— Bem, me passa seu endereço?

— Eu te mando por mensagem — digo, tirando meu celular do bolso. — Você está no grupo dos professores?

— Sim, Mary me colocou lá.

— Claro, tinha que ser a Mary. — sussurrei.

— O que disse?

— Nada! — ele levantou uma sobrancelha, confuso. — Eu te mando mensagem.

— Estarei esperando a mensagem, professor.

Jaime saiu, piscando para mim, o que já tinha se tornado um hábito.
Ele sempre pisca e eu sempre fico sem graça. Me pergunto se ele faz isso como todo mundo, como uma forma de se despedir, ou se eu sou "especial".
Abro a porta e entro para continuar minha aula.

— Deram muitos beijinhos, professor? — Emma, a nova aluna, que já tinha se adaptado bem a escola, perguntou.

— O que? Não!

— Mas você está tão vermelho.

— Lógico, está calor! — eu disse, ligando o ventilador, mesmo não estando com calor. — Agora voltando a aula, isso é importante.

Eu não sei muito bem o porquê, os alunos estão sempre cismando em ver eu e Jaime como um casal. Isso me incomoda, porque Jaime não é gay e Mary está afim dele, mesmo que seja só por uma noite e ela tenha um marido. O fato dos alunos sempre estarem cismando isso faz ela me odiar. Não é que eu me importe se ela me odeia ou não, mas, eu uso como desculpa. Até porque, afinal, enquanto a mim? Como eu me sinto? Eu admito, nunca estive seguro de minha sexualidade, se um dia eu tiver uma chance, eu experimentaria como é estar com outro homem. E se eu descobrir que sou gay, tudo bem. Além disso, me sinto bem quando os alunos cismam com isso, quando Jaime parece dar em cima de mim, quando a professora de português me faz pensar que talvez a rosa tenha sido Jaime que me deu. Gosto de pensar que os alunos não estão mentindo ao dizer que ele é gay e que sempre está falando de mim durante as aulas.
O sinal toca, cortando meus pensamentos.

— Por hoje é só — eu disse. — Até amanhã, alunos.

Todos arrumaram os matérias correndo, desesperados para chegar em casa e relaxar depois do dia de aula.

Fechei toda a casa e esperei na calçada depois de receber a mensagem de Jaime, avisando que está quase chegando.
Um carro todo preto parou em minha frente e consegui ver ele lá dentro, então, entrei.
Assim que entrei, uma música não muito alta invadiu meus ouvidos. Reconheci. É minha música favorita. Listen To Your Heart, da Roxette. Essa música fez sucesso entre o final da década de 80 para a de 90, quando eu estava para começar a minha adolescência.

— Oi, Adam.

— Essa é a minha música favorita! — exclamei, surpreso, ignorando totalmente o "oi" que Jaime me deu.

— Eu gosto dela, mas não é minha favorita — ele disse, sorrindo. — Prefiro algo como Nirvana.

Nirvana também marcou minha adolescência nos anos 90.

— Nirvana é uma boa banda.

— Então, vamos?

— Vamos.

Coloquei o cinto de segurança e ele começou a andar com o carro.
Abri um pouco a janela para dar uma olhada na noite lá fora.

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