IV - O CASTELÃO

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Chegaram à margem a tempo de ver as luzes do Viúva se apagarem e o rio mergulhou na escuridão do dia que decaía. Atravessaram os pedregulhos e subiram encosta acima, Paladeen arrastando o barco atrás de si no lusco-fusco. As árvores mostravam-se negras sob a neve; logo o nauto encontrou um tronco de proporções robustas e amarrou bem o barco e os três seguiram caminho até o pequeno povoado, desolado até onde a vista podia alcançar. As cumeeiras altas, adornadas aqui e ali com esculturas treliçadas, erguiam-se sobre a pesada massa branco-azulada que tudo cobria. Vinst fez seu caminho sobre a neve fresca, seguido de perto da venatora e do nauto, e logo viu-se sobre a ponte, atravessando o Tulinver.

À medida que caminhavam, as muralhas de Vulkermónt cresciam contra os três, meio agachados e atentos como ladrões da noite; que mistérios e perigos escondiam a fortaleza, ignoravam por completo! 

No fim da ponte, a estrada inclinava-se à direita até um grande portão resguardado por dois torreões; dele descia uma escadaria imponente, ladeada por muitíssimos armazéns. As construções cessavam no de tamanho mediano, apoiado num braço de terra rochoso que invadia o Túlinver, formando um pequeno golfo de águas calmas; os píeres, apesar de diversos, estavam vazios, exceto por pequenos pesqueiros. 

Para sua surpresa, viram uma luz acender-se alto numa janela do torreão de vigia. Agitava-se com energia e por isso pararam ante os grandes portões escancarados, de onde desciam grandes flâmulas verdes ostentando a árvore negra daquele povo, e não ousaram avançar. Viram o clarão descer pelas seteiras estreitas e logo apareceu no pé do torreão um velho patrulheiro, trajando placas de metal leves abaixo das peles e sobre cabeça assentava-se um elmo alto e elíptico. Foi até os recém chegados e disse: 

Estão loucos?! — Apesar da exclamação, sua voz saiu num meio-tom; estendeu a tocha para iluminar-lhes os rostos. — Não ouviram as más novas? A cidade está sob o controle de serpes e o príncipe ainda não retornou!

— Pois é por isso que viemos! — disse Vinst, no mesmo tom.

— Sou venatora, senhor, e quero saber quem é responsável pela cidade na ausência do príncipe.

Os olhos do homem faiscaram com a notícia e inclinou-se tanto ao chão, em algum tipo de mesura extrema, que ameaçou partir-se em dois.

— Que grande favor o bom Arkik nos envia! — anunciou. — Chamo-me Guilárt e desde muito tempo guardo o Portão do Túlinver. Perdoa-me, senhora; perdoem-me, cavalheiros: peço mil desculpas pela miserável boas-vindas, mas espero há três dias sem nada ver ou ouvir senão o rugido das bestas e suas asas a bater na noite, quando atravessam o rio e voltam com grandes animais nas garras! — então voltou-se para a venatora, dobrando-se mais uma vez: — Como se chama, senhora?

— Eloés Výs, meu bom homem. E quanto ao respon— —

— Quanto ao responsável pela cidade, senhora — interrompeu o patrulheiro, lançando olhares sobre a muralha. — Este é o bom castelão Jiorde. Comanda os patrulheiros da cidade e está protegido na cidadela junto aos seus.

— Leve-nos até ele! — ordenou Vinst, ao que o homem pareceu apreensivo.

— É noite, senhor, e é quando as bestas costumam sair do covil; a senhora há de saber — acrescentou ele para Eloés. — Talvez devamos esperar até a aurora e ru— — 

— Não temos tempo: precisamos ter com ele já! — agora foi a vez e Eloés interrompê-lo. A venatora levantou o chapéu e olhou-o bem nos olhos: o homem não podia dizer não. 

Numa mudança brusca de atitude, o patrulheiro lançou a tocha contra a neve, dizendo:

— Se querem mesmo seguir este destino, então teremos que fazê-lo no completo breu, com a proteção de Arkik — anunciou. — Confiem em mim, senhores, vivo na cidade desde muito pequeno e meus olhos já se acostumaram com a escuridão. Ouçam meus passos e me sigam: tomaremos um longo caminho para longe do covil e rumaremos à cidadela. Venham! 

VIRMÍRIA I {REVISÃO}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora