Abaixar os olhos e anuir com a cabeça foi a única reação que Malfen achou adequada a fazer, já que acabara de ser proibido de bajulá-lo.
— Você é um bom conselheiro, Malfen. Mas está se tornando monótono essa sua obediência. Você está pensando muito como um andor e pouco como gente.
Ofendido ou não, Malfen poupou-se a não insistir no assunto.
— Então... que mensagem devo enviar como resposta às ordenanças de Valandir?
— Mmm. — O governante folgou-se ainda mais em sua cadeira e alisou as pontas de seus finos bigodes. — Diga que não cederemos às suas ordens. Diga que, se o rei deles achar de acordo, estaremos dispostos a trocar alimentos por prata, sendo moedas ou não. Essa é a oferta que eu os faço.
— Pensei que não estava disposto a aceitar qualquer negociação, senhor.
— Pois você não me interpretou bem, Malfen. Estou disposto a negociar se sairmos no lucro. Não percebe? Se o próprio rei está suplicando que lhe enviemos alimentos, é porque sua rica cidade não deve estar indo bem das coisas.
— Acho muito improvável essa situação, meu senhor. Primaveras têm sido muito benditas para os vordianos, não só em sua cidade mas também em seus vilarejos.
— Vilarejos? Fábricas exploradoras você quer dizer.
— Ora, se são fábricas ao invés de vilarejos, logo eles vêm a ser mais produtivos, não? Como pode afirmar que uma primavera abençoada como essa está sendo infértil para Vordia?
— Vejo que sua afeição pelos vordianos está acima do tolerável. — O homem adiposo encheu novamente sua taça de vinho. — Muito bem, vamos tomar como corretos seus pensamentos. Qual explicação você me daria para o envio dessa mensagem absurda?
— O Rei Valan... — O andor corrigiu-se antes de cometer o mesmo erro novamente. — O Rei de Vordia pode estar, através dessa mensagem, tentando fazer uma aliança comercial com o nosso valoroso vilarejo. Isso não seria possível?
— Através de ameaças? Impossível. Valandir é orgulhoso demais para se interessar amigavelmente por um lugar pequeno como este. Além do mais, Asmabel e Vordia sempre foram inimigos, você sabe disso.
— Não permita que o passado impeça as possibilidades do futuro, senhor.
— Não é de seus conselhos que preciso agora, Malfen.
— É claro.
— Omiran disse que poderemos sofrer consequências severas se caso recusarmos atender as ordens de seu rei. Por acaso isso seria uma atitude amigável de acordo com a Crença Alial? Como pode ver, os interesses desse perverso tirano não passam de riqueza, autoridade e poder.
— Mas não seriam esses os propósitos destinados a um rei?
Erban parou o movimento que levaria a taça até sua boca. Seus olhos miúdos viraram em encontro aos do andor em pé na frente da mesa. Malfen não se viu disposto a usar as leis da Crença Alial para contradizer seu senhor. Viu que por mais que se esforçasse, não conseguiria mudar a opinião do decidido homem.
— Se tenho sua licença — disse o franzino andor com uma leve reverência. —, vou agora mesmo responder a mensagem enviada de acordo com os termos que me instruiu.
— Espere — O chamado caracterizou-se apenas por uma grave elevação no tom da voz. — Também quero que avise ao Rei Grival sobre isso.
— Sobre o que exatamente se refere, senhor?
— Sobre toda essa negociação ridícula. Envie uma mensagem para a Cidade de Asmabel e diga-os que Valandir está nos ameaçando.
— Perdoe-me, mas seria realmente necessário avisar o nosso bondoso rei sobre uma situação que não passa de uma hipótese?
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A Pretensão dos Cavaleiros
FantasyO humilde Vilarejo Erban do Reino de Asmabel passou pela mais produtiva das primaveras e a adolescente Eurene vê seus dias tornando-se mais atarefados com sua família. No entanto, tudo muda quando a expansão territorial do Reino de Vordia chega ao v...
- As Rivalidades dos Nobres -
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