Capítulo 21 - Instável

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- É melhor eu ir. - Elizabeth diz, ajeitando sua camisa já engomada no intento de desviar seu olhar vergonhoso dos meus olhos.

- Eu te levo. - ofereço, seguindo-a para fora da cozinha.

- Não, sério, já estou pedindo um Uber. - ela recusa prontamente ao mesmo tempo que pega seu celular assim que entramos na sala, para provar seu ponto. Louis e Johannah estão nos encarando descaradamente e posso sentir seus dois pares de olhos fixos em nós, mesmo estando ignorando completamente esses olhares que, tenho certeza, estão cheios de significados e teorias com relação a mim e minha secretária. Talvez eu deva ligar para o Niall e dar uma ideia para um de seus romances clichês e idiotas, afinal de contas, pareço estar vivendo dentro de um!

- Você que sabe. - dou de ombros, nada a fim de insistir. Meu humor instável parece ter sofrido uma de suas bruscas mudanças quando começo a me sentir um idiota por estar dando tanta importância para essa garota. Minha cabeça parece borbulhar com imagens desconexas da minha vida que eu preferiria não lembrar, tento expulsa-las como todas as vezes, mas elas parecem não querer ir embora enquanto o rosto de Elizabeth permanece na minha frente. - Sabe, eu não te entendo. Eu estava com a língua dentro da sua boca agora mesmo, então...

- Harry! - ela arregala os olhos e seu rosto tem a cor de um pimentão quando ela me olha indignada por eu estar falando isso na frente do meu amigo e sua mãe. Mas eu sinceramente não vejo motivo pra alarde, todo mundo sabe como acontece um beijo e no fim das contas, tudo que aconteceu foi isso: um beijo, apenas um beijo.

- É a verdade, Srta. Johnson, então não vejo o porquê de você estar fazendo tanta cena por causa de uma carona. - mantenho meu tom natural e despreocupado, mostrando que é claramente ela quem está dando importância de mais para seja lá o que esse beijo significou para ela. Noto que Elizabeth fica envergonhada e se encolhe como se eu estivesse fazendo ela se sentir exposta. Queria poder dizer que me arrependi o suficiente para pedir perdão e fazer ela se sentir melhor, mas não é como eu me sinto. - Com licença. Tenha uma boa noite, Srta. Johnson. - me esforço para manter pelo menos a educação e não ser um completo idiota novamente. Apesar de tudo, não quero ser o culpado por mais lágrimas dessa garota e muito menos quero essa imagem se tornando mais uma das que me assombram e me fazem sentir um ser humano tão desprezível quanto o meu pai não poupa tempo nem saliva em dizer que sou.

Quando me viro para retornar a cozinha não perco o olhar reprovador de Louis para mim. Sei que ele não aprova minha arrogância e nem deveria, mas mesmo sendo meu melhor amigo ele simplesmente não entende. Louis não se lembra das coisas que passei quando éramos crianças, na verdade creio que ele nem mesmo saiba de muitas delas. Como poderia afinal? Eu nunca as contei a ele e nem eu as entendia direito. Tudo que sei é que era Johannah quem me consolava em quase todas as vezes, pelo menos até eu me tornar esse homem ingrato, rude e perdido com o qual eu me deparo no espelho desde meus treze anos até hoje.

Depois de alguns minutos perambulando pela cozinha e ouvindo enquanto a porta se fechava e Louis e Johannah se despediam de Elizabeth, me sento e volto a olhar as fotos que deixei sobre a mesa. Minha mente não se foca nas imagens a minha frente, mas prefiro fingir que sim quando ouço os passos das outras duas pessoas nessa casa se aproximando do cômodo. A mãe do meu amigo volta a mexer com o bolo, tirando-o do forno e se pondo a fazer a cobertura do mesmo. Louis, por sua vez, se aproxima, sentando-se na cadeira em minha frente. Sinto o olhar do meu amigo fixado em mim e quase posso ouvir o barulho em sua mente, seus pensamentos lutando para tentar compreender o enigma que eu pareço ser, lutando para tentar entender minhas ações e reações e lutando para encontrar as palavras certas para me colocar no meu lugar sem me chatear. Louis é um idiota, mas é o mais sensível, compreensivo e companheiro cara que eu já conheci. É claro que eu nunca vou falar isso para ele, mas eu o admiro, não é a toa que ele é meu melhor amigo, sei que mesmo quando briga comigo é pensando no meu bem e ele se esforça para sempre tratar todos ao seu redor da melhor forma possível e fazê-los sentir confortáveis na sua presença. Talvez não seja exagero dizer que ele é tudo que eu não sou.

I Hate That I Love You | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora