cap. 21. part. 2

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Mexendo de um lado para outro, ajeitando meu corpo para que eu não sinta tanto as cordas me apertarem, sinto o meu telefone no bolso trazeiro da minha calça, por sorte eu conseguia alcançá-lo. Enquanto o Diego e seu pai discutiam, lentamente eu tento apanhar o telefone com muito cuidado para não chamar a atenção deles. Eu não tenho a quem recorrer a não ser o Augusto, espero de verdade que ele possa me ajudar.

Agarro o aparelho com as pontas dos dedos e o jogo no chão bem pertinho de mim, de modo que ele fique atrás de mim, olho mais uma vez para os dois checando ainda estão distraídos. Com a ponta do dedo indicador, desbloqueio o aparelho e abaixo o brilho da tela rapidamente para que não notem a claridade. Feito isso, disco o número do Augusto e deixo chamar. A cada barulho da discagem meu coração vai a mil por hora, arrasto o aparelho novamente com a ponta do dedo para trás de mim e me concentro no barulho esperando o Augusto atender.

Foi quando ele disse ─ Alô, Lucas? ─ eu cochichei voltando meu rosto para trás para que meu telefone conseguisse captar minha voz. ─ Augusto eu estou amarrado aqui no instituto SANAI, eu encontrei ele e o pai dele está aqui armado, você tem que me ajudar! ─ fiz um apelo para ele, me controlando para não chorar e agradecendo aos céus por ele ter atendido.

Augusto entende que não posso falar muito alto e responde aos cochichos me pedindo para que eu mande minha localização para ele no aplicativo de mensagens. Desligo a ligação e de novo com o dedo indicador consigo fazer isso com muito cuidado, ao enviar minha localização para ele, desligo o celular e tento escondê-lo debaixo do meu corpo.

─ O doutor, acho que encontrei um jeito do senhor sair daqui mais o seu filhinho numa boa!

─ E no que você pensou? ─ respondeu meu pai já com a voz cansada, vendido pelas cordas e pela situação.

─ Quando amanhecer, eu e o senhor vamos fazer um passeio por essa linda cidade, a capital mineira, o que acha? ─ meu pai se manteve em silencio, olhando para ele com os olhos ardendo em ódio. ─ Vamos ao banco onde o senhor vai fazer um saque de oitenta mil reais e me dar de bom grado, afinal de contas, o sogrinho do seu filho merece um presentinho né?

─ Se depois disso você deixar eu e meu filho em paz eu topo.

Meu celular começou a tocar freneticamente, tentei desligá-lo, mas era tarde demais, olhei para a tela e vi o nome da minha mãe, ela tinha me enviado um monte de mensagens e devia estar muito preocupada. Diógenes, ao escutar o barulho, veio como um trator desenfreado em minha direção, me deu um baita tapa na cara, e apanhou o aparelho de mim. Meu rosto ardia como brasa, senti dores na boca e na bochecha, o desgraçado me bateu com muita força. Torci para que ele não conseguisse desbloquear o aparelho e visualizar minha mensagem que enviei ao Augusto.

─ Ah Lucas... está tendo atrapalhar nosso papinho aqui? Sério? Estava ligando para quem?

Não respondi uma palavra.

─ Era a mãe dele ligando, faz tempo que estamos fora de casa, ele deve estar preocupada. ─ disse meu pai aos gritos, olhando para mim, com o coração nas mãos.

─ Pai, para com isso, amanha o senhor vai ter a grana porra! Deixa eles. ─ intrometeu o Diego, a me ver com a boca toda sangrando.

─ Como você pode ser tão fraco? Esse garoto ferrou com sua vida! Quer que eu te lembre dos problemas que teve com a justiça por causa dele?

─ Justo! Eu fui um filho da puta com ele. ─ ele me olhou com um olhar piedoso, por dentro ele torcia para que suas palavras pudesse me compelir a perdoá-lo

─ Meu Deus do céu, você não puxou a mim, não mesmo. ─ Diego se manteve cabisbaixo. ─ Eu vou dar uma volta pelo prédio, para ter certeza que esses idiotas estão sozinhos.

Tomara a Deus que o Augusto não esteja tão próximo, era só o que me faltava! O velho pegar ele também e fazer coisa pior do que está fazendo com a gente. Meu pai voltou a insistir com o Diego para que nos soltasse o mesmo por sorte, estava colaborando conosco, porém o pai dele ao sair, fechou a porta e nos trancou aqui dentro, estamos definitivamente sem saída.

Diego conseguiu nos desamarrar, e em seguida me abraçou, meu pai também o abraçou, estranhei o comportamento dele, mas como todo sábio diz, contra o ódio não há melhor remédio a não ser o amor.

Meu pai correu na frente e ficou passando a mão nas paredes, tateando-as a fim de que achasse uma porta ou uma escotilha que pudéssemos sair. Diego agarrou firmes meus punhos e beijou minha mão.

─ Se eu te pedir perdão, eu sei que não vai me perdoar. Mas o que eu puder fazer para te ajudar, conte comigo. ─ ele assentiu com a cabeça.

─ Diego nosso erro está sendo ficarmos mexendo nessa ferida, vamos deixar isso para trás... temos problemas maiores, o seu pai.

─ Ele vai me matar, assim que souber que ajudei vocês.

─ Não vai não, quando isso tudo acabar, vai embora, foge daqui e recomece.

No meu coração não tem mais espaço para ódio, vê-lo me ajudando, e me pedindo perdão é demais para mim, não sou capaz de ainda desejar mal a ele depois disso. Nunca pensei em toda minha vida que um dia isso poderia estar acontecendo comigo, mas vejo agora que o tempo todo era ele que precisava de mim.

─ Será que não tem outro jeito da gente sair daqui filho? ─ disse meu pai ao longe, ainda procurando outra saída.

─ O jeito vai ser esperar meu pai chegar e apagar ele. ─ respondeu Diego com uma frieza em sua voz.

─ Se é o nosso único jeito. ─ respondo com um meio sorriso. 

As Cores Sombrias do CoraçãoWhere stories live. Discover now