--

Pouco antes do almoço, Dalila recebeu uma mensagem de sua mãe. Era raro, porque apesar de sua proximidade com ela, sua mãe não se dava muito bem com tecnologia. E elas não se falavam direito desde a briga com o seu pai. Não que ela estivesse brava com sua própria mãe, mas Soraia vivia insistindo para que Dalila fosse em casa, conversasse com seu pai, tentasse entender a situação e a loira realmente não estava afim. No aniversário de Lorena, Fairouz estava presente e não deixou que o assunto de seu marido interferisse na relação com a moça, então conversaram normalmente. Dalila desbloqueou seu celular e abriu imediatamente a conversa com sua mãe. Ela estava convidando-a para a festa de Eid al Fitr, uma festa islâmica, para que fosse a oportunidade de Dalila voltar para casa. Pela primeira vez, ela não respondeu sua mãe prontamente. Ignorou. Ela não queria ir até sua casa, não queria ver seu pai porque estava extremamente magoada e se sentia humilhada por ele, mas também não sabia o que fazer naquele dia senão passar na festa de sua família. Deixando aquele assunto para pensar depois, ela se levantou com seu celular e uma pasta nas mãos e foi até a sala de Valéria. Encontrou a amiga no celular, provavelmente com um cliente estrangeiro, afinal, ela falava um francês básico mantendo uma pose que qualquer um que olhasse diria que a moça era francesa nativa. Dalila riu ao pensar naquilo e colocou a pasta na mesa da amiga, que desligou logo em seguida.

"Vamos almoçar, por favor? Eu tô com fome."

"Quando você não está com fome?"

"Boa pergunta. Mas é sério, vamos. Toma, a pasta da CCXP, depois você lê."

"Eu queria muito saber para onde é que vai toda essa comida que você ingere."

"Sempre tive metabolismo rápido." A loira riu enquanto saíam, rumo ao restaurante que sempre iam.

Foi o tempo de chegarem no restaurante que o celular pessoal de Valéria tocou. Era a diretora da escola de Lorena mais uma vez, pedindo uma reunião urgente. A empresária explicou que não poderia ir naquele momento, mas que tentaria passar no colégio no dia seguinte, ou quando tivesse um tempo mais livre, afinal sua semana estava cheia de compromissos no trabalho e ela não podia simplesmente parar quando bem entendesse.

"O que ela fez agora?" Dalila perguntou. Ela percebeu que os ombros de sua amiga ficaram pesados de repente.

"Não sei e eu não quero saber agora também. Eu achei que estava melhorando, sabe? Ela até tinha feito a lição, recebeu carimbo e tudo mais."

"Calma, Val... Ela deve star tentando chamar atenção porque não conseguiu o que queria..."

"Eu sou tão ruim assim? Porque se a culpa for minha, tudo bem, eu deixo ela ficar com o Bruno. O que eu posso fazer? Mas eu sempre faço tudo pra ela, Dalila. Você sabe disso."

"Eu sei e ela sabe também. Eu ainda duvido muito que ela tenha falado aquilo pra juíza, se você quer saber. A Lorena é qualquer coisa, ingênua, inocente, desligada às vezes, menos burra. Pelo contrário, ela é muito inteligente. Se quer mesmo saber, eu acho que foi o Bruno que colocou umas coisas na cabeça dela."

"Eu só não aguento mais. De verdade."

"Quem sabe passando um tempo à mais com ele, depois do divórcio, ela entenda mais a situação."

"Tomara." Valéria remexeu a comida e elas ficaram em silêncio por alguns segundos.

"Minha mãe te convidou pro Eid al Fitr."

"Ela sempre me convida, né? Fofa... Mas eu não vou, não, miga. Diz que eu agradeci muito mesmo."

"Vou dizer."

She keeps me warmWhere stories live. Discover now