“Safada! Por isso tá com a boca assada. Eu te levo pra sair uma noite, você beija e no outro dia já tem um encontro. Uau. Quero detalhes.”

            A ruiva tentou resumir tudo rapidamente de forma que não faltasse nenhum detalhe importante, mas também que não demorasse tanto tempo.

            “E porquê você não queria ficar sozinha?”

Quando ela ia dizer sobre a ligação de Aline durante a parte da manhã, sua filha voltou.

            “Eu acho que eu contei bem mais que 150.”

            “Deveria ter contado até 400.” Dalila pegou-a no colo, fazendo cócegas e mordendo pescoço delicadamente, em brincadeira.       

           

            Segunda-feira. 10 am – prédio da Insurazo.

            Valéria estava em seu escritório com sua secretária, se atualizando da agenda da semana e tentando encaixar uma reunião com a dra. Aline e um espaço livre para levar Lorena na psicóloga no meio de seus compromissos, quando ela ouviu uma voz forte e grave vindo da sala de Dalila. Ela se levantou imediatamente para checar o que estava acontecendo, mas parou na porta de vidro quando viu o que se passava ali. Alguns funcionários também estavam ali na frente. Não sabiam se chamavam os seguranças, se interviam e alguns estavam só pela curiosidade mesmo.

           

            Aziz, o médico-cirurgião sócio do hospital Sírio-Libanês e pai de Dalila, havia chegado sem que ela notasse. Entrou como um cliente normal, porém no piso do escritório de sua filha, ele apenas se apresentou pelo sobrenome. Quando foi liberado, atravessou o corredor com uma expressão de poucos amigos e um encadernado embaixo de seu braço. Entrou na sala de Dalila sem bater. A loira estava lendo um documento do departamento de finanças que precisava ser aprovado logo quando foi interrompida.

            “Dalila, o que é isso aqui?” Ele jogou a revista que trazia em cima da mesa da moça, que tinha se surpreendido com a voz de seu pai. Eles pouco se viam.

            “Uma revista.” Ela não demorou a assumir seu papel cínico para enfrentar seu pai.

            “Não se faça de idiota! Você está na capa dessa revista com uma bandeira gay se assumindo publicamente!”

            “E? Se tinha gente que não sabia, já tava mais do que na hora de saber.”

            “Você é uma imbecil!”

            “Imbecil é você! Isso não tem nada a ver com me assumir, eu estou apenas defendendo um posicionamento da minha empresa, se é que você leu a matéria antes.”

            Aziz virou um tapa aberto na cara de sua filha. Ele nunca tinha levantado a mão contra ela, em nenhuma ocasião. Tê-lo feito naquele momento deixou Dalila sem reação.

            “Você é uma imunda! Além de sujar o nome da sua família, da minha família, está sujando a minha reputação e a de Allah! Você deveria ter vergonha de sair por aí dizendo essas coisas, eu deveria ter te corrigido quando criança!” Aziz ergueu a voz. Ele não se importava com a aglomeração que se formava na frente da sala de Dalila e continuou dizendo o quão nojenta, irresponsável e errada ela era, utilizando até de argumentos que nada tinham a ver com aquela discussão. “Eu tenho vergonha de você! Eu tenho asco! Sharmuta! Você está proibida de chegar perto da minha casa!”

She keeps me warmWhere stories live. Discover now