Como se estivesse funcionando no modo automático, ela se levantou e caminhou até o seu closet, estava enrolada na toalha até aquele momento, os cabelos molhados haviam deixado uma mancha no travesseiro ao qual ela se recostou. Ela tinha um encontro.

Escolheu uma saia preta de cintura alta, um cinto com padrão de onça, uma camiseta branca simples e um sapato aveludado vermelho. Apesar de sua carreira e idade -ela odiava admitir isso-, seu guarda-roupas era muito juvenil. Só usou um rímel para pentear seus cílios e um lip balm sem cor. Pegou sua bolsa e saiu. Ficar sozinha em casa naquele sábado estava sendo enlouquecedor, e já que ela estava toda atolada nas merdas da vida, e ainda por cima sozinha, porque não se afundar mais?

Camila estava na cama com sua sobrinha. Cibele estava ajudando-a com as mensagens para a ruiva, embora não tivesse visto muito da conversa.

"Você tem um encontro daqui...." Cibele olhou no seu próprio celular. "40 minutos. Posso saber porque ainda não está se arrumando?

"Eu tô nervosa. Eu nunca fiz isso antes."

"Ir num encontro? Mentira, fez sim, porque eu sou testemunha ocular."

"Não, convidar alguém pra um encontro. Uma paciente pra um encontro." Ela enfatizou a palavra paciente.

"Se nada der certo, você dá uma consulta de graça pra ela. Vai logo, Camila!"

Cibele riu e tocou-a da cama, o que fez Camila se levantar e ir tomar um banho. O tempo gasto no banheiro foi mais para a maquiagem do que para o banho em si. Com suas mãos tremendo, era muito difícil fazer um delineado sem borrar ou deixar torto. Quando saiu, escolheu de seu guarda-roupa um short de cós alto branco, conjunto com um camisete ¾ e uma sandália de salto. Camila Nasser não era Camila Nasser sem um salto nos pés.

"Ci, tá bom?"

Cibele tirou os fones do ouvido, se desconcentrando do jogo online e olhou para a tia.

"Tá perfeita, Mila. Sério."

"Eu tô muito nervosa. Minhas mãos estão suando. O que eu tô fazendo?"

"Relaxa! Você só tá indo num encontro." Cibele riu.

"E se ela me denunciar? E se ela me achar uma doida que já chama pra um encontro no dia seguinte da balada? E se eu falar alguma merda tipo "Eu te amo" à lá Teddy Mosby?"

Cibele gargalhou e ficou em pé.

"Mila, calma! Ela aceitou, não aceitou? Ela tá interessada também. Além do mais, pelo que eu vi ontem, ela tem outros propósitos com você... Ótima referência, inclusive. Diferente de Teddy Mosby, você é linda, legal, inteligente e vai ficar com sua Robin. Pelo menos hoje. Se nada der certo, tem mais um monte de mulher e cara legal por aí. Relaxa, tia. Kiss the girl."

Camila respirou fundo e abraçou a sobrinha. Pegou sua bolsa, jogou um beijo no ar e saiu em direção ao elevador de seu apartamento, apertando o -1.

Ela chegou no restaurante que disse para Valéria encontrá-la. Queria muito poder seguir o roteiro de ir busca-la em sua casa, mas ela ainda não tinha estruturas físicas para esse passo, ela já estava muito nervosa, era melhor só se encontrarem lá. Pediu uma mesa com dois lugares e uma boa vista para o garçom e avisou-o que logo chegaria alguém procurando por ela.

Ela estava usando o celular como escape para seu nervosismo quando escutou um pigarro leve bem próximo e ergueu os olhos.

"Oi."

"Oi! É- Oi." Camila ficou em pé e Valéria percebeu que ela ficou desconcertada, sem saber como se portar. A ruiva riu e se sentou. Estava com um sorriso no rosto, mas também não era capaz de se mover para cumprimentar a mulher em sua frente com algo mais íntimo como um abraço. Ela também não sabia no que estava mergulhando. Ouviu a voz de Dalila dizendo em seu subconsciente "Não quer abraçar, mas tava quase engolindo a moça."

She keeps me warmWhere stories live. Discover now