A menina não respondeu e Valéria tomou aquilo como um sim. "Você escolhe o filme, tá bom? Agora tem que ir escovar os dentes, trocar de roupa e tomar café."

Quando Lorena entrou no banheiro, Valéria deixava o uniforme da escola em cima da cama e pensava no que poderia ter acontecido para causar aquele choro matinal. Acordar cedo estava sendo muito estranho. Ela ajudou a menina a se arrumar e carregou-a no colo, após seu pedido manhoso, até a cozinha.

Elas tomaram café em silêncio, mas de mãos dadas, como sempre faziam desde quando Lorena era pequena e estava triste ou doente. A mochila de Lorena e pastas de Valéria já estavam arrumadas em cima do sofá, então saíram rápido. Até o engarrafamento estava mais difícil aquele dia, dois acidentes na via principal. Valéria chegou atrasada na empresa após deixar sua filha atrasada na escola.

"Oi." Dalila apareceu na sala de sua amiga. Sua voz estava bem rouca. "O que aconteceu?"

"Nada, porquê?"

"Você chegou, não foi me dar oi como sempre faz, está com essa ruguinha na testa que você tem quando está pensativa... Eu te conheço, Val."

"A manhã foi estranha. Eu tive um sonho muito estranho. Não teve sentido nenhum, mas eu acordei arrepiada. Tipo, arrepiada mesmo, de um jeito bom. Fui acordar a Lorena e ela começou a chorar quando eu disse que era hora de ir pra escola. Ela não queria ir de jeito nenhum."

Dalila expirou o ar de seus pulmões, fazendo um barulho alto, enquanto se sentava à frente de sua amiga.

"Eu odeio dizer isso, mas... Val, a Lorena não tá bem com a sua separação. Ela não tá conseguindo entender isso muito bem. Ela vai, eventualmente, mas ainda não entendeu. E ontem, depois da psicóloga, sei lá, ela deve ter lembrado de alguma coisa. Você vai ter que ter mais paciência do que nunca."

"Eu não briguei com ela. Eu estou sendo paciente, eu só... ela nunca chorou pra ir pra escola. Isso é meio angustiante, sabe?"

"Não se preocupa, ela vai ficar bem, tá? Como foi lá na psicóloga, inclusive?"

"Foi legal. Ela é muito legal, muito profissional, acho que vai dar certo."

A língua de Dalila estava coçando para fazer uma piadinha, mas ela sabia que não era o momento, então guardou o comentário para mais tarde.

"O que aconteceu com a sua voz?"

"Saímos da festa às 4 da manhã e fomos para um karaokê, estava lá até agora."

"Eu queria ter esse pique."

"Você tem. Tá guardado aí em algum lugar. Ei, falando nisso, porque a gente não vai pra algum lugar semana que vem? Sei lá, pode ser na sexta, se você quiser. Sair, alguma coisa assim."

"Eu não sei, amiga. Eu nem sei como vai estar minha vida depois da reunião com a advogada hoje."

"Vai estar normal, porque vai dar tudo certo, hoje, segunda-feira e depois também."

"Eu espero."

"Val, o pessoal da publicidade tá chamando pra uma reunião."

"Vamos."

"Srta. Valéria?" Sua secretaria bateu na porta de reunião e interrompeu a explicação da chefe de publicidade. "Desculpa interromper, Letícia. O gerente do banco está esperando no telefone. Ele disse que é urgente."

Valéria ficou de pé e olhou para Dalila, que assentiu com a cabeça como se dissesse que dava conta e depois atualizaria a amiga do que fosse decidido na reunião. A ruiva atendeu o telefonema. Ficou por quase uma hora no telefone com o gerente do banco da empresa. Ele disse que notou algumas movimentações estranhas na conta da empresa de locais que geralmente não costumavam aparecer na lista de transações, nada relevante em valor líquido, mas que poderia indicar uma tentativa de golpe. Como se alguém estivesse tentando verificar se seria pego. A conta empresarial poderia estar em risco e ele achou melhor notifica-la. Mal tinha acabado de desligar o celular para começar a procurar pela documentação requerida pelo gerente, afinal, ela ia ter que passar na agência, para verificar as transações e fazer uma acareação dos possíveis acessos permitidos à movimentar aquela conta, quando Dalila apareceu e colocou apenas a cabeça para dentro da sala da amiga.

She keeps me warmNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ