capítulo 1

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São Paulo, 9:50 am - escritório da Insurazo

O dia ainda estava começando no prédio corporativo e Valéria já estava indo para sua segunda reunião do dia, acompanhada de sua sócia, quando seu celular pessoal vibrou no bolso de seu blazer.

"Espera aí, Dalila... Alô?"

"Colégio Da Vinci. Sra. Valéria Monteiro, por favor?"

"Sim, sou eu mesma. Aconteceu alguma coisa?"

"Nada grave em questão de saúde, senhora. Houve uma ocorrência com a sua filha e a diretora gostaria de uma reunião assim que possível."

Valéria fechou os olhos coçando as têmporas, demonstrando preocupação e cansaço ao mesmo tempo. Aquela situação vinha se repetindo muitas vezes nos últimos dois meses.

"Eu estou indo."

"Certo, obrigada. Desculpe o incômodo."

Valéria desligou o celular e seguiu para o lado oposto ao de sua sócia.

"Valéria? A gente tem reunião agora!"

"Você vai ter que ir sozinha."

"O que foi?"

"Lorena." Ela sumiu no corredor e Dalila revirou os olhos, entrando em sua sala antes de desaparecer.

Além de todo o trânsito às dez da manhã na capital paulista, Valéria ainda teve de lidar com uma ligação de seu advogado. O divórcio com seu ex-marido estava sendo muito mais do que uma tarefa difícil. Ela teria uma audiência ao final da semana novamente para decisão de comunhão de bens, mesmo que tivesse sido casada sem assinar o tal termo.

Quando chegou à escola, foi logo anunciada e a diretora veio recebê-la na sala de espera, simpática, mas num tom sério, demonstrando que estava tão cansada quanto a própria empresária da décima ocorrência num curto período de tempo.

"Valéria, me desculpa chamá-la aqui novamente. Imagino que tenha um dia muito cheio de compromissos."

"O que aconteceu dessa vez, dona Eva?"

"A Lorena é muito inteligente, prestativa, mas como sabe, suas notas e o desempenho em sala têm sido um dos piores ultimamente. E ela não está mais conseguindo socializar com seus coleguinhas. Os outros pais estão irritados com ela, entende? Hoje, ela brigou com um coleguinha, mordeu o braço do menino, e ficou uma marca feia. Sei que vamos ter problemas com isso."

A ruiva massageou as têmporas de novo e aproveitou para respirar fundo.

"Eu sinto muito, dona Eva. A senhora sabe que não é isso que eu ensino em casa."

"Eu sei, eu sei. Não é isso que estou dizendo. É que, realmente os pais do garoto vão querer explicações, e nem eu mesma posso dar isso à eles. Sua filha está passando por um momento delicado, alguma coisa está alterando o comportamento dela e talvez seja legal um acompanhamento psicológico, ou uma avaliação que fosse."

"É... É, eu acho que sim. Ela vai ser expulsa?"

"Não, não. Seguindo as normas do colégio, eu não posso mantê-la aqui hoje, mas ela não está expulsa. Eu só preciso saber que a senhora vai investigar esse comportamento. Os professores já tentaram de tudo e as reclamações só aumentam. Só queremos o bem dela."

"Sim, sim. Eu sei. Eu vou fazer isso. Eu acho que isso pode ter à ver com o... com o meu divórcio."

A diretora absorveu a informação e assentiu com a cabeça.

She keeps me warmWhere stories live. Discover now