– E-eu...

– Você pediu respostas, é o que estou te dando – a garota retrucou com firmeza e pensei em contestar mais uma vez, mas apenas consenti e me voltei para a porta, afinal ela estava certa.

Prendi a respiração e posicionei a mão sobre a maçaneta por alguns segundos antes de finalmente empurrar aquela porta e soltar o ar, sentindo como se de repente meus pulmões estivessem mais leves, pois pela primeira vez em dias eu não estava vendo algo grotesco ou assustador, era apenas... triste.

Haviam somente três pessoas na sala, ou duas se levasse em conta que uma delas estava morta. Eram Victor, Evelyn e uma enfermeira que segurava um bebê recém-nascido – ainda coberto pelo sangue do parto – nos braços.

Me aproximei e estremeci com o clima frio que pairava no quarto, como se aquele fosse um ambiente desconectado do hospital, algo mais... mórbido. E pensar em ver a mãe de Abelle ali, morta, em uma maca suja de sangue, fazia meu estômago se revirar e um bolo se formar em minha garganta, mas ainda assim parei ao lado da mulher e de Victor, que parecia em estado de choque, sem derramar uma única lágrima, apenas acariciando o braço da esposa.

Fiquei um bom tempo parada, apenas observando os dois, até a enfermeira pigarrear e se aproximar de Victor.

– Senhor, sei que é doloroso mas a sua filha...

– Isso não é minha filha – ele disse sem qualquer emoção, havia apenas firmeza e certeza em suas palavras, e isso me atingiu como um soco no peito. O que diabos ele estava dizendo?

A enfermeira apenas assentiu com o olhar baixo e saiu da sala, muito provavelmente para dar o primeiro banho na criança. O homem permaneceu ali, encarando Evelyn como se esperasse que a qualquer momento ela fosse abrir os olhos e se sentar, dizendo que havia apenas caído no sono.

– Nenhuma nunca será tão perfeita como você, ma poupée – foram suas últimas palavras antes de dar um beijo na mão de Evelyn e sair pela porta.

Eu sabia que precisava ir atrás dele se quisesse saber a história toda, mas me permiti ficar mais alguns segundos ali, observando a beleza de Evelyn. Já havia a visto por fotos, mas pessoalmente... Ela era ainda mais linda, como se realmente fosse uma boneca – o que era exatamente o que ela parecia ali, imóvel, com os olhos fechados e o rosto sereno.

Era tão parecida com a filha... Seus cabelos tinham o mesmo tom de dourado e, mesmo morta, as bochechas de Evelyn ainda mantinham um tom rubro natural. Levantei a mão e pensei duas vezes antes se deveria mesmo fazer aquilo, aproximando meus dedos do rosto de Evelyn, mas antes que pudesse tocá-lo vi Abelle parar ao meu lado e suspirar, os olhos baixos como se não quisesse ver a mãe.

– Você precisa ir – ela disse e assenti, me afastando da cama onde estava o corpo de Evelyn e saindo pela mesma porta por onde havia entrado, tomando um susto ao ver que não havia saído no corredor do hospital, mas sim no corredor do andar de cima de casa.

Porém não era a minha casa no presente, as coisas estavam diferentes e eu sabia disso pois já havia estado ali em um sonho anterior.

Não, não pense nisso, não agora... Ordenei à mim mesma mentalmente quando imagens daquele pesadelo passaram a insistir em reaparecer. Esfreguei os olhos com as pontas dos dedos e entrei no quarto à frente, o único que estava com a porta aberta e de onde vinha, novamente, um choro de bebê extremamente alto.

Bom, eu podia dizer com toda a certeza que aquela era uma cena incomum: Victor estava sentado na cama de casal bagunçada com o rosto por entre as mãos enquanto uma senhora segurava a bebê no colo, ninando-a numa tentativa de tentar acalmá-la e cessar seu choro.

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now