Cap. 29

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Você se lembra daquela garota que tocou aquela música para você?
Nós a vestimos naquele vestido amarelo que você deu para ela
Lembre-se do que você disse para ela
A história sobre o seu funeral

Agora você sabe que a história que eu te contei é verdade
É verdade, nós a vestimos e você chegou mais perto

Você pensou que nós te levaríamos
Você estava certo, nós te levamos

Sóley – About Your Funeral

◈◇◈

Quando abri os olhos novamente, já não me encontrava mais no cemitério. Estava de pé, encarando uma enorme construção antiga, cheia de rachaduras, onde bem acima da enorme porta de entrada, letras pretas meio apagadas e desbotadas indicavam que ali era o hospital municipal de Winter Hills.

Mas eu sabia que algo estava errado. Eu tinha a mesma sensação de quando tivera o sonho onde estava na realidade de Abelle, há quase duzentos anos atrás. E, diferente de quando eu "desmaiara", eu podia sentir o sol de verão queimando minha pele, o dia não estava frio e cinzento.

Então, de alguma forma, eu entendi o que era aquilo. Eu havia pedido por uma explicação, por respostas, e bom, ali estavam elas, eu só precisava me esforçar um pouco.

Respirando fundo e tentando ignorar a sensação de estranhamento que me perturbava, comecei a subir os degraus de mármore que dariam na entrada do hospital.

Tudo parecia um pouco mais esquisito do que eu pensava que deveria: o silêncio tomava tudo e chegava a até a incomodar, e não havia sequer uma pessoa dentro daquele hospital enorme. O balcão da recepção estava vazio, assim como as cadeiras da sala de espera e os corredores. Não haviam enfermeiras, médicos, ou ao menos pacientes.

Me aproximei da recepção esperando encontrar algo, mas a única coisa que achei foram papéis amarelados, aparentemente fichas de pacientes que pareciam ter sido esquecidas ali há muito tempo, pois estavam cobertas de poeira.

Fucei os papéis na intenção de encontrar algo que me servisse de ajuda e, bom, ali estava: a ficha de Evelyn Rose.

Porém não havia nenhuma informação que me ajudasse grande coisa, apenas informava data e horário de entrada, data de nascimento, nome completo e o motivo de ter dado entrada no hospital, que no caso era o parto de seu primeiro filho.

Evelyn tinha apenas vinte e um anos quando deu a luz à sua filha, e vinte um anos quando acabou por falecer pelo mesmo motivo. Céus, ela ainda tinha tanta coisa para viver, vinte e um anos... Daqui a apenas seis anos eu mesma teria essa idade, pensar nisto fez meu peito doer e eu me sentir realmente mal por Evelyn.

Eu esperava que ela ao menos tivesse ido em paz.

Devolvi as fichas para o balcão por um momento fiquei me perguntando para onde ir, aquele hospital era notavelmente grande, e eu com certeza demoraria no mínimo uns quarenta minutos para procurar por ele inteiro, então apenas comecei a andar sem rumo, esperando que algo como um instinto me levasse ao lugar certo.

Mas diferente do que eu esperava, não precisei de nada disso, pois um choro de bebê extremamente alto começou a vir de um dos três corredores, então apenas segui o som.

Cheguei na porta de onde vinha o choro, engolindo em seco ao encostar a mão na maçaneta, me dando conta de que poderia encontrar algo horrível ali.

– Abra – alguém disse atrás de mim, me fazendo dar um pulo com o susto.

Me virei com as mãos tremendo e um suor frio escorrendo pelas costas e suspirei de alívio ao me deparar com Abelle parada feito uma estátua no corredor, amuada contra a parede como se tivesse receio do que viria a seguir. Porém, apesar de aliviada por ser somente Abelle atrás de mim, a expressão da garota não me deixava com menos medo de o que eu poderia encontrar dentro daquele quarto.

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now