Cap.30

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Odeio distorcer sua mente
Mas Deus não está do seu lado
Uma velha crença dilacerada

Carne queimando, você pode sentir o cheiro no ar
Porque homens como você têm uma alma tão fácil de roubar

Avenged Sevenfold – Nightmare

◈◇◈

Vi tudo ficar claro de repente e me sentei na grama com a mão sobre o peito, sentindo meu coração acelerado bater contra minhas costelas como se quisesse quebrá-las. Minha respiração estava ofegante e meu rosto formigava, parecia que eu havia acabado de sofrer um ataque de pânico.

Olhei para o lado e me dei conta de que Henri estava bem ali, parado com uma cara de preocupação enquanto, aparentemente, esperava alguma reação ou fala minha.

– Eu entendi – foi tudo o que eu disse com minha voz rouca e falha e o que recebi como resposta foi um olhar ainda mais confuso que o anterior. – Eu finalmente entendi tudo. Precisamos voltar.

Levantei me apoiando em Henri e ignorando o fato de que tudo à minha volta parecia ter escurecido de repente. Maldita pressão baixa.

– Lis, o que você viu? – Henri perguntou depois de também se levantar.

– Tudo – eu disse e acho que deve ter ficado explícito no meu rosto que "tudo" não era nada bom, pois Henri me abraçou de repente e sussurrou um "que bom que você tá bem". – Obrigada, mas precisamos ir, isso é sério.

– Você sabe onde o Eliel está? – Perguntou e eu apenas confirmei com um aceno de cabeça. – Tudo bem, vamos.

Sentir Henri segurar minha mão enquanto saíamos do cemitério foi um alívio sem igual no meio de tanto caos. Eu conseguia me sentir segura mesmo depois de ter, de certa forma, presenciado as coisas mais grotescas e desumanas que já havia visto na vida.

Mas eu não tinha mais que me preocupar com Abelle ou qualquer uma das crianças à quem aquele psicopata havia feito mal, eu iria acabar com aquela merda de uma vez por todas.

Estava tão imersa em pensamentos e nas lembranças daquelas visões que mal percebi quando Henri parou de andar apesar de continuar com sua mão enlaçada com a minha.

– O que foi? – Perguntei franzindo as sobrancelhas e Henri meneou a cabeça.

– Isso te afetou tanto que você nem consegue perceber mais, não é? – Ele disse e na minha mente só vinham pontos de interrogação. Sobre o que aquele idiota estava falando? – Você está chorando, Lis. Chorando e murmurando sozinha desde que acordou no cemitério.

Completamente descrente, passei as pontas dos dedos sob os olhos e senti minha pele umedecer. Esperava que eu fosse estar pelo menos um pouco surpresa com aquilo, mas não foi o caso, apenas respirei fundo e abaixei o olhar para o chão.

– Henri você... Você não tem a mínima noção do que eu acabei de ver. Eu nem estou surpresa que esteja assim agora, é tanta coisa que minha mente mal consegue processar, eu só... Eu só quero que isso acabe logo, porque se não acabar eu não sei mais como vou fazer para lidar com tudo isso, talvez eu apenas termine surtando como os outros e minha mãe precise me internar em uma clínica psiquiátrica enquanto procura eternamente pelo caçula desaparecido.

– Isso não vai acontecer, olhe só onde você já chegou! Você sabe onde encontrá-los, você sabe o que fazer e...

Só que não é assim que funciona, Henri! Será que você consegue ser menos... Você? O mundo não é uma bola grande e fofa de algodão-doce cor-de-rosa onde tudo é perfeito! – Gritei impaciente e levantei o rosto para tentar parar o choro e tomar um ar para me acalmar antes de continuar. – Enquanto eu estiver aqui e souber das coisas e estiver disposta a ajudar todas aquelas crianças, Victor vai estar disposto a fazer o que for preciso para me parar como já fez com muitos outros antes de mim, e então eu serei só mais uma, outra pessoa que tentou ajudar mas não foi esperta e ágil o suficiente para acabar com essa sujeira, e isso Henri... Isso é algo ao qual eu não estou nem um pouco disposta.

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