Cap. 16 - Um Pedido

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Eu só queria ouvir sua voz
Pele que é quente, olhos que choram
Eu só queria ver seu sorriso
Sentir o seu toque, já faz um tempo

Há muito, muito tempo atrás, eu era uma garota como você
Meu pai me amou
Me manteve segura e bonita
Ah, como eu gostaria de dançar em torno dele apenas mais uma vez
Mas estas pernas frias, não se movem mais
Você tem esses belos olhos, sabe?

Mad Father OST – Old Doll

◈◇◈

Eu já sabia desde muito tempo que você viria para cá, afinal, eu sei de muitas coisas. E sabia que você era exatamente igual a mim.

Você não seria como os outros, não teria medo de mim e acabaria fazendo as coisas somente por estar assustada. Eu sabia que você me entenderia, porque você é uma solitária, assim como eu, e sei que ambas de nós nunca vimos isso como algo poético ou como motivo de orgulho.

Afinal, a solidão não é bonita quando presenciada em sua própria vida, não é Lis? Ela machuca, entorpece, te faz fazer coisas que você nunca quis – e eu nunca quis ser má, nunca desejei nenhuma das várias tragédias que aconteceram nesta casa fadada à desgraça.

Eu só... Não queria ficar sozinha, assim como você. Mas você sempre aguentou tudo de cabeça erguida, e assim que eu te conheci, percebi que era algo a ser invejado, porque eu sempre fui fraca e calada.

Claro que quando tudo aconteceu eu era somente uma criança cega e ingênua demais, mas talvez tudo pudesse ter sido menos pior e trágico se eu o tivesse confrontado, se não tivesse apenas abaixado a cabeça e chorado enquanto me quebrava por dentro.

Mas eu conheci pessoas boas depois, cujas tentaram me ajudar, mas sempre sem sucesso por não entenderem o que realmente se passava. Porém, sei que você entenderá, porque infelizmente passou por coisas parecidas.

Sei do que acontecia com você na escola, sei das brigas na sua família, sei do quanto você se sentia sozinha e cada vez mais distante de tudo e de todos, inclusive de si mesma. Sei de quando tentou conversar com a sua mãe mas não foi levada a sério.

Isso é engraçado. Essa parte, sabe? Porque eu não tive uma mãe, e sei que era um dos motivos de carregar tanta culpa em meu coração tão pequeno apesar de nunca ter entendido realmente o porquê de nunca ter visto minha mama.

Mas, de qualquer forma, não faria diferença porque sei que ela não me ouviria também, como a sua fez com você.

Eu queria que pudéssemos ter nos conhecido quando eu ainda estava aqui, quando ainda podia me mover e sorrir e era quente, uma garotinha bonita como você. Teríamos sido grandes amigas, teríamos cuidado uma da outra e brincado com bonecas normais, que não assustariam nem a mim e nem a você.

Quando chegasse a hora de dormir, você poderia ler para mim as histórias de fantasia que você mesma escreveu. Você tem um dom para isso, não é? Sei que gosta de histórias de terror, mas as suas infantis são as minhas favoritas.

E nós irritaríamos o Eliel, só para rir quando ele perdesse a paciência, e depois pediríamos desculpas, mas nunca sem deixar de achar graça. Ele é um ótimo irmão, não? Se importa muito com você.

Eu também não tive um irmão, mas sei que você não se importaria em me emprestar ele um pouquinho, porque você é boa, diferente de mim.

Como disse, eu fiz algumas coisas ruins, desesperada por alguém que ficasse comigo, assustada e não aguentando mais tudo isso. Mas eu me arrependo tanto... Eu nunca quis machucar ninguém, mas eu mesma estava tão machucada que não conseguia pensar.

Eu só queria um amigo, eu só queria ajuda... Mas agora sei que não preciso mais causar dor, por que você vai me ajudar, não é? Afinal, somos iguais.

Eu só tenho um pedido: preciso que você realmente entenda Lis, que você abra os olhos, que veja que isso não é somente um mistério bobo parecido aos dos livros e filmes de terror que você tanto gosta.

Existe um perigo real, Lis. E desta vez, não sou eu a vilã.

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now