Cap. 22

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Rangendo está a porta, tão gentilmente

Lado a lado, chamando seu nome

Nunca, nunca, nunca abra aquela porta

As coisas não serão as mesmas

Rastejando está a mão da aranha

Procurando sua presa

Logo você será a próxima

Presa na teia da aranha

End Credits (Coraline Soundtrack)

◈◇◈

Depois de tomar um longo banho, cozinhar arroz e batatas e fritar frango para que eu e meu irmão pudéssemos ter um almoço decente depois de tanto tempo comendo pão, besteiras e macarrão, tranquei a casa – mesmo sabendo que aquilo não faria muita diferença por conta das janelas estouradas – e fui até a casa ao lado junto de Eliel, mesmo que morrendo de vergonha por saber que teria que falar com desconhecidos e ainda pedir um favor sem ao menos lembrar como se chamavam.

Parei na varanda, toquei a campainha com a mão tremendo e respirei fundo, puxando meu irmão para que ficasse o mais próximo possível de mim. Sabia que gente de cidade pequena geralmente era um amor e, pelas flores na varanda, as cortinas coloridas que balançavam por conta da janela aberta e o tapete felpudo na frente da porta onde estava escrito "Seja bem-vindo!", eu não duvidava que eles fossem somente mais um casal qualquer, normal e simples como Dona Emy era.

Não demorou muito para que a porta abrisse e uma mulher negra, grávida do que pareciam ser uns cinco ou seis meses, com longos cabelos cacheados – e um sorriso maravilhoso, devo confessar – nos recebesse como se fôssemos visitas já esperadas.

– Oi! Desculpem meu estado, eu estava faxinando a casa, a empregada está de folga e meu marido trabalhando, então eu meio que acabei sozinha – ela disse fazendo um biquinho. – Vocês devem ser os irmãos Mitchell, sua mãe passou aqui pouco antes de ir viajar, ela parece ser um amor de pessoa apesar de termos nos falado tão pouco.

– Ah, não, só ele é Mitchell, nós meio que... somos de pais diferentes – eu disse meio sem graça, já sabendo que algumas pessoas não reagiam muito bem a este fato e geralmente passavam a enxergar minha mãe de uma maneira bem ruim.

– Hum, é, eu entendo bem isso – a mulher respondeu calmamente e já me senti mais aliviada. – Bom, sua mãe deve ter dito meu nome, mas, em todo caso, Sou Mary. Vocês são... Marliss e Eliel, certo?

– É... pode me chamar de só de Lis, é mais fácil e menos feio – eu disse e ela riu como se eu realmente houvesse dito algo engraçado. Mary parecia uma daquelas tias doidas por crianças que eram super gentis e não sabiam dizer "não" para uma bela cara de choro. – Então, é que a minha mãe disse que se precisássemos de alguma coisa nós poderíamos vir aqui...

– Claro! Eu não tenho muito o que fazer graças a esse serzinho aqui que me afastou do trabalho e da vida, então ajudarei no que der – ela respondeu cutucando sua barriga com um sorriso enorme estampado no rosto. – O que aconteceu?

– É que eu preciso ir resolver umas coisas sobre... hã... a minha nova escola, e não queria que o Eliel ficasse andando comigo de um lado para o outro porque pode ser meio perigoso, e deixar ele sozinho em casa também não me parece uma boa ideia...

– Quer que eu dê uma olhada nele para você? – Mary perguntou e eu assenti um pouco tímida. – Claro, sem problemas! Adoro crianças, e nós podemos acabar com o tédio um do outro, não é? – Perguntou ao meu irmão que confirmou com um sorriso mais graça que o meu.

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now