Cap. 1

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Hey, garota
Abra as paredes
Brinque com suas bonecas
Nós seremos uma família perfeita

Melanie Martinez - Dollhouse

◈◇◈

– Será que você pode parar de drama? Pelo amor de Deus – minha mãe disse já se irritando, batendo as mãos contra o volante.

Suspirei e limpei as lágrimas dos olhos e bochechas, sem querer soltando um soluço. O que mais eu podia fazer?

– Mas mãe, era o meu livro favorito! Não pode ter acabado assim, simplesmente não pode! – Gritei com uma voz aguda incomum e meu coração se encheu com uma profunda tristeza.

Eu havia passado uma semana lendo aquela maldita trilogia e ela acabava assim, sem mais nem menos. Estava com uma vontade gigantesca de ir até o Canadá só para bater na autora e mandar ela escrever mais. Ok, talvez isso fosse meio exagerado, mas eu necessitava de uma continuação.

Podia parecer estranho para pessoas normais, mas eu me apegava à personagens de modo a ficar triste como se um parente meu tivesse morrido.

– É só um livro, depois você acha outro que goste mais – minha mãe disse indiferente e pude ouvir meu irmão mais novo sussurrar do banco de trás:

– Ah, ela não disse isso. – Sim, ela havia dito. – Lis, respira, não precisa nos dar um sermão de como era especial para você e jamais existirá outro igual.

Olhei mortalmente para ele, eu não fazia aquilo. Tá, talvez umas poucas vezes mas nada que mudasse algo em nossas vidas.

– Não vou, agora tchau que ninguém te chamou na conversa – disse e foi a vez de minha mãe me encarar mortalmente.

– Fale direito com o seu irmão.

Revirei os olhos e apoiei o rosto no vidro da janela, observando a rodovia cheia de carros apressados.

– Então? Qual é a história dessa nova casa? – Perguntei me recuperando da depressão momentânea e já sentindo certa euforia misturada a ansiedade.

– Como assim história, menina?

– Sei lá, é uma casa antiga de madeira em uma cidade quase vazia que fica no meio do mato, isso não te lembra filmes de terror? Deve ter alguma história por trás, tipo Poltergeist – expliquei fazendo referência ao filme que havíamos assistido na semana anterior e Eliel deu uma risadinha.

– Não fale sobre isso senão a mamãe não dorme de noite, esqueceu? – Ele disse e não pude segurar uma risada.

– Haha, como vocês são engraçados. E não, não tem história nenhuma por trás da velha casa nova mas, como segundo você mesma, ela fica no meio do mato, então é bem capaz que tenha muitos grilos, aranhas e coisas assim.

Estremeci só de pensar. Droga, não tinha graça brincar com a minha mãe, ela sempre apelava para as únicas coisas das quais eu tinha medo: insetos e bonecas.

– Legal, empolgante – murmurei com uma expressão de tédio e puxei meu edredom do banco de trás, enrolando-me até praticamente sumir ali dentro, e novamente encostei o rosto na janela. – Quando chegarmos você me acorda, ok amorzinho?

– Tudo bem, querida filha – ela respondeu e esbocei um leve sorriso.

Depois de pensar mais uma vez e lamentar o término da trilogia da minha vida, finalmente consegui pegar no sono, ou pelo menos cochilar já que aquele carro balançando de um lado para o outro não ajudava em nada.

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now