Cap. 26

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Me desculpa, isso parece muito errado,
Um jovem desconhecido que passava me disse
Ah, ele disse que meu pobre corpo é lamentável
E gentilmente pegou minha mão.

Me desculpa, me desculpa por ser certamente uma criança inútil.

Hatsune Miku – Gomenne, Gomenne

◈◇◈

(Eliel)

Um dia antes...


Assim que entrei na casa de Mary, ela me disse para sentar no sofá da sala e ficar à vontade enquanto ela terminava de fazer o almoço, então assim o fiz, correndo os olhos pelo local para ter certeza de que não iria passar a tarde na casa de uma assassina de crianças.

Passar tanto tempo com a Lis está realmente afetando minha sanidade mental, pensei respirando fundo e me acomodando no sofá.

A sala parecia ter saído de uma daquelas revistas de lojas de móveis, organizada e bonitinha demais, com uma mesa de centro de vidro, cortinas rendadas nas janelas e vasos grandes com girassóis ao lado da estante onde ficavam a televisão e alguns porta-retratos. Bom, nenhum sinal de psicopatia.

Senti alguma coisa pequena e felpuda passar por entre os meus pés e me abaixei, me deparando com um pequeno gatinho siamês que me encarava e ronronava como se pedisse carinho. Sorri e o peguei no colo, imaginando que Lis viria aqui muito mais vezes se soubesse que eles tinham um gato.

Ainda ronronando, o gatinho deitou sobre as minhas coxas e fechou os olhos, muito provavelmente para cochilar. Gatos eram sempre tão preguiçosos, eu preferia mil vezes ter um cachorro.

Encostei a cabeça contra o sofá e fechei os olhos. Pelo visto não era só a minha irmã que estava se desgastando com essa coisa toda, eu sentia como se estivesse há três dias sem dormir, e estava quase pegando no sono quando o gato se levantou de repente, rosnando para algo enquanto apertava suas unhas contra a minha roupa.

Abri os olhos, pronto para tirá-lo dali por pensar que ele estava querendo me atacar, quando vi que estava de olho em algo no fim do corredor que daria para a porta de entrada. Suas costas estavam arqueadas para cima e seus pelos arrepiados como se ele estivesse brigando com outro gato, eu sabia que aquilo era um péssimo sinal.

Estendi minha mão para tentar acariciá-lo mas ele pulou de repente e saiu correndo, derrubando uma porção de coisas pelo caminho enquanto ia em direção à cozinha.

– Jesus! – ouvi Mary gritar e em questão de segundos ela apareceu na entrada da sala. – O que foi isso?

– E-eu... Eu não sei, o gatinho estava dormindo e de repente ele ficou louco e saiu correndo.

– Ah, Deus, que susto! Por um momento achei que algo sério havia acontecido. Mas tudo bem, gatos siameses são meio doidos assim mesmo, principalmente o Lick, ele foi tirado da mãe muito cedo, sabe? Então acaba sendo muito inseguro e ficando arisco assim por motivos bobos – ela disse enquanto colocava no lugar as coisas que seu gato havia derrubado. – Mas ele costuma ser um bom gatinho na maior parte do tempo, talvez isso melhore quando ele for adulto.

Apenas assenti e passei a mão pelas pernas para tirar os pelos brancos que haviam grudado no pano. Isso era um problema que até cachorros tinham. Talvez eu preferisse mesmo era ter um peixe.

– Bom, vou voltar para a cozinha, se ele aparecer novamente é só deixar ele quietinho no canto dele, ou ele pode acabar te arranhando – ela me alertou e agradeci, me levantando para dar uma olhada no corredor.

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now