Cap. 24

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Alguém pode me dizer quem eu sou?
Eu não me reconheço já faz um tempo
E desde que você se foi, eu fico acordado toda noite
Pensando se você estivesse aqui, você iria me ajeitar

[...]

Eu estive pensando sobre toda a bagunça que eu fiz
Eu estive pensando em você e as coisas que eu disse
Nunca quis te perder
Nunca quis me perder

Birdy – Ghost in The Wind

◈◇◈

Quando terminei o banho, sequei o cabelo com a toalha o máximo que consegui, então vesti roupas de frio confortáveis e desci com Henri para comer algo – toda aquela coisa não havia me deixado perceber o quanto eu estava com fome, afinal, não comia nada desde que chegara em casa naquela manhã.

Henri cozinhou dois pacotes de macarrão instantâneo no micro-ondas e comemos tudo em silêncio. Vez ou outra ele falava algo engraçado, talvez na esperança de me fazer rir, mas eu estava tão tensa e preocupada que conseguia lhe responder apenas com risadas sem graça, coisa que fazia eu me sentir péssima.

Ele estava se esforçando para me fazer manter a calma e não pirar enquanto agredia a casa mais uma vez, e eu só conseguia pensar em Eliel.

– Quer comer mais alguma coisa? – Perguntou enquanto eu olhava distraída para a tigela vazia à minha frente. – Se ainda estiver com fome eu posso...

– Não, não precisa. Eu estou bem – respondi vagamente e me levantei com a louça suja nas mãos.

– Eu lavo isso, pode deixar.

– Henri! – Eu o repreendi com uma careta feia, sabia que ele estava com a melhor das intenções mas ninguém gostaria de ser tratado como um feto incapaz de fazer qualquer coisa que não fosse chorar (não que eu não estivesse parecendo um). ­– Olha, eu estou louca, mas não burra e muito menos aleijada, eu consigo fazer as minhas coisas. Agradeço muito por tudo, mas você não precisa me tratar como se eu fosse fazer algo errado a cada passo que dou, não ajuda muito, sabe? Só faz eu me sentir uma incompetente.

– Tudo bem, eu só... Desculpe, não queria encher o saco nem nada, só achei que seria melhor se você descansasse.

– Você é um fofo – eu disse dando um sorriso realmente sincero pela primeira vez no dia, sorriso que sumiu no mesmo instante em que vi Henri abaixar os olhos e seu rosto ganhar um tom claro de vermelho. – N-não estou dizendo só p-porque eu gosto...

– Não, eu sei, foi só uma brincadeira, eu entendi – ele disse rindo e senti como se meu peito tivesse ficado mais leve.

Pelo menos ele não era mais um daqueles babacas que achava que meu mundo inteiro girava em volta dele somente por causa de uma paixãozinha boba que logo passaria.

Terminei de lavar a louça e fui até a sala, onde peguei a escova de cabelos e me sentei no sofá, pronta para dar um jeito naquele ninho de pássaros, mas de repente Henri surgiu à minha frente com a mão estendida para mim. Franzi as sobrancelhas sem entender aquilo e ele riu.

– O seu cabelo – disse como se fosse óbvio. – Quer que eu escove pra você?

Eu teria rido diante daquilo mas apenas respirei fundo, me preparando para soltar o maior questionamento da minha vida.

– Henri, posso te fazer uma pergunta?

– Claro.

– Você é gay?

O quê? – Ele guinchou em tom de indignação e não aguentei diante daquela reação, logo veio a gargalhada que eu havia tentado segurar ao interrogá-lo sobre o assunto. – Só porque um cara é legal com você não significa que ele é gay, sabia?

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now