Cap. 5

1.6K 185 230
                                    

Eu não posso controlar maravilhas murchas
Flores que perderam suas formas
Eu fico acordada e assisto tudo
Parecem milhares de olhos

Of Monsters and Men – Thousand Eyes

◈◇◈

Fiquei pelo menos uns cinco minutos parada, hora encarando a chave enferrujada na minha mão, hora encarando o bilhetinho bizarro em cima da cômoda, ainda pensando que tudo aquilo era somente uma alucinação e logo sumiria.

"Cuidado".

– Santa Deusa do Sorvete de Floresta Negra, retiro tudo o que eu disse – falei com a voz falhando e pulei para o meio do quarto, indo direto para o interruptor e acendendo a luz.

Estava paranoica, o medo corria pelas minhas veias. Para qualquer canto escuro do quarto que eu olhasse, imaginava a "Izzy" dos meus sonhos escondida ali, pronta para me tocar com aqueles dedos bizarros e retorcidos enquanto chorava daquele jeito perturbador digno de filme de terror.

Voltei para a cama e fechei as cortinas amareladas que cobriam a janela. Era como se a mesma garota fosse aparecer ali também.

É sua anta, só se ela puder voar e eu acho meio impossível que uma garotinha que mal possui dentes vá ter asas.

Espantei meus pensamentos idiotas, não estava no clima para discutir comigo mesma. Ai porcaria! No que diabos eu estava pensando quando desejei que essa casa estivesse envolvida em alguma história estranha e sobrenatural? Agora mal conseguiria ligar a televisão sem imaginar uma Samara Morgan saltando em cima de mim com aqueles cabelos exageradamente enormes.

Ah, pelo amor... Que pensamentos são esses, Lis? Vamos simplesmente esquecer essa história, foi só um pesadelo como todos os outros e... Tudo bem, não foi só um pesadelo como todos os outros mas ficar pensando nisto agora não vai adiantar nada, até mesmo porque está te dando cada vez mais medo, sua imbecil.

Ok... Respirei fundo e olhei para o quintal por uma fresta na cortina. Pareciam ser nove da noite, provavelmente eu tinha dormido umas três horas, porém pareciam ter se passado apenas alguns minutos.

Abracei meu urso com mais força, querendo chorar, xingar e rir ao mesmo tempo.

Ainda confusa e tentando não fazer as três coisas ao mesmo tempo, travei quando, pelo canto do olho, pude ver a sombra de uma criança parando na minha porta.

Ai meu Deus, por favor...

– A mamãe tá chamando pra descer, ela pediu pizza – disse a voz irritante de Eliel, mais irritante do que nunca. Queria levantar e dar um soco bem no olho dele, só pelo susto.

– Já estou indo, idiota – eu disse tentando ao máximo parecer indiferente e meu irmão apenas deu de ombros e correu pelas escadas.

Levantei e encarei a chave do sótão uma última vez, até resolver que iria deixa-la debaixo do travesseiro. Enfiei o bilhetinho bizarro no bolso da calça e arrumei o cachecol para que as marcas não aparecessem, focando meus pensamentos apenas na pizza que comeria agora.

Assim que cheguei na metade da escada, pude sentir o cheiro que impregnava a casa e quase me dava a sensação de flutuar: queijo derretido. Sim, sei que poderia parecer meio estranho, mas pizza e doces para mim eram como drogas para outras pessoas.

– Estava dormindo ainda? – minha mãe perguntou e eu assenti, pulando os três últimos degraus de uma vez e correndo até a mesa. – Nossa senhora.

– Ah mãe, falando nisso – comecei meio sem pensar, mas precisava saber como aquela chave havia ido parar no meu quarto. – Você me prometeu a chave do sótão, lembra?

A Casa de BonecasWhere stories live. Discover now