XXIX.

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Coloco minhas mãos atrás da cabeça e estico as pernas olhando para o teto parcialmente escuro, ele nunca fica completamente escuro

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Coloco minhas mãos atrás da cabeça e estico as pernas olhando para o teto parcialmente escuro, ele nunca fica completamente escuro. As luzes do jardim sempre entram aqui e criam diferentes formas conforme as coqueiros balançam com o vento. Lembro que isso me assustava as vezes na infância e até na adolescência, mas o que me deixava tranquilo era saber que eu nunca iria ficar no escuro total. Era reconfortante.

Eu senti muita falta disso quando me mudei para Oxônia, foi difícil demais apesar de eu não admitir. Ficar longe da família numa cidade que eu nem conhecia nada? Foi um porre! O que amenizava era que eu tinha pouco tempo pra pensar nisso, já que minha mente estava ocupada em estudar e só estudar. Depois eu acabei fazendo algumas amizades com alguns colegas e conheci algumas garotas que eu saía vez ou outra pra me distrair, até conhecer a Zara. Com ela foi diferente, eu me apaixonei logo de cara.

Mas a Zara sempre foi muito diferente de mim, ela sempre foi resolvida, sempre soube o que queria e quando queria. Só entrou na faculdade de medicina por causa dos pais, mas sempre soube que era moda sua vocação. Foi com ela que eu perdi minha virgindade, eu devia ter uns 19 pra 20 anos, e ela 18, mas quando aconteceu nós não estávamos num relacionamento sério ainda, então eu fiquei com outras garotas depois que ela saiu do curso, eu sequer sabia se voltaria a vê-la de novo. Mas nossos caminhos voltaram a se cruzar e dessa vez eu não perdi a oportunidade, tratei logo de trocar telefones e foi onde começamos a nos conhecer cada vez mais. Foi tudo rápido então, cerca de dois meses depois já estávamos namorando sério.

Foram tempos maravilhosos com ela, todos esses anos serviram para colecionar inúmeras memórias e momentos que eu não vou ter com mais ninguém, mesmo que eu volte a ficar noivo e até me case com outra pessoa. Zara sempre vai ter vivido comigo uma parte da minha vida que ninguém mais vai.

Eu não sei como vai ser com o Zac, apesar de eu estar passando tranquilidade e naturalidade, é muito estranho estar na casa dos meus pais com meu namorado depois de eu ter estado junto de uma mulher por tanto tempo. É muito estranho dizer que sou gay depois de passar a vida inteira achando que era hetero. É estranho. É tudo novo, tudo desconhecido, tudo escuro... Não sei se vai dar certo entre o Zac e eu, não sei se vamos ficar juntos, não sei se ele gosta de mim mesmo ou se eu gosto dele. Eu acho que sim, mas não tenho certeza. Não tenho certeza de nada.

Uma coisa que eu adorava com a Zara, era que eu tinha certeza de tudo. Sempre soube que ficaríamos juntos pra sempre, mesmo que algum dia nos separassemos, eu tinha certeza que continuaríamos amigos, que voltaríamos a sair juntos, mesmo que cada um com seus respectivos parceiros. Ela foi minha amiga antes de tudo, a nossa amizade sempre foi maior que nosso romantismo de casal. E é por isso que ela me perdoou, porque ela também sabia disso, também sentia isso.

Suspiro e me viro na cama puxando o edredom e me cobrindo.

Eu definitivamente quero que dê certo com o Zac, mesmo sendo tudo incerto, eu quero. Ele desperta coisas em mim que ninguém antes fez. É diferente, é... É mágico de certa forma. É bom. Eu gosto. Só preciso me habituar a novidade, saber que daqui uns anos isso vai ser normal, tão normal quanto tudo era ano passado. E eu sei que se depender da minha família, vou me adaptar rapidamente, porque não tem suporte mais confiável pra gente nesse momento, do que eles. Não sei o que eu vou enfrentar, mas sei que tenho um lar pra voltar se eu precisar.

Intenso - Aley [4°história]. Where stories live. Discover now