Eu sou o Sol

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Subi a gola do uniforme até onde pude e prendi no pescoço uma gargantilha larga que Gwen me deu, eu nunca a usei, achava-a grosseira demais, como uma corda rente ao pescoço – de alguma forma, pareceu apropriado. Consegui me desvencilhar dos olhares ao longo do fim de semana, inventei desculpas para não ter que sair e passei as noites em claro tentando me livrar das marcas de Jeon sobre meu pescoço.

Tudo estava indo bem. Exceto por Taehyung.

- Chegou tarde hoje – Gwen apareceu ao meu lado sem que eu percebesse, me assustei mais do que deveria. – Você está com a mesma cara do meu sobrinho de quando apronta alguma coisa, Alex. O que você fez?

- Eu? Ainda nada, mas confesso que estou pensando em colocar alguns piercings na orelha e fazer uma tatuagem de caveira em meu tornozelo.

- Tudo isso para disfarçar a atenção das marcas em seu pescoço? – Riu nasalado, olhando-me com curiosidade, como se eu fosse alguma espécie de jogo. – Eu sou sua melhor amiga, Alex, por quanto tempo você achou que esconderia isso de mim?

- E-eu não...

- Alex, por que acha que eu te dei isso? Gargantilhas da amizade? Isso foi criado com a única função de esconder isso – Gwen abaixou um pouco a sua própria, rosa, e revelou as suas próprias marcas, escondidas por base. Imagino que meu olhar deve ter constrangido a garota. – Não me olhe como se eu fosse uma alienígena, você sai com as pessoas, eu saio com as pessoas, a diferença é que eu sou muito mais inteligente por sair com outra mulher.

- Hani é maluca por sair com você.

- Hani é um amor – seu dedo apontou para mim com um ar intimidador, mas somado com as sobrancelhas franzidas e suas bochechas, ela só pareceu mais adorável. Eu ri. Ela se recompôs. – Foi o Jungkook, não foi?

- Foi o Jungkook o quê? – Hoseok, como uma fênix, surgiu das cinzas. Gwen quis empurra-lo argumentando que era conversa de garota, mas Jung já estava acostumado, de qualquer forma. – Você devia se afastar desse garoto, Alex.

- Deixe a garota se divertir, Hobi – defendeu Gwen. – Ter alguém gostando de nós faz bem, contanto que ele não te magoe, é claro, do contrário eu mesma machuco ele.

Gwen me abraçou de lado e Hoseok continuou com os braços cruzados até Guinevere puxa-lo para nosso abraço desajeitado e ele acabar rindo. Eu tenho muita sorte por ter esses três em minha vida, eu podia contar com eles para tudo – até mesmo se quisesse matar e esconder o corpo de Taehyung.

Cogitei contar a verdade outra vez, as palavras dançavam na ponta de minha língua e tive que enrolá-las para contê-las. Eles não podiam descobrir, não iam entender, principalmente Hoseok; eu enxergava nitidamente seu olhar acusador queimando em minhas costas – costas, sim, porque depois disso ela jamais falaria comigo. E Gwen, o que eu farei com você? Gwen ficaria decepcionada, seus olhos seriam caleidoscópios exalando sua tristeza de vários pontos de vista. Eu não suportaria.

Eu nem quero pensar no que Yoongi diria.

Não posso contar, não ainda. Vou me mudar antes de ter que contar qualquer coisa.

Yoongi estava se alongando no teatro quando eu cheguei. Ele não questionou a gargantilha, pensou que era parte de um figurino, afinal, eu pensara em colocar uma peruca cor-de-rosa antes de vê-lo. Eu não era tão negligente assim. Sentei-me ao seu lado e estiquei minhas pernas, tocar a pontas dos pés conseguia ser tão difícil quanto desemaranhar os nós dos meus pensamentos.

Os prós e contras do UniversoWhere stories live. Discover now