A verdade nunca é uma opção

20 7 17
                                    

Eu confesso que há muito tempo venho pensando em como meus amigos descobririam a bola de neve crescente em que morar com Taehyung vem se tornando. Isso: "descobrir", essa é a palavra certa. Por mais inacreditável que soe, eu não consigo imaginar a mim mesma dizendo isso para meus amigos: a verdade – tão simples e ao mesmo tão impossível de ser revelada.

O primeiro cenário que eu imaginei foi quando eu havia dormido na casa de Gwen, logo depois do musical. Naquele dia, eu havia levado algumas roupas que não me servem mais para ver se ela as queria; eu sabia que no fundo elas se tornariam cortinas como da última vez, mas se isso deixaria a garota feliz, estava feliz por ela.

- Você só pode estar brincando – comentou levantando a peça de roupa sobre a bolsa. – Eu lhe dei esse cropped no ano passado, edição limitada! O que raios aconteceu com ele?

- Ainda não sei mexer com a nova máquina, ela o estragou... – essa foi a minha resposta.

- Você não irá acreditar, mas eu vou dizer mesmo assim: se lembra de Kim Taehyung? Ele mesmo, o único que conhecemos; ele está morando comigo há um mês. Sabia que você faria essa cara, mas não se assuste, não é porque queremos, você sabe que essa seria a última coisa que eu gostaria agora... Foi um golpe, um golpe de contrato. Nós alugamos o mesmo apartamento, simples assim. Quero dizer, em tese. Por que eu estou te contando tudo isso e agora? Bem, essa é a explicação para o porquê desta roupa estar esgarçada: Taehyung. Indo direto ao ponto, houve uma fase de nosso relacionamento conturbado em que ele, para se vingar de algo bizarro que colocou em sua cabeça, passou a usar algumas de minhas roupas. Ele começou leve, roupões, camisas que eu roubei de Namjoon, e depois, bem, esta foi a última peça. Não teria me surpreendido se o visse com um sutiã amarrado na cabeça como um capacete.

Essa era a resposta que eu queria ter dado, desse jeito mesmo: sem pausas para respirar, reflexões prolongadas ou qualquer coisa que pudesse fazer com que eu pensasse sobre os absurdos reais que eu estava declarado em público. Eu sei que eu voltaria atrás se isso acontecesse.

Não me recordo da segunda, terceira ou sexta vem em que cogitei dizer a verdade para poupar o Universo de outra mentira bem contada, mas lembro da última delas, a mais recente. Esta data de quando eu resolvi me aproximar de Kim Taehyung, dar uma chance para o pequeno e trêmulo resquício do que um dia pode ter sido uma luz: quando Hoseok e Yoongi questionaram meu uso incomum de uma semana de roupas em tons de vermelho e rosa. Foi fácil me livrar dessa porque tudo que eu tive que fazer foram pequenas alterações de concordância e trocar o sujeito da frase: "Kim inventou de lavar as roupas para me agradar e tingiu minhas camisas brancas com as suas coloridas".

A questão é que eu já havia tentando me preparar para o inevitável, isto é, para quando um deles descobrisse tudo; mas eu definitivamente não estava pronta para encarar o tipo situação em que eu conto a verdade para Min Yoongi após ele encontrar um Kim Taehyung seminu acabando de sair do banheiro do meu apartamento, até então, vazio.

Nesse ínterim fracionado, um olhar de pânico e um inclinar de cabeça bastaram para que Kim entendesse o que estava acontecendo. Além do olhar de pânico espelhado, não sei dizer quais os eventos que se sucederam dentro do apartamento pelos segundos seguintes.

- O que está fazendo? – Bati a porta com um pouco mais de força do que o planejado, isso não assustou apenas Yoongi como talvez todo o andar. – O que está esperando? Vamos entrar!

- Eu reparei que tem algumas coisas minhas jogadas pela casa e fiquei envergonhada – tentei dizer sem gaguejar. – Pensei em entrar primeiro e arruma-las, como eu disse, não estava esperando visitas.

Os prós e contras do UniversoWhere stories live. Discover now